O intérprete de Libras (Língua Brasileira de Sinais) que fazia a tradução do depoimento de uma estudante que perdeu o pai e a mãe para a covid-19, durante sessão da CPI da Covid, se emocionou com a história e precisou ser substituído. Nessa segunda-feira (18), os senadores ouviram os relatos de pessoas que perderam familiares para o novo coronavírus, que matou mais de 600 mil pessoas em todo o Brasil.
O intérprete que traduzia o depoimento de Giovanna Gomes Mendes da Silva ficou emocionado com a história da estudante de 19 anos, que precisou virar chefe de família após perder os pais para a doença, dentro de duas semanas. Agora, ela precisa cuidar sozinha da irmã de 11 anos.
"Eu, meus pais e minha irmã éramos muito unidos. Quando meus pais faleceram, a gente perdeu as pessoas que a gente mais amava. A gente não perdeu só os pais, a gente perdeu uma vida. Uma vida de alegria", contou a estudante, emocionada.
Giovanna também relatou que perdeu o pai e a mãe num período de 14 dias: "Eu, meus pais e minha irmã, nós éramos muito unidos, quem conhece sabe. Onde a gente estava, nós estávamos juntos. Então, quando meus pais faleceram, a gente perdeu as coisas que a gente mais amava. Eu precisava da minha irmã e ela precisava de mim. Eu me apoiei nela, e ela se apoiou em mim".
Ao longo do depoimento, é possível ver que o intérprete fica tocado com a história. Primeiro, ele respira fundo mas, depois, não consegue conter as lágrimas e põe a mão no rosto, parando a tradução. Pouco depois, um outro intérprete chega para substituí-lo.
Veja o vídeo:
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Outras histórias
Os senadores ouviram os relatos dramáticos por três horas e meia. Além de Giovanna, outros homens e mulheres também contaram suas histórias de sofrimento.
O taxista Márcio Antônio do Nascimento Silva, que perdeu um filho para o coronavírus, afirmou ter sentido "no coração" ao ouvir o presidente Jair Bolsonaro perguntar "E daí? Quer que eu faça o quê?", em abril do ano passado, quando as mortes por covid haviam ultrapassado a marca de 5 mil.
"Eu escutei lá no meu coração: 'E daí que seu filho morreu?'. Isso me gerou muita raiva, muito ódio. Isso me fez muito mal", desabafou Márcio Antônio. "Eu daria a minha vida para o meu filho ter chance de ter se vacinado. Não tinha perspectiva de vacina ainda. Sabe, não tinha ainda máscara", completou o taxista, que também viu a irmã morrer de covid.
A exemplo de Márcio Antônio, a enfermeira Mayra Pires Lima, do Amazonas, perdeu a irmã para a doença. À CPI, Mayra lembrou o drama vivido com a escassez de equipamentos durante a crise de oxigênio em Manaus, em janeiro deste ano. "Eu tinha um grande sonho de ajudar as grandes calamidades, conhecer outros países que precisam de ajuda e talvez atender pacientes em situações de guerra", afirmou. "Hoje eu falo que eu vivi uma guerra, porque atendi pacientes muitas vezes sem proteção nenhuma, assim como os meus colegas da maternidade".