Pela posição geográfica e história particular, Minas Gerais tem muito a ensinar sobre o turismo em municípios interioranos. Um turista de outro Estado talvez pense automaticamente em Ouro Preto, por exemplo, ao cogitar um passeio. Mas a variedade de destinos é maior, com uma boa diversidade de pontos turísticos e gastronômicos.
Por isso, o Governo de Minas convidou 40 jornalistas e formadores de opinião de todas as regiões do Brasil para viverem experiências em cinco roteiros preparados para este período do ano. O JC foi convidado para o roteiro Território Estrada Real, com um percurso que passa por Santa Bárbara, Catas Altas, Santana do Montes e Tiradentes.
Neste texto, você poderá conferir destaques de uma sinergia entre história, cultura e gastronomia - um tipo união que resulta no grande potencial do turismo.
Santa Bárbara
"Quando o ouro acabou...". Essa certamente é a frase que o turista mais irá ouvir ao visitar essa região, composta por municípios habitados nos primórdios da descoberta do metal precioso no Estado - antes de Ouro Preto, por exemplo.
Santa Bárbara foi fundada em 1704, em uma região onde encontrou-se ouro de aluvião e veios de pedras preciosas. Posteriormente a cidade se tornou importante passagem na rota entre a Corte, no Rio de Janeiro, e as minas do Centro/Norte de Minas Gerais.
No distrito de Brumal, mulheres artesãs dão continuidade a uma tradição de séculos. "Por ser uma região distante, toda casa tinha um tear para confeccionar roupas, mantas e tapetes para famílias. Com a escassez do outro, mulheres começaram a apostar na tecelagem como uma alternativa", explicou o guia Luan Lima Ribeiro.
A Casa das Tecelãs de Brumal reúne diversas associadas que tiram renda da iniciativa, com peças produzidas em teares mineiros de pente, liços e pedais com fios urdidos e resíduos têxteis mixados com os bordados.
Lá é possível comprar peças que representam a paisagem natural da vila e ainda tomar um café quentinho servido com mesa com biscoito de polvilho. A anfitriã é Margarida Mendes, presidente da Associação das Tecelãs de Brumal.
Catas Altas
No município de Catas Altas, de casario típico do século 18, é possível observar o fenômeno econômico do ouro na Igreja Matriz, erguida a partir de 1729 com arquitetura inspirada nos plebiscitos franceses - o templo também funcionava como Câmara política.
A fuga dos colonos para outras regiões após escassez fica nítida nos detalhes: o teto sequer foi decorado e as pinturas da parede "somem" ao longo da construção.
A economia criativa impulsionada pela falta do metal também resultou na produção de vinho. "Quando aqui ainda era um arraial, a escavação acabou e a população começou a passar fome. Um padre foi transferido para cá e decidiu ensinar o povo a cultivar uvas e começaram a produzir vinho para as festividades da Igreja", conta Jesuína Pereira, responsável pelos vinhos "Aluar".
A bebida é produzida com jabuticaba, fruto abundante na região. "Desde 1949 existe vinho de jabuticaba por aqui. Estamos lutando para que a bebida seja registrada como vinho", conta a empreendedora. O "Aluar" tem vinhos de tipos suave, seco e branco, além de geleias.
A jabuticaba ainda está presente no molho de uma costela de porco do La Violla Restaurante e Cervejaria - a combinação é imperdível.
Ainda na área gastronômica, é possível visitar o apiário caseiro Flor de Mel, empreendimento de Ronaldo Júnior no município de São Lourenço. Os visitantes podem explorar o processo de produção, entender o funcionamento das colmeias e degustar diferentes variedades desse néctar - silvestre, aroeira, candeia, velame, copaíba, mel maturado e borá.
Serra do Caraça (em Catas Altas)
Localizado ainda em Catas Altas, o Santuário do Caraça (na Serra do Caraça) constitui uma localização "obrigatória" para quem vai ao circuito da Estrada Real. A história do local é surpreendente, começando como uma igreja neogótica fundada em 1774 por um nobre português que fugiu da condenação de morte na Europa e manteve a sua identidade em segredo em Minas.
