Sem parede, sem teto, sem porta nem janela. Ao ar livre. Igual à casa deles. Felipe, Alexsandro, Paula, Alex, Luan e Alessandro têm o coreto da Praça do Carmo, em Olinda, no Grande Recife, como moradia. É lá também, no meio da praça, que fica a sala de aula. Voltaram a estudar. Toparam participar do Projeto Escola da Vida, uma iniciativa que, aos poucos, está mexendo na rotina deles. Transformando suas vidas.
Resultado de parceria entre a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e o Centro de Prevenção às Dependências, com financiamento do Ministério da Educação (MEC), o programa foi lançado oficialmente terça-feira (9), mas, na prática, começou em janeiro. A Praça do Carmo e mais sete espaços públicos da Cidade Patrimônio da Humanidade viram escolas públicas. Atendem cerca de 180 pessoas que vivem nas ruas ou que passam o dia nelas.
“Esse projeto é legal porque trouxe o principal: respeito. As professoras não estão preocupadas se a gente está sujo, se tomou banho. Confiam na gente, não tem discriminação. Sou analfabeto. Elas estão me ensinando a ler e escrever. Agora posso sonhar com um futuro diferente para mim e meu filho”, diz Alexsandro Moreira, 32 anos. Ele, a companheira Paula Fernanda, 34, e o filho Alex Renato Moreira, 13, participam da turma de 14 alunos da Praça do Carmo.
“O Escola da Vida nasceu da crença de que a educação é a única política que pode transformar e mudar realidades. Mas o projeto é mais que isso, porque ele democratiza a educação. Faz com que ela chegue às pessoas mais vulneráveis, mais invisíveis para a sociedade. Aquelas que não se adaptaram, pelas mais diversas razões, à escola tradicional, e têm no projeto um caminho de volta, de reencontro com a educação”, enfatiza a diretora do Centro de Prevenção às Dependências, Ana Glória Melcop.
O educador pernambucano Paulo Freire é a fonte de inspiração. Material e metodologia foram baseados nas ideias dele. A proposta é promover 32 encontros (duas vezes por semana) em horários combinados com os alunos, de acordo com as necessidades do grupo. Além da Praça do Carmo, há grupos em Rio Doce, Bairro Novo, Águazinha, Peixinhos e Bairro do Monte.
"O projeto ocupa a mente da gente. Fico esperando os dias de aula. Chova ou faça sol, as professoras não faltam. Eu também não”, diz Felipe Ramos, 32 anos.
“Todo o conteúdo de letramento, alfabetização e raciocínio lógico tem os direitos humanos, cidadania, autoestima e empoderamento como condutores”, diz a educadora Joana Albuquerque. Um carrinho itinerante, com vários compartimentos, guarda livros, fichas, lápis, quadro e bancos. É a sala de aula.
“É bom porque nessa escola não precisa de diretoria nem de sala. Aprendemos juntos, no meio da rua”, afirma Alex. “Na hora e nos dias de aulas, volto logo pra Praça do Carmo. As professoras se preocupam com a gente, querem saber como estamos. Eu estou mudando”, garante Alessandro Barros, 29.