A Associação Nacional de Juristas Evangélicos (Anajure) apelou a pastores e igrejas para que, "por solidariedade cristã e em nome do espírito coletivo", se sujeitem às determinações e recomendações de governos e não realizem cultos presenciais, reuniões religiosas ou eventos públicos durante a pandemia do novo coronavírus. A polêmica foi acendida pelos pastores Silas Malafaia e Edir Macedo, que defendem que as igrejas sejam mantidas abertas durante a quarentena.
"A Anajure pede à comunidade evangélica que continue seguindo as recomendações do poder público com relação ao isolamento social, ainda que algumas delas sejam questionáveis do ponto de vista constitucional", apelou a entidade, em nota. "A resistência por parte de alguns grupos religiosos, ainda que em pequeno número, demonstra desconexão com a gravidade do contexto enfrentado pelo País e falta de compaixão por seus fiéis, vez que os coloca em perigo e eleva o potencial de proliferação da doença, inclusive, no meio de grupos de risco, como os idosos."
O Ministério da Saúde afirma que os templos podem permanecer abertos para assistência ou orações individuais, mas orienta que não promovam cultos e quaisquer atividades com aglomeração. A associação diz ser "prudente" usar meios de comunicação virtuais para cultos, aulas e seminários teológicos, além de sugerir o trabalho em casa aos funcionários administrativos das denominações.
Houve igrejas que adotaram alternativas, como a transmissão dos cultos na TV e internet, adiaram grandes eventos e estimularam a realização de cultos domésticos. Porém, a insistência de pastores em manter cultos que reúnem centenas ou milhares de pessoas, o que contraria as orientações de autoridades públicas de saúde e sanitárias, levou a entidade a publicar duas notas sobre o caso nos últimos cinco dias.
Uma das que adotou medidas de afastamento dentro dos templos, mas manteve as reuniões foi a Igreja Universal do Reino de Deus, do bispo Edir Macedo. Também houve resistência por parte do pastor Silas Malafaia (Assembleia de Deus Vitória em Cristo), que só suspendeu os cultos presenciais no dia 19.
O Vaticano orientou as dioceses que estejam em emergência sanitária pela covid-19 a manter missas sem fiéis mesmo durante a Semana Santa e transferir as tradicionais procissões para setembro. Sob consultas, a Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos destacou que a festa da Páscoa não pode ser transferida de data.
Em relação ao tríduo pascal, que começa na Quinta-Feira Santa, a orientação é para que "mesmo sem a participação dos fiéis, o bispo e os párocos celebrem os mistérios litúrgicos, avisando os fiéis da hora de início de modo a que se possam unir em oração nas respectivas habitações". E ainda se estimula o uso das redes sociais.
Prevê-se especificamente para a Sexta-Feira Santa que "na oração universal, o bispo diocesano terá o cuidado de estabelecer uma intenção especial pelos doentes, pelos defuntos e por aqueles que sofreram alguma perda" por causa da covid-19.
Metade das dioceses paulistas já adotou restrições. As procissões tradicionais de Domingo de Ramos e da Sexta-Feira Santa poderão ser transferidas para outras datas.
"É muito fácil ficar com a bunda sentada na cadeira, escrevendo asneira e ficar atacando tudo", foi assim que o pastor presidente da Igreja Assembleia de Deus - Vitória em Cristo, Silas Malafaia, começou o seu discurso nas redes sociais. O líder evangélico voltou a falar sobre um assunto que tem sido muito polêmico nos últimos dias: a manutenção das igrejas abertas em meio à pandemia do novo coronavírus. "Eu vou provar que eu estou 100% certo. Nada como um dia após o outro", apontou Malafaia.
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O pastor falou que Deus tem dado a ele discernimento, mesmo com suas "limitações" e "mediocridade". Silas não mencionou somente a religião evangélica, mas disse que as demais "têm um tratamento diferenciado na Constituição Brasileira".