Em 1820, o espaço passou a abrigar um tradicional colégio que chegou funcionou até o século 20, quando sofreu um incêndio nos anos 1960. Por lá estudaram figuras como o presidente Juscelino Kubitschek.
Hoje, é possível se hospedar nas acomodações e desfrutar de uma rota de trilhas com diversas cachoeiras, incluindo o "Banho do Imperador", que D. Pedro II desfrutou. Pela noite, uma família de lobos costuma aparecer defronte ao Santuário. Eles já se tornaram símbolo local.
Santana dos Montes
Localizada a 3 horas de Catas Altas, Santana dos Montes é um simpático município interiorano com fazendas e pousadas para quem busca momentos de conforto rural em meio a uma atmosfera arquitetônica colonial.
Lá existe a Pousada dos Montes, em um belo solar que preserva traços do século 18; o Hotel Fazenda Paciência, erguido em 1742 no intrigante Pico da Paciência, com altitude de 1120 metros; ou Hotel Vila do Tanque, fazenda fundada em 1863.
Também é possível conhecer uma iniciativa que preserva uma tradição musical de séculos em Minas: a viola. A Escola de Violeiros Chico Lobo foi fundada em 2005 após visita o musicista na cidade e hoje conta com apoio municipal.
"Houve um tempo em que a viola caiu no esquecimento, sendo preservada apenas por conta da Folia de Reis. A escola foi tomada como patrimônio imaterial do Estado, pois perceberam como muitas crianças estavam tendo contato e continuando a tradição", diz Rogério Rodrigues de Castro, coordenador do espaço.
"Já recebemos muitas visitas durante as aulas. Lá também temos um memorial que conta a história da viola. Também fazemos iniciações todas as quintas-feiras, das 14h às 18h."
Tiradentes
Deste roteiro, Tiradentes talvez seja o destino mais conhecido. Com arquitetura barroca, ruas pedra, casarões coloniais e igrejas bem preservadas, a cidade tem vários pontos turísticos, como Igreja Nossa Senhora do Rosário e o Museu de Sant’Ana.
Contudo, um pedida cada vez mais consolidada por lá é a vinícola Luiz Porto, um dos destaques no cenário de vinícolas de Minas Gerais, conhecida pela produção de vinhos de alta qualidade.
Localizada em um galpão arrojado, a vinícola utiliza técnicas modernas e cuidados artesanais. Os visitantes podem conhecer todo o processo de produção e provar degustações que destacam o sabor característico de cada vinho.
"No clima tropical de altitude do sul de Minas Gerais, a gente nunca conseguiu produzir uva fina de qualidade por conta do clima extremamente chuvoso e a umidade relativa do ar. Porém, invertemos o ciclo através de uma técnica de dupla poda, produzindo a uva no inverno", explica Luiz Porto Junior, responsável pela vinícola e natural de Cordislândia.
Ao longo de todo ano, Tiradentes é palco de diversos eventos e festivais temáticos, como os de cinema, gastronomia, fotografia, teatro, jazz e design.
Outros roteiros
O Governo de Minas Gerais também traçou outros quatro roteiros na campanha "Inverno em Minas". São eles:
- Território dos Vinhos, que passa por Três Pontas, Caldas, Andradas e São Gonçalo do Sapucaí;
- Território Sul de Minas, em Extrema, Gonçalves e Monte Verde;
- Território Serra da Canastra/Mar de Minas, que explora São João Batista do Glória, São Roque de Minas e Vargem Bonita;
- Território Espinhaço/Diamantes, em Diamantina, São Gonçalo do Rio das Pedras, Milho Verde e Serro.
Até 22 de setembro, encerramento oficial do inverno, estão previstas mais de 500 ações em todo território, destacando seus atrativos naturais e culturais, e em especial, a comida mineira e seus pratos típicos dessa época.