Nessa quarta-feira (9), Ministério da Saúde confirmou o primeiro caso de reinfecção por covid-19 no Brasil. De acordo com a pasta, o quadro ocorreu em uma profissional da área da saúde, 37 anos, que reside em Natal, no Rio Grande do Norte. Ela teve a doença em junho, se curou, e teve resultado positivo novamente em outubro - 116 dias depois do primeiro diagnóstico. Assim, as análises realizadas permitem confirmar a reinfecção pelo vírus SARS-CoV-2, após sequenciamento do genoma completo viral que identificou duas linhagens distintas.
O relatório que permitiu a confirmação do caso de reinfecção foi recebido pela Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde. O documento veio do Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo da Fiocruz/RJ - Laboratório de Referência Nacional para a covid-19 no Brasil - e continha duas amostras de análise para o coronavírus.
As duas amostras foram enviadas ao laboratório, onde houve a confirmação dos resultados via metodologia de RT-PCR em tempo real. No intervalo entre as duas amostras, foi realizada uma coleta em 8 de setembro de 2020, que apresentou resultado não detectável pela metodologia RT-PCR em tempo real, realizado no Instituto de Medicina Tropical (IMT) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. A amostra não detectável não foi encaminhada ao Laboratório de Referência Nacional.
O Ministério da Saúde alerta que o caso reforça a necessidade da adoção do uso contínuo de máscaras, higienização constante das mãos e o uso de álcool em gel. O Governo Federal está buscando o mais rápido possível a vacina confiável, segura e aprovada pela Anvisa, para que todos os brasileiros que desejarem possam ser imunizados.
Em Pernambuco, segundo os dados da Secretaria de Saúde do Estado (SES-PE), dez casos foram notificados como suspeitos de reinfecção, sendo que um deles já foi oficialmente descartado. No começo de novembro, cinco casos haviam sido anunciados e tiveram seus resultados enviados ao Ministério da Saúde. Os pacientes eram do Recife (4) e de Olinda (1). Eles tiveram o segundo resultado positivo entre três e seis meses após o primeiro exame. Os outros cinco casos eram dois moradores de Olinda e outros três no Sertão: Araripina (1), Carnaíba (1) e São José do Egito (1).
Outros Estados, como São Paulo, Acre, Ceará e Sergipe, têm registrado possíveis casos de segunda infecção pelo novo coronavírus, após terem se recuperado do primeiro episódio da doença. Pelo mundo, os Estados Unidos, Hong Kong, Bélgica, Holanda e Equador já confirmaram casos de reinfecção. Além disso, no último sábado (21), um novo quadro de segundo episódio de covid-19 foi relatado em Seul (Coreia do Sul). Uma mulher de 21 anos teve a doença em dois momentos distintos, num intervalo de 26 dias. O estudo de caso foi publicado na revista científica Clinical Infectious Disease.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) não cita números, mas diz que "até o momento, existem alguns relatos de indivíduos que foram reinfectados pelo novo coronavírus". No site, a entidade ainda destaca ser provável existir mais exemplos de reinfecção relatados e que os cientistas trabalham para entender o papel da resposta imunológica na primeira e na segunda infecção.
O médico Carlos Brito, professor da Universidade Federal de Pernambuco, contextualiza o atual momento de incremento de quadros de covid-19 no Estado com possíveis ocorrências de reinfecção. "Como a doença recrudesceu, observamos que as pessoas estão mais atentas a sintomas do vírus e voltar a atenção para a possibilidade de uma segunda infecção. É importante destacar que a reinfecção é fato confirmado, embora raro, e que pode se manifestar com sintomas mais leves ou mais graves, em comparação com o primeiro episódio", explica. Carlos Brito acrescenta que mais estudos são necessários para ajudar a entender a frequência com que essa condição pode ocorrer.
Outras questões sobre a temática ainda precisam ser respondidas pela ciência, como o tempo em que a reinfecção pode ocorrer após a primeira, a gravidade com que o segundo episódio se manifesta e os grupos mais susceptíveis a um novo adoecimento. "Do ponto de vista epidemiológico, é importante reconhecer que uma pessoa com o vírus pela segunda vez é capaz de transmiti-lo para outros indivíduos", salienta Carlos Brito. Recentemente, ele ministrou palestra sobre o tema durante o 1º Webnário Sul-Mato-Grossense de Covid-19 e chamou a atenção para a necessidade de o sistema de saúde sensibilizar profissionais para suspeitar e investigar caso de reinfecção.
A SES informou que a nota técnica publicada orienta os municípios pernambucanos sobre a notificação dos possíveis casos de reinfecção pelo novo coronavírus. "As cidades ficarão responsáveis pela identificação das suspeitas em seu território e, com isso, notificar ao Estado, encaminhando os laudos dos exames", diz, em nota, a SES. Para confirmar um caso, segundo o governo estadual, é preciso que o paciente tenha duas amostras de biologia molecular (RT-PCR) positivas com um intervalo entre elas de, no mínimo, 90 dias, além de estarem adequadas para análise. Os materiais precisam ser encaminhados, via Laboratório Central de Saúde Pública de Pernambuco, para o IEC. O Ministério da Saúde, de acordo com a SES, divulgará o resultado das investigações.