Reeleito, João Campos reconhece que ainda há muito a fazer pelo Recife no segundo mandato
Em entrevista ao Sistema Jornal do Commercio de Comunicação, prefeito reeleito do Recife falou sobre obras, relação com Raquel Lyra e secretariado
O prefeito reeleito do Recife João Campos (PSB) concedeu entrevista ao Sistema Jornal do Commercio de Comunicação nesta quinta-feira (10) e detalhou planos que considera prioritários no segundo governo, que começa em janeiro de 2025.
O socialista contou que tem planos para intensificar os trabalhos nas áreas de risco dos morros do Recife, além de melhorias na área da saúde e aumento no número de vagas de creches.
Na visão de João, o segundo mandato será um momento para consolidar o que foi feito nos primeiros quatro anos de gestão e trazer inovações para os projetos que serão realizados a partir do ano que vem.
“Nós tiramos 10 mil famílias de situação de risco nas áreas de morro, um volume de quase meio bilhão investidos na proteção de encostas, de drenagem, escadarias. Quando a gente olha, ninguém nunca fez isso em quatro anos. Mas a gente tem mais 10 mil [famílias] para poder fazer”, contou João Campos.
“Quando a gente olha a expansão de vagas de creches, a gente duplicou, mas a gente ainda precisa triplicar, porque ainda tem crianças que não têm vaga em creches na cidade. Quando a gente olha a cobertura de atenção básica, nós expandimos em 20%, chegando a 80% de cobertura, isso cria uma proteção e uma sobrecarga na média e alta complexidade. Então a gente precisa criar um equipamento específico para isso, como a central de diagnóstico de imagem”, detalhou o prefeito.
Em relação à saúde, o prefeito também reconheceu que é preciso contratar mais profissionais para atuação nas unidades de saúde, mas afirmou que é preciso cautela para que essa expansão seja feita com controle de qualidade do serviço prestado.
Centro do Recife
Um dos pontos mais debatidos durante o período eleitoral, a revitalização do centro do Recife também foi pauta da entrevista. João defendeu que a prefeitura vem fazendo ações de curto prazo, por meio do Recentro, que faz ativações culturais e esportivas, além de projetos a médio e longo prazo, como a concessão de incentivos fiscais da prefeitura para revitalização de imóveis.
O prefeito relativizou a situação afirmando que os desafios dos centros históricos não são exclusivos do Recife, afirmando que os problemas também acontecem em Salvador, Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro.
“É preciso urgente uma estratégia nacional. Não adianta só os municípios fazerem. Esse é o primeiro passo, com crédito mais barato para investir no centro, e a gente ter diretrizes para agilizar o licenciamento”, apontou.
João também afirmou que outro passo importante para a melhoria da região é ampliar o número de moradias no centro da cidade. Uma das ações previstas para incentivar esse movimento é a remissão das dívidas imobiliárias dos imóveis da região central da capital.
“Se você for vender o imóvel, a gente perdoa a dívida, e se solicitar o alvará para construir alguma coisa, a gente perdoa a dívida. Pega um prédio da Avenida Guararapes, nesse prédio alguém diz ‘aqui a gente vai fazer 150 apartamentos’. Você construindo os 150 para moradia, a prefeitura vai lhe dar um adicional para construir em outra área da cidade”, detalhou João.
Orla requalificada
Durante a conversa, o prefeito afirmou que recebeu a prefeitura, em 2020, com uma gestão equilibrada, mas houve o desafio da pandemia, em que houve alto custo com a saúde e uma redução da movimentação econômica. O gestor, porém, afirmou que o Recife nunca teve dificuldade financeira.
Durante a entrevista, ele afirmou que os 11 quilômetros de extensão que contemplam as praias de Boa Viagem, Pina e Brasília Teimosa devem ser requalificados até 2025. A execução da obra conta com investimento de cerca de R$ 100 milhões e tem prazo de 18 meses.
A entrega deve ser feita em etapas, segundo contou João, tendo início na divisa com Jaboatão dos Guararapes e seguindo por toda a extensão. “Vamos ter, a partir do início do ano que vem, o cheiro da nova orla no ar. De 4 em 4 meses tem uma etapa inaugurada”, destacou Campos.
“São vários componentes que vão fazer a diferença, como a correção da ciclofaixa, que tem muita curva, o crescimento exponencial da iluminação e a parte de água e esgoto. A orla do Recife não tem sistema de água nem de esgoto no trecho dos quiosques, e vamos ter agora, em toda a orla, água tratada e tratamento de esgoto”, celebrou João Campos.
O prefeito prometeu, ainda, a instalação de mais de 30 chuveiros e um estudo do novo perfilamento da orla, que prevê uma solução para conter o aumento do nível do mar.
Trânsito e morte de ciclistas
Questionado sobre o problemático trânsito da cidade, João afirmou que o problema é complexo, mas que um dos planos previstos para a cidade está em desenvolvimento a partir de um estudo realizado pela prefeitura junto a especialistas da Universidade Federal de Pernambuco.
