PANDEMIA

'Meu luto foi luta desde o início', diz assistente social que busca justiça para famílias de vítimas da covid-19

Dez dias após perder a mãe para a covid-19, a assistente social Paola Falceta ligou para o amigo Gustavo Bernardes. Juntos, fundaram, em abril de 2021, a Associação de Vítimas e Familiares de Vítimas da Covid-19

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Estadão Conteúdo

Publicado em 08/10/2021 às 19:04 | Atualizado em 08/10/2021 às 19:21
SUBNOTIFICAÇÃO Infecções causadas por covid-19 não foram diagnosticadas com eficiência - MICHAEL DANTAS / AFP

Dez dias após perder a mãe para a covid-19, a assistente social Paola Falceta ligou para o amigo Gustavo Bernardes. Juntos, fundaram, em abril de 2021, a Associação de Vítimas e Familiares de Vítimas da Covid-19 (Avico Brasil), que oferece assistência psicológica, jurídica e social a sobreviventes da doença e parentes de quem morreu. "Meu luto foi luta desde o início", diz ela. Além de auxílio em reivindicações trabalhistas e previdenciárias, o grupo mira buscar na Justiça reparação pelo que vê como negligência do governo.

Paola acompanhou de perto a morte da mãe, Italira, de 81 anos. Ela, a irmã e o sobrinho foram infectados, mas tiveram sintomas brandos. Já o caso da idosa se complicou. Isolada no hospital, a mãe sentiu o baque. "Ela surtou. Ligava chorando e dizendo que nós tínhamos a abandonado", conta a assistente social, de 46 anos, que também é pesquisadora.

Paola reconhece o esforço da equipe médica, mas testemunhou as dificuldades de atendimento, diante da explosão de casos e da escassez de recursos na rede pública. Dez dias após a morte de Italira, em março, decidiu agir. "Sabia que muito mais gente ia morrer", relembra Paola, que responsabiliza o presidente Jair Bolsonaro e o governo federal pelo descontrole da pandemia.

Assim, ela ligou para Bernardes, que também sofreu na UTI com um quadro grave do coronavírus, em 2020. Em abril deste ano, nascia a Avico Brasil, com o objetivo de auxiliar as vítimas a conseguirem seus direitos. No início, a demanda era tanta que conseguiam dormir apenas de cinco a seis horas por noite. "Eu trabalhava chorando", diz Paola. Hoje, após quase seis meses, a entidade já conta com aproximadamente 1,4 mil voluntários.

A Avico presta orientação jurídica para sobreviventes e famílias que perderam entes para a doença, em processos trabalhistas e previdenciários, além de grupos terapêuticos sobre o luto. Também, em junho, entraram na Procuradoria-Geral da República (PGR) com representação criminal contra Bolsonaro, na qual pedem para que seja oferecida denúncia ao Supremo Tribunal Federal (STF).

No documento, os autores apontam, entre outras denúncias, que o presidente estimulou aglomerações, defendeu o tratamento precoce e sabotou a vacinação. Por isso, pedem que ele seja processado por crimes tipificados em cinco artigos do Código Penal. Desde junho, a representação está em análise na PGR.

A instituição, agora, tenta reunir provas para responsabilizar a União pelas mortes pela covid, na busca de indenização para famílias de vítimas. A Avico, que nasceu regional, também está em processo de criação de núcleos estaduais. Paola conta que, pelo fato de os atendimentos serem online, é difícil auxiliar populações vulneráveis periféricas. "Eu queria poder fazer mais", desabafa Paola.

Procurada para comentar as críticas sobre falhas na pandemia e possível responsabilização jurídica, a Secretaria de Comunicação do governo federal não comentou até a publicação desta matéria. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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