Grafiteiros levam cor e arte às ecoestações do Recife

A intervenção artística será aplicada nos oito equipamentos implantados na cidade. Além de embelezar as ecoestações, a iniciativa busca coibir pichações
Da editoria de Cidades
Publicado em 08/10/2016 às 11:17
A intervenção artística será aplicada nos oito equipamentos implantados na cidade. Além de embelezar as ecoestações, a iniciativa busca coibir pichações Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem


Até o início do mês que vem, nas paredes e muros de todas as ecoestações do Recife, estarão estampadas as artes de dois grafiteiros da cidade. O projeto, realizado pela Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana (Emlurb), tem foco principal, além de colorir os equipamentos, diminuir os custos de manutenção das unidades, já que todo mês é preciso cobrir as pichações realizadas nos locais. Ao todo, são oito ecoestações na Capital, que funcionam como pontos de recebimento de resíduos, como móveis velhos, pequenas quantidades de entulho de obras e outros materiais, com volume de até um metro cúbico por dia. A primeira ecoestação a receber as grafitagens foi a do bairro do Ibura, na Zona Sul da Capital.

O trabalho no Ibura começou na última terça-feira e terminou na quinta, realizado pelos grafiteiros Ícaro Alves, que assina como LOST, e Edmilson Campelo, o JR CAM, que já trabalham com grafitagem há cerca de 12 anos. Agora, o equipamento escolhido para a intervenção é o do bairro da Cohab, também na Zona Sul. Para JR CAM, a intervenção nas ecoestações é, também, uma forma de mostrar arte. “Desde criança me interessava por desenhos e, andando pelo Recife, fui me apaixonando pelo graffiti. Em 2003, não era tão fácil ter acesso aos sprays. Comecei pintando em paredes, com tinta de madeira e ferro. Hoje já existem, de forma bastante acessível, materiais específicos para a grafitagem”, disse JR CAM.

Para Ícaro, o sentimento é o mesmo. “Antes de grafitar eu era pichador, e foi assim que eu conheci a arte. Nunca fiz curso, quem me ensinou foi a rua. Depois que parei de pichar, comecei na pintura, sem compromisso, porque na época não era fácil encontrar os sprays. Hoje trabalho profissionalmente com a grafitagem”, disse Ícaro. Para ele, a assinatura de LOST e de JR CAM, conhecidos no ramo da grafitagem, também ajudarão a coibir as pichações no local. Diretora executiva de Limpeza Urbana da Emlurb, Bárbara Arrais explicou que o projeto não custa nada além do que já é gasto em manutenção, que chega a quase R$ 2 milhões por ano. A diferença é que, em vez de paredes brancas, haverá arte nos muros das ecoestações.

A comerciante Maria Olivia dos Santos tem 67 anos e mora no local onde fica a ecoestação da Cohab há 24. Ela explica que o vandalismo no local é uma constante. “Se você olhar para o colégio que fica logo em frente, o que mais se vê é pichação. Espero que a grafitagem evite esse tipo de prática”, disse. Apesar de aprovar o funcionamento da ecoestação, ela e outros moradores reclamam do mau cheiro no local, proveniente dos resíduos orgânicos depositados na caixa compactadora do equipamento. “Os funcionários sempre limpam, mas se apenas com os entulhos e móveis já atrai ratos e baratas, imagine com todo tipo de lixo”, reclamou Maria Olívia.

Sobre o assunto, Bárbara Arrais explicou que a empresa que gerencia a caixa compactadora é obrigada a retirar os resíduos do local diariamente, mas pode ter havido uma falha. “Temos GPS em todos os caminhões e vamos monitorar com maior rigidez a frequência de retirada dos resíduos. Caso o trabalho não esteja sendo realizado com a regularidade ideal, a empresa será multada”, afirmou Bárbara.

“Ao coibir as pichações, que temos que cobrir mensalmente, podemos realocar o dinheiro da pintura para outras partes da manutenção, porque a frequência da repintura do local será extremamente menor”, explicou Bárbara. Entre os temas grafitados, estão os serviços prestados pelos equipamentos e outros voltados à preservação ambiental. “Logo após a Cohab, partiremos para o Totó, na Zona Oeste. A ideia é terminar todas até o começo de novembro. Um dos projetos que podem ser realizados a partir da economia com a manutenção é, por exemplo, a implantação de uma nova caixa de coleta de entulhos. O objetivo é, além de colorir, deixar uma mensagem”, finalizou a diretora executiva de Limpeza Urbana.

ECOESTAÇÕES

As oito ecoestações do Recife funcionam das 8h às 16h e recebem, de segunda a sábado, resíduos dos chamados “pequenos geradores”, que são aqueles que produzem menos de um metro cúbico de resíduos por dia. Nos locais, são aceitos entulhos de pequenas obras, móveis como sofás, guarda-roupas, fogões e geladeiras. Os equipamentos não recebem eletroeletrônicos e material de saúde ou hospitalar, por exemplo.

Além do Ibura, Cohab e Totó, os bairros de Campo Grande, Torre, Torrões, Imbiribeira e Arruda também possuem ecoestações. Juntas, as oito unidades já receberam mais de 20 mil toneladas de materiais. Para saber a localização da ecoestação mais próxima, é necessário apenas acessar o ecorecife.org.

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