Rio Una continua à espera das obras prometidas

Após inundar cidades do Agreste e Mata Sul, margens permanecem ocupadas e o rio está assoreado
Cleide Alves e Verônica Falcão
Publicado em 01/05/2011 às 20:41
Foto: Marcelo Camargo/ABr


O Rio Una, que inundou cidades do Agreste e da Mata Sul de Pernambuco em junho passado, continua à espera das obras prometidas para contenção de enchentes. Dez meses depois da cheia, mais uma estação chuvosa chegou e nenhuma barragem teve a construção iniciada, as margens permanecem ocupadas e o rio está assoreado (obstruído por areia). Nem a metralha de imóveis destruídos foi retirada da beira do curso-d’água, em Palmares, um dos municípios mais castigados na Mata Sul.

“Tudo o que caiu com a cheia, ficou na margem do rio”, diz Fernando Rocha Santos, 60 anos, comerciante da Avenida José Américo de Miranda, em Palmares. Ele reabriu a loja para venda de pneus no único vão ainda de pé do imóvel, construído de costas para o Una. “Dizem que o comércio vai sair, mas até agora é só conversa e nenhuma ação.” Segundo ele, 101 lojas ribeirinhas ficaram danificadas. Muitas voltaram a funcionar no mesmo lugar. “A gente precisa trabalhar”, justifica.

Moradores também retornaram para as casas avariadas na margem do rio, em Palmares. “Não tenho para onde ir, voltei porque as pessoas estão explorando o preço do aluguel”, diz Márcia Maria Araújo da Silva, 46. Ela trabalhava como doméstica, mas perdeu o emprego depois da cheia e vive com R$ 150 mensais do auxílio-moradia concedido pelo governo do Estado. “Não tenho como completar o valor do aluguel”, diz.

As famílias ribeirinhas, diz ela, perdem o sossego quando começa a chover. “Com a barragem de contenção, a gente ficaria mais seguro, mas nenhuma foi feita. Promessa o governo faz, difícil é cumprir”, declara. “Tudo é indefinido, ninguém sabe quem tem direito às casas que estão sendo construídas, se os imóveis serão doados ou se vão cobrar alguma coisa”, comenta Suely Maria Gomes da Silva, 55. Ela aluga uma das casas da beira do rio.

Em Barreiros, Mata Sul, moradias destruídas e abandonadas continuam ocupando as margens, como uma cidade fantasma. “Pelo certo, era para a prefeitura ter derrubado as casas, até porque estão virando foco de dengue e todas estão inutilizadas”, comenta Elieze Oliveira da Silva, 36. Em janeiro deste ano, ela reocupou a casa onde morava, uma rua antes das residências vazias. “Meu marido refez as paredes.”

Desde junho, quando o rio derrubou pontes, comunidades de Barreiros tiveram a ligação interrompida. Balsas mantidas pelo governo fazem a travessia. A população não paga pelo serviço, que funciona das 4h às 22h30. Eduardo Monteiro, 29, ganha um salário mínimo mensal para conduzir uma das embarcações, nove horas por dia, entre Baité e a Rua da Usina. Para diminuir os transtornos o Estado constrói um pontilhão para pedestres.

“Isso é uma vergonha, no bairro da Prainha a gente atravessa numa pinguela com cano de esgoto e mato, qualquer enchente vai acabar com a cidade, Barreiros não está preparada para outra cheia”, avisa a dona de casa Elenilda Maria da Silva, 33.

Na semana passada, a Prefeitura de Cachoeirinha, no Agreste, tirou lama do rio, cortou mato e recolheu lixo das margens. “É importante, mas a gente não se sente segura, ainda”, afirmam as vizinhas Josefa Maria do Nascimento, 47, e Maria Lúcia da Silva, 49. Elas moram perto da ponte onde a prefeitura colocou uma sirene para avisar aos ribeirinhos o risco de uma enchente.

Pescador na foz do rio, em Várzea do Una, em São José da Coroa Grande, Litoral Sul, Antônio Manoel dos Santos, pede a dragagem do curso-d’água. “O rio não tem profundidade nem largura, precisamos do apoio do governo para a água do Una encontrar seu caminho natural”, diz.

O rio nasce em Capoeiras, Agreste, onde, apesar de ser intermitente (só aparece com as chuvas) sofre com desmatamento e assoreamento. “Falta reflorestamento, monitoramente e comunicação entre a nascente e a foz”, aponta Severino Francisco de Melo, 46, morador de Capoeiras e integrante do Conselho da Bacia Hidrográfica Una.

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