Concebido para ser um dos principais equipamentos de preservação histórica e de inovação tecnológica do Recife, o Parque Científico e Cultural do Jiquiá, na Zona Oeste da cidade, não tem previsão para ser entregue à população. E enquanto o poder público tenta dar vida ao projeto, uma onda de ocupações irregulares avança sobre uma das maiores áreas de preservação ambiental (APA) da capital, com 34 hectares, o equivalente a cinco Parques da Jaqueira.
A ordem de serviço para a construção do parque foi assinada em março de 2012 pelo então prefeito João da Costa e previa um investimento de R$ 50 milhões. Dois anos depois, apenas a reforma da torre de atracação de dirigíveis – única no mundo – foi entregue e o único equipamento em obras é a Praça da Juventude, que compreende duas quadras poliesportivas, salas de aula e uma área de convivência.
Da complexidade do projeto aos problemas encontrados durante os primeiros dias de execução da obra, muitos fatores levam o poder público a evitar falar em prazo para a conclusão do parque. “Estavam previstas escavações de 8 metros de profundidade para algumas estruturas, por exemplo. Mas, por causa da natureza do terreno, descobrimos que vai ser preciso escavar no mínimo 24 metros”, explica o secretário-executivo de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento da Prefeitura do Recife, Gustavo Barbosa. Segundo ele, os projetos de engenharia estão sendo finalizados e a prefeitura vai entrar na fase de captação de recursos para viabilizar a obra.
Enquanto o poder público tenta viabilizar o projeto, a onda de invasões avança e pode tornar a empreitada ainda mais difícil. A maior parte das pessoas vem da Comunidade do Zeppelin, onde 800 famílias se espremem entre a Avenida João Cabral de Melo Neto e a cerca que a Prefeitura do Recife construiu, no final de 2013, para impedir a expansão da comunidade para a área de domínio do parque.
Não há qualquer indício de urbanização no local: os barracos se sobrepõem entre ruas apertadas, não há esgoto e o terreno encharcado torna um inferno a vida da população, principalmente no período chuvoso. “Acabei de achar isso aqui na minha casa”, diz a cozinheira Luciana Santos, mostrando um escorpião. Ela mora há três anos na comunidade com o marido e três filhos. “E durmo no chão”, completa, dando uma ideia do perigo que corre diariamente.
Desempregada, Andreza Cristina da Silva acompanha, da porta de casa, a obra da Praça da Juventude. Sonha em ficar no local e ver o filho de um ano aproveitar as oportunidades de lazer que o parque vai oferecer. “Queria morar numa casa decente, mas aqui mesmo. Vai ser horrível se mandarem a gente para longe daqui”, comenta.
Segundo o pedreiro Manoel José da Silva, que mora encostado à cerca construída pela prefeitura, houve a promessa de que em abril passado seriam iniciadas as obras de um conjunto habitacional para as famílias da Comunidade do Zeppelin. “Mas informaram que, com a Copa do Mundo, o projeto habitacional sofreria atraso”, disse.
A prefeitura tem, de fato, projeto para a construção de um residencial com 712 unidades para as famílias que moram nas invasões no entorno do Parque do Jiquiá. Até o final de julho, a Secretaria de Habitação pretende concluir o cadastramento das famílias, mas ainda não há data para o início das obras do conjunto nem mesmo terreno disponível para o empreendimento, que deverá ser na região.