A ocupação dos leitos de UTI para pacientes do coronavírus já é superior a 70% em ao menos seis Estados. A situação é registrada em Espírito Santo, Pará, Ceará, Amazonas, Pernambuco e Rio - nesses dois últimos, a taxa passa de 90%, considerada de saturação por especialistas. Com o avanço da doença, governos correm para levantar hospitais de campanha e ampliar o número de vagas. Médicos e gestores dizem que a pandemia ainda não teve seu pico no Brasil, o que deve elevar a pressão sobre os hospitais.
>> Saiba tudo sobre o coronavírus
Em 40 dias, Pernambuco abriu 348 leitos de UTI para pacientes com a doença, e, segundo a gestão estadual, dez novas vagas têm sido ofertadas por dia, em média. Mesmo assim, anteontem, a taxa de ocupação dos leitos abertos para covid-19 no Estado já era de 96%.
Secretário da Saúde de Pernambuco, André Longo atribuiu a saturação à falta de isolamento social. "Reconhecemos que a situação dos nossos serviços de saúde é muito difícil, porque as pessoas estão adoecendo ao mesmo tempo. Era um alerta que fazíamos desde o início. A falta de maior isolamento social, na casa dos 70%, tem feito pernambucanos adoecerem, procurarem os serviços de saúde ao mesmo tempo e isso tem levado à sobrecarga " Longo afirma ainda já haver fila por vaga em UTI. De acordo com ele, os "profissionais de saúde estão tendo de tomar opções sobre quem levar primeiro para terapia intensiva".
>> Pernambuco prorroga decreto de medidas restritivas por coronavírus; veja o que segue fechado
>> Com 682 novos casos, Pernambuco tem maior registro diário de coronavírus
Também sobrecarregado, o Rio abriu 287 leitos de UTI específicos para pacientes suspeitos ou confirmados. E quase todos (94,8%) já estão ocupados, segundo a Secretaria da Saúde. Considerando não só os leitos específicos para coronavírus, mas sim toda a rede de saúde estadual do Rio, a taxa de ocupação dos leitos de UTI já está em 85%, e vem crescendo rapidamente. Há pouco mais de duas semanas, diz a pasta, a taxa era de 63% e há uma fila de 369 pacientes (leia mais ao lado). O Rio prevê abrir, no início de maio, um hospital de campanha com 400 leitos no Maracanã - 80 de UTI. Outros 1,4 mil devem ser abertos gradualmente.
Primeiro a ver seu sistema de saúde colapsar e cenário das centenas de enterros em valas coletivas, a Secretaria de Saúde do Amazonas informa não ter dados de leitos de UTI de toda a rede estadual - sintomático em um País que enfrenta larga subnotificação de casos. Em Manaus, 89% dos leitos para covid-19 estão em uso. O governador Wilson Lima (PSC) disse que iria endurecer as regras de isolamento social na tentativa de frear o surto.
Com 87% de ocupação, o Ceará prevê a criação gradativa de 403 novas vagas, conforme a compra de equipamentos e disponibilidade de profissionais. Na região de Fortaleza, o cenário é ainda mais grave: 97%.
Em São Paulo, epicentro da doença no País, o índice de ocupação dos leitos destinados exclusivamente a pacientes da covid-19 é de 68,7% - na região metropolitana, o quadro é pior, com 89% de preenchimento e pacientes serão levados para o interior. Nas últimas semanas, o Estado abriu 1.881 leitos de UTI exclusivos para covid-19 no SUS. Também montou três hospitais de campanha no Pacaembu, no Anhembi e no Complexo do Ibirapuera, que será inaugurado nesta sexta-feira, 1. Juntos, eles somam 2.268 leitos, sendo quase todos de baixa e média complexidade.
Dentro dos Estados, a escalada na procura por leitos também cria desafios logísticos. "Pacientes que precisam de UTI estão sendo encaminhados para municípios de referência e já tem fila de espera", diz Wilames Freire, presidente do Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde. "Eles ficam em leitos clínicos semi-UTI, UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) ou hospitais intermediários até sair a vaga."
Professor de Gestão em Saúde da Fundação Getulio Vargas (FGV), Walter Cintra Ferreira classifica como "preocupante" o cenário. "Uma UTI com 90% de ocupação significa que está lotada. Quem tem 90% tem fila porque, quando sai um paciente, o leito tem de ser desinfectado e há um tempo para que seja ocupado. É preciso ter seriedade do governo, principalmente o federal. Não é uma situação que se resolve apenas aumentando leitos nem esperando medicamentos milagrosos."
Um leito de UTI, afirma ele, depende de equipes especializadas e compra de equipamentos, de modo que o foco deveria ser em evitar a propagação da doença e criar alternativas de rápido atendimento dos infectados. "As doenças não são combatidas no hospital, que é o último reduto. Quando chega ao hospital, já está com a batalha meio perdida. Temos de mobilizar a sociedade como um todo para conseguir medidas de contenção da transmissão e ter uma central única de leitos de UTI, públicos ou privados, e uma fila única", afirma Cintra. O Estado mostrou semana passada que a gestão Jair Bolsonaro não tem controle sobre o número de UTIs ocupadas no País.
Em situações normais, a ocupação de 95 a 100% das UTIs faz parte da rotina de hospitais, diz Gonzalo Vecina, professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP) e colunista do Estado. Mas isso deveria mudar na crise. "Trabalhar com ocupação plena dos leitos é normal, porque há rotação; é feito com programação. Na epidemia, nunca se sabe como será o momento seguinte. Estamos na fase ascendente da curva e não chegamos ao pico. Se não cair, será difícil não colapsar o sistema."
Todos os dias, de domingo a domingo, sempre às 20h, o Jornal do Commercio divulga uma nova newsletter diretamente para o seu email sobre os assuntos mais atualizados do coronavírus em Pernambuco, no Brasil e no mundo. E como faço para receber? É simples. Os interessados podem assinar esta e outras newsletters através do link jc.com.br/newsletter ou no box localizado no final das matérias.
Coronavírus é uma família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus foi descoberto em 31/12/19 após casos registrados na China.Os primeiros coronavírus humanos foram isolados pela primeira vez em 1937. No entanto, foi em 1965 que o vírus foi descrito como coronavírus, em decorrência do perfil na microscopia, parecendo uma coroa.
A maioria das pessoas se infecta com os coronavírus comuns ao longo da vida, sendo as crianças pequenas mais propensas a se infectarem com o tipo mais comum do vírus. Os coronavírus mais comuns que infectam humanos são o alpha coronavírus 229E e NL63 e beta coronavírus OC43, HKU1.
O Ministério da Saúde orienta cuidados básicos para reduzir o risco geral de contrair ou transmitir infecções respiratórias agudas, incluindo o coronavírus. Entre as medidas estão:
Para a realização de procedimentos que gerem aerossolização de secreções respiratórias como intubação, aspiração de vias aéreas ou indução de escarro, deverá ser utilizado precaução por aerossóis, com uso de máscara N95.