Um diploma para abrir as portas da inclusão. Com incentivo suficiente para ir além do mercado de trabalho, a estudante de direito Marília Lordsleem de Mendonça recebeu, aos 24 anos, o primeiro certificado de conclusão de curso transcrito em braile, o sistema de escrita tátil utilizado por pessoas com baixa visão ou cegas, entregue por uma instituição de ensino superior em Pernambuco. A conquista da jovem, ao lado de mais de 200 colegas de curso da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), foi acompanhada por uma plateia lotada no Teatro Guararapes, no Centro de Convenções, em Olinda, Grande Recife, na noite de ontem.
Sentada na primeira fila, ao lado dos pais que sempre a acompanham, Marília, que nasceu cega, ouviu o reitor da universidade, padre Pedro Rubens Ferreira Oliveira, narrar o primeiro encontro deles na unidade de ensino e destacá-la como um exemplo de superação. “Ela é, de fato, um exemplo de superação, que surpreende a família e amigos a cada dia. Eu a conheci por acaso, antes do primeiro dia de aula, com seu pai. Achei que estavam perdidos porque estávamos na semana dos docentes, nos preparando para o início das aulas. Perguntei se precisavam de alguma coisa e o pai disse apenas que estavam fazendo o reconhecimento do câmpus para que ela pudesse ter mais autonomia durante a formação. Hoje, cinco anos depois, eu digo, obrigado, Marília Mendonça, por esse exemplo de vida e superação. Muito obrigado pela satisfação de entregar o primeiro diploma em braile de Pernambuco.”
Sob aplausos, logo após o discurso do reitor, Marília foi a primeira a subir ao palco e receber o título pelo qual tanto batalhou. “Fiquei muito feliz com a iniciativa. É muito importante para a pessoa com deficiência visual. Se eu fosse receber somente o papel, não conseguiria saber o que estava escrito. Em braile, eu posso ter acesso ao conteúdo”, comemorou a concluinte, que não esqueceu de agradecer aos professores e colegas de sala pela ajuda recebida nos cinco anos de curso. “Minha graduação foi supertranquila. Os professores são ótimos, mas eu precisei muito da ajuda dos colegas.” A ajuda de todos que rodearam Marília na universidade também foi lembrada pelo pai da jovem, o administrador Artur Mendonça. “Estamos muito felizes pela acessibilidade. Ela receber o diploma em braile representa respeito e empoderamento. Não foi um caminho fácil, mas todos participaram da construção. Professores, funcionários e colegas ajudaram para que ela conseguisse acabar o curso em tempo hábil.”
Agora, os planos da recém-formada, que também gosta de cantar e nunca pensou em desistir, incluem a tão sonhada aprovação em um concurso público. “Quero entrar no mercado de trabalho e estou estudando para passar em um concurso público.”