Quando foi questionado no início da semana se estaria deixando o cargo de vice-presidente do Santa Cruz, o advogado André Frutuoso respondeu da seguinte forma: "Estamos conversando sobre esse assunto, mas a chance de continuar é de 5%". Sentíamos na sua resposta um tom triste, pois a saída não estava nos seus planos. Principalmente dessa forma. Frutuoso não renunciou. Mas pediu licença de 180 dias e não tem a menor intenção em voltar. E a sua saída do Santa Cruz tem um peso enorme não apenas para o clube, mas para o futebol pernambucano. A violência está vencendo.
André Frutuoso está fora do Santa Cruz porque foi alvo de vandalismo. Como, ultimamente, as pessoas costumam esquecer do passado recente, é importante lembrar: o escritório do advogado, no bairro do Espinheiro, foi apedrejado por integrantes de uma torcida organizada. Em pleno horário de funcionamento, com funcionários e outras pessoas que nada têm a ver com futebol. Um absurdo incomensurável. E nada foi feito. Nada. O único ato ocorrido após essa violência foi exatamente a decisão de Frutuoso em sair do clube.
Os vândalos foram ao bairro do Espinheiro com esse propósito: pressionar o dirigente a sair do Arruda usando a violência e o medo. Conseguiram. Antes, o presidente do conselho deliberativo, Mário Godoy, fez o mesmo. O motivo: recebeu ameaças pelas redes sociais. Os casos abrem um precedente sem tamanho. E a pergunta "Até quando?" fica sem resposta. E o que mais me impressiona não é apenas o caso em si, mas a falta de atitude de quem faz o futebol em mudar essa realidade. Posso estar enganado, mas eu não vi e nem ouvi dirigente algum, exceto o próprio André Frutuoso, a fazer alguma declaração sobre o caso.
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Em 2014, quando um torcedor morreu nas redondezas do Arruda, atingido por um vaso sanitário arremessado da arquibancada do estádio, achávamos que o futebol pernambucano havia chegado ao fundo do poço. Houve comoção, debates, matérias nos jornais de todo Brasil. Mergulhamos na crise, mas que poderia criar um ressurgimento. Não foi. O que se levou ao pensamento: "não se faz nada porque aconteceu com um anônimo torcedor . Quando ocorrer alguma violência a uma pessoa importante da sociedade, num instante se fazem algo". Pois bem, o agredido, desta vez, foi o vice-presidente do clube. E agora? Pelo visto, tudo está normalizado. E anormal é quem ainda deseja viver um futebol em paz. Apenas isso: PAZ.
As 41 contratações feitas pelo Santa Cruz para a temporada, as dispensas de jogadores que pouco jogaram, os quatro treinadores que assumiram a equipe, o risco de rebaixamento à Série D... tudo ficou pequeno diante do motivo que levou a um dirigente do Santa Cruz a renunciar ao cargo. O que nos leva a acreditar que a violência está travestida nos bastidores do Arruda. O que é algo sério, triste e preocupante.