Segundo o prefeito, a ideia é localizar avenidas e ruas em que é possível fazer pequenos pontilhões para otimizar a mobilidade dos bairros e, em consequência, das grandes avenidas. “Já temos 30 intervenções desenhadas que estamos chamando de ‘mobilidade dos bairros’”, disse João, citando como exemplo obras em Setúbal e na Rua Amélia, nas Graças.
O prefeito também prometeu um conjunto de obras no bairro do Ibura que, segundo ele, eliminará problemas históricos na região, como os frequentes alagamentos. João classificou o bairro como a área da periferia com a situação mais crítica da cidade no que diz respeito à mobilidade urbana.
Uma das promessas é de construir uma via elevada na Avenida Dom Helder, com um bolsão na parte de baixo, responsável por acumular águas e evitar inundações na Avenida Recife. Ele também afirmou que pretende duplicar a ladeira da Cohab, com início das obras previsto para 2025, e melhorias no cruzamento da avenida Dois Rios com a Xingu.
João não informou o valor que será investido na região, mas contou que o recurso já está garantido, o projeto está pronto e o prazo de conclusão é de 18 meses a partir do início.
“Grande parte dessas obras são pequenas obras, de R$ 2 ou R$ 3 milhões, que para um município não é tanta coisa, e que ajuda uma região inteira. Esse pacote do Ibura é muito importante”, disse o prefeito.
Questionado sobre as recentes mortes de ciclistas atropelados no trânsito da cidade, João afirmou que prevê a expansão das ciclofaixas no município e a ampliação da fiscalização de trechos críticos, visando impedir especialmente a invasão das áreas destinadas aos ciclistas. Ele também disse contar com o respeito dos motoristas frente aos usuários de bicicletas.
Relação com Raquel Lyra
Ainda na entrevista, João afirmou que recebeu um telefonema da governadora Raquel Lyra (PSDB) no último domingo (6), após ser reeleito no Recife. Segundo ele, a tucana colocou o governo de Pernambuco à disposição da prefeitura da capital.
"Ela [Raquel Lyra] ligou no dia da eleição e disse que o governo de Pernambuco está 100% à disposição da cidade do Recife. Eu agradeci a ela pela ligação e espero que isso possa ser devidamente cumprido", disse João.
O prefeito afirmou ser natural manter diálogo com a governadora do estado, mesmo estando em um grupo político diferente.
"As pessoas sabem que eu faço um grupo diferente do grupo político da governadora. Nós temos posições políticas diferentes, mas isso não pode nos impedir de dialogar a favor do Recife. O que for bom para o Recife eu vou ser o primeiro a me posicionar de imediato para ajudar. Eu defendo o diálogo e pratico. Vejo isso como natural", declarou João.
Questionado se teria o sonho de ser governador do estado, João Campos tergiversou, repetindo a estratégia adotada no período eleitoral.
"Eu aprendi a viver um dia de cada vez. Meu sonho é ser o melhor prefeito da história do Recife, o que mais trabalhou, que mais esteve na rua. Acabei de passar por um processo eleitoral. A partir do momento em que fui eleito com 78% dos votos, sou muito grato aos 725 mil recifenses que votaram em mim, mas eu passo a ser prefeito para todos. Meu palanque foi desmontado. Se você não gosta de João, acha ele chato, não importa, eu vou governar para todo mundo", declarou.
Vice-prefeito e secretariado
O início do segundo mandato de João Campos também deve ser marcado por mudanças no secretariado. O gestor declarou que essas alterações são naturais e devem ser vistas como uma reoxigenação da gestão.
"É natural que ao final de um primeiro governo, no final do ano, ajustes sejam feitos no secretariado, isso é algo natural do processo. Então, você vê todas as gestões que têm êxito em uma reeleição, tentam construir uma reoxigenação, para intensificar tudo que dá certo e puder acelerar ainda mais. Você fazer o famoso jogo de cadeiras, você misturar as pessoas e reposicionar é algo natural e que naturalmente deve acontecer", completou João.
Ele também falou que vai tentar manter o compromisso de paridade de gênero nos cargos de liderança.
"O nosso compromisso, tanto em 2020 quanto neste ano, é das posições de liderança. Se você imaginar de gerente para cima, gerente, superintendente, gerente geral, secretário executivo, diretor, secretário, você tem paridade nesse volume total e nós conseguimos isso do início ao fim", afirmou.
Sobre o vice-prefeito eleito, Victor Marques (PCdoB), João afirmou que Victor conhece como ninguém toda a gestão do município e está preparado para assumir o cargo no início de 2025.
"Ele esteve ao lado durante toda minha trajetória política, tanto como chefe de gabinete no período que eu fui deputado federal, como também na minha campanha de 2020, como chefe de gabinete da prefeitura. E ele ocupa uma função muito equilibrada entre a gestão e a política. Então, se tem alguém que conhece a prefeitura e o funcionamento dela como ninguém, é ele", disse.