Carlos Batista da Silva levanta sua mão acima da cabeça, indicando em uma parede o nível em que a água chegou em sua casa durante as enchentes no sul da Bahia.
Embora tenha sido avisado sobre a inundação que se aproximava, sua casa foi submersa antes que ele pudesse reagir, já que o estado enfrenta uma extraordinária devastação provocada por chuvas torrenciais que romperam duas barragens e deixaram pelo menos 21 mortos.
"Resolvemos tirar os móveis, mas não deu tempo. Perdemos tudo, só consegui resgatar o televisor", conta Silva à AFP, enquanto joga fora os restos de seu sofá, algumas cadeiras e um micro-ondas inutilizado.
Seu vizinho João Vitor Gomes Santos também foi pego de surpresa quando a água entrou em sua casa em Itapetinga. "Guarda-roupa, cama, cômoda, a cama do meu filho... Foi tudo embora", lamenta.
Mais de 77 mil pessoas ficaram desalojadas, das quais quase metade precisa de abrigo de emergência, de acordo com o governo local.
Com 136 municípios em estado de emergência, cerca de meio milhão de pessoas foram afetadas pelas enchentes.
Uma jovem de 19 anos que se afogou na cidade de Ilhéus se tornou a 21ª vítima desde o final de novembro, informaram as autoridades na terça-feira.
De acordo com as autoridades, trata-se da maior precipitação em dezembro na Bahia em 32 anos. Em algumas cidades, a chuva esperada para um mês caiu em questão de horas.
Enquanto as águas estão baixando em algumas áreas, deixando para trás montanhas de escombros, em outras o risco aumenta devido à abertura de comportas.
O Corpo de Bombeiros afirma que pelo menos 10 barragens correm o risco de se romper devido ao aumento do nível das águas em vários rios. Moradores foram instados a deixar as áreas de maior risco.
Em algumas partes do estado, a ajuda só consegue chegar de barco ou helicóptero. Ao todo, 40 rodovias estaduais sofreram interdições ou danos em função das chuvas.
Meteorologistas temem que nos próximos dias fortes chuvas possam atingir estados muito mais populosos, como Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo.
O presidente Jair Bolsonaro (PL) autorizou nesta terça-feira um crédito extraordinário de 200 milhões de reais para a reconstrução de infraestrutura em estradas afetadas pelas chuvas em cinco estados, incluindo a Bahia, que leva a maior parte (80 milhões).
Porém, o governador Rui Costa (PT) considerou a medida "insuficiente" e pediu "mais recursos" para amenizar a crise.
Na segunda-feira, Costa descreveu as enchentes como "o maior desastre natural da história da Bahia". Na terça, comparou seu estado a uma zona de guerra, dizendo que era muito cedo para estimar a extensão do prejuízo.
Bolsonaro foi criticado por não visitar as áreas afetadas. Enquanto vários ministros sobrevoavam as zonas devastadas na terça-feira, o presidente foi visto pilotando um jet ski em uma praia em Santa Catarina.
"Espero não ter que retornar antes", disse ele, de férias, a seus apoiadores, de acordo com um site local.
O deputado federal pelo Rio de Janeiro Marcelo Freixo (PSB) o acusou no Twitter de "falta de compaixão".