De acordo com Malafaia, o fechamento das igrejas em tempos de coronavírus poderia provocar facilidade na interdição das instituições religiosas no futuro, caso ele não se manifestasse. "Sabe o que ia acontecer depois disso? Se eu não me manifesto? Qualquer prefeito ou governador que quisesse fechar igreja, qualquer coisa, se acharia no direito. O que aconteceu? Eu provoquei a Justiça para ela se posicionar, e o que a Justiça falou? 'Para o culto, mas não fecha a igreja'", ressaltou.
A autoridade religiosa revela que o seu posicionamento não é para defender a permanência dos cultos, mas defender que a igreja esteja aberta para que as pessoas possam receber atendimentos espirituais. "A Justiça reconhece que a igreja é um hospital espiritual e emocional", disse.
Os atendimentos pastorais na sede da Vitória em Cristo, que fica no Rio de Janeiro, foram ampliados por Malafaia, acontecendo de segunda à sexta-feira, das 9h às 21h, no sábado, das 9h às 12h, e no domingo, às 10h e às 18h.
Silas afirmou em seu vídeo que várias pessoas procuraram a sua denominação, no último domingo (22), dia que a igreja tem bastante movimento. O pastor explicou que os fiéis estavam com "pânico, medo e pensamentos de suicídio" e mandou um recado para líderes religiosos que fecharam as suas igrejas por causa da pandemia. "Lamento o pastor que trancou tudo na igreja. Desobediência civil 'uma vírgula'! Desobediência às leis é o que os prefeitos e alguns governadores queriam. Tudo o que foi dado na Justiça, nós provocamos. Tá lá o meu nome e a minha igreja", destacou.
Já no final do vídeo, Silas Malafaia trouxe à tona a importância da obediência às 'autoridades espirituais'. A fala vem depois de discursos polêmicos feitos por ele e pela vocalista da banda Diante do Trono, Ana Paula Valadão, que incentivou, na semana passada, os fiéis a evitarem a presença em cultos religiosos no período de quarentena, dizendo que "Deus não deu uma mente desequilibrada". O pastor mandou ainda um recado para os "irmãos em Cristo": "Quando você não tiver uma coisa boa para falar, fica queto. Aprenda a respeitar a unção e a autoridade espiritual. Você está tão preocupado em socorrer as pessoas? Vem aqui correr risco para atender gente agora. Vai plantar batata! Vai ver se eu estou na esquina, bando de fariseu! Está falando, mas não se dispõe a ajudar pessoas", concluiu.
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Coronavírus é uma família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus foi descoberto em 31/12/19 após casos registrados na China.Os primeiros coronavírus humanos foram isolados pela primeira vez em 1937. No entanto, foi em 1965 que o vírus foi descrito como coronavírus, em decorrência do perfil na microscopia, parecendo uma coroa.
A maioria das pessoas se infecta com os coronavírus comuns ao longo da vida, sendo as crianças pequenas mais propensas a se infectarem com o tipo mais comum do vírus. Os coronavírus mais comuns que infectam humanos são o alpha coronavírus 229E e NL63 e beta coronavírus OC43, HKU1.
O Ministério da Saúde orienta cuidados básicos para reduzir o risco geral de contrair ou transmitir infecções respiratórias agudas, incluindo o coronavírus. Entre as medidas estão:
Para a realização de procedimentos que gerem aerossolização de secreções respiratórias como intubação, aspiração de vias aéreas ou indução de escarro, deverá ser utilizado precaução por aerossóis, com uso de máscara N95.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) disse na última quarta-feira (11) que a epidemia de Covid-19, que infectou mais de 110.000 pessoas em todo mundo desde o final de dezembro, pode ser considerada uma "pandemia", mas que pode ser "controlada".
"Estamos profundamente preocupados com os níveis alarmantes de propagação e de gravidade, bem como com os níveis alarmantes de inação" no mundo, declarou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, em entrevista coletiva em Genebra.
"Consideramos, então, que a Covid-19 pode ser caracterizada como uma pandemia", afirmou.