"Advogar em Pernambuco está difícil"; Ingrid Zanella diz que valorização do advogado autônomo será prioridade em sua gestão na OAB-PE

A presidente eleita da OAB-PE, Ingrid Zanella, participou de entrevista na Rádio Jornal nesta terça-feira (24) e falou de propostas da sua gestão

Publicado em 24/12/2024 às 14:37
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Após 93 anos de história, a Ordem dos Advogados do Brasil em Pernambuco (OAB-PE) terá, pela primeira vez, uma mulher na presidência.

Eleita com 47,82% dos votos, totalizando 11.441 eleitores. A advogada Ingrid Zanella vai assumir o cargo com uma série de desafios que precisam ser enfrentados na advocacia do Estado.

Em entrevista exclusiva ao Programa Passando a Limpo, da Rádio Jornal, Ingrid detalhou seus planos de gestão e os principais obstáculos que enxerga no exercício da advocacia em Pernambuco.

 

"Gestão para todos os advogados"

Questionada sobre as principais bandeiras de sua gestão, Ingrid afirmou que sua prioridade será valorizar a advocacia autônoma e garantir que os profissionais do interior do estado tenham acesso às mesmas condições de trabalho que os da capital.

“Nós precisamos levar tecnologia ao interior do estado. Não dá mais para permitir que advogados e advogadas enfrentem dificuldades simplesmente por estarem longe dos grandes centros. Isso envolve tanto acesso à internet de qualidade quanto a equipamentos e capacitações que os coloquem em pé de igualdade”, disse.

Outro ponto destacado foi o combate à morosidade do Judiciário, um problema que, segundo ela, compromete diretamente a dignidade da profissão. "Não tem como a gente negar que advogar em Pernambuco está difícil e no Brasil também não é?", destacou.

Ingrid Zanella compartilhou sua perspectiva sobre a necessidade de uma relação construtiva entre advogados e tribunais em Pernambuco, ressaltando a importância da celeridade processual e do acesso aos autos:

"A gente sempre teve uma relação construtiva com os tribunais, né e fomos ao CNJ todas as vezes que foram necessárias para garantir as prerrogativas de advocacia. Seja acesso aos autos, seja celeridade processual, seja despacho. Então nós queremos instituir e desenvolver uma relação que resolva ou busque resolver as questões enfrentadas pela Advocacia no nosso estado."

Já marcamos, já estou buscando em janeiro fazer uma reunião de trabalho com os tribunais, apresentar algumas faltas, escutar, entender como podemos trabalhar de forma colaborativa, porque o intuito de todos os poderes é se unir com um propósito de efetivação e de acesso à justiça."

Honorários

Entre as medidas destacadas por Zanella, está a criação da Procuradoria de Defesa de Honorários, que permitirá à OAB atuar diretamente em processos judiciais na defesa dos honorários dos advogados e advogadas.

"A gente sabe que honorário é um dos pontos mais sensíveis na vida do advogado e da advogada. Queremos criar essa procuradoria para que a OAB consiga participar, dentro do processo, na defesa dos honorários", afirmou.

Outra proposta é a realização de um mutirão de expedição de alvarás já em janeiro de 2025. "Nós queremos solicitar que haja um mutirão para garantir esse recebimento célere e tempestivo para os advogados e advogadas do estado de Pernambuco", explicou.

Também está nos planos a criação de uma Central de Celeridade Processual, com o objetivo de "dialogar e trazer medidas efetivas que possam mudar de fato a vida da advocacia do nosso Estado", segundo ela.

Lista do quinto constitucional 

Durante a entrevista, a advogada foi questionada sobre lista sêxtupla do Quinto Constitucional do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), que precisou ser revisada para atender critérios de paridade de gênero e considerar as cotas raciais.

"Eu acredito que essa questão já deve ter sido tratada pelo presidente da OAB em exercício. Eu só vou tratar sobre esse tema a partir do próximo ano, quando vou traçar medidas em acordo com toda advocacia do Estado", respondeu Ingrid, destacando que terá suas "próprias ações".

Presidentes das comissões da OAB-PE

Da mesma forma, quando perguntada sobre as comissões da Organização, que hoje são os braços da instituição, Ingrid se voltou para 2025.

"Nós não definimos ainda todas as presidências das comissões, até porque a gente só toma posse em janeiro, então tô dialogando com com vários advogados e advogadas, mas a gente só vai fazer essas nomeações a partir de Janeiro", enfatizou.

Representatividade feminina

Sobre o significado de ser a primeira mulher eleita presidente da OAB-PE, Ingrid destacou que este é um marco não apenas pessoal, mas também para a advocacia como um todo.

Sendo esse um dos principais motes de sua campanha durante as eleições, a advogada portuária voltou a falar sobre o assunto hoje.

"Eu não quero ser a única ocupar espaços, eu quero mais advogadas e mulheres ocupando comigo e eu tenho certeza que esse é um anseio de todos e todas de advogados e advogados", explicou.

Uma das metas de sua gestão será aumentar a representatividade feminina dentro da entidade “Também vou ter esse cuidado para possibilitar que todas as barreirassejam superadas. Então eu quero realmente que a gente consiga nomear mulheres para cargos em comissão que nunca foram ocupados por advogadas", ressaltou.

Além disso, Ingrid destacou que pretende instituir ações de combate ao assédio às mulheres advogadas de Pernambuco. "A gente vai ampliar o núcleo de defesa das prerrogativas da mulher advogada do Litoral ao Sertão, possibilitando que ela se sinta protegida e possa realizar o seu trabalho de forma, independente".

 

Ingrid Zanella: “Levar tecnologia ao interior é fundamental. Também vamos investir em formações continuadas e criar espaços de escuta ativa, para que as necessidades locais sejam conhecidas e atendidas com agilidade”.

Instituição de Procuradoria de Direitos Humanos

Em resposta a uma pergunta sobre a situação dos presos em Pernambuco, Ingrid Zanella destacou as dificuldades enfrentadas pelos detentos, muitos dos quais permanecem sem condenação e sem acesso aos seus direitos.

Zanella, então, apresentou a criação de uma procuradoria de direitos humanos como uma das propostas de sua gestão para garantir o acesso à justiça, afirmando: "Nós aqui, nessa gestão, queremos instituir uma procuradoria de direitos humanos, porque a gente acredita que o papel da OAB é democrático e amplo."

Ela também propôs mutirões para audiências de custódia, com o apoio das comissões de direito penal e processo penal. "Queremos que a OAB seja um braço forte da democracia do nosso estado, como sempre foi historicamente", concluiu.

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