Tragédia como a dos Coelhos ainda pode se repetir em outras áreas de palafita

A situação é bem parecida na comunidade vizinha, Papelão, por exemplo
Catharina Freitas
Publicado em 07/08/2013 às 6:16
Foto: Foto: Diego Nigro/JC Imagem


O incêndio que atingiu a comunidade do Campinho, no bairro dos Coelhos, Recife, na última segunda-feira (5), chocou a sociedade e alertou para o risco de a tragédia se repetir em várias outras localidades do Recife. “Há 12 anos participei da criação do projeto Recife sem Palafitas. Em dez anos, todos que morassem às margens de rios já deveriam ter moradias dignas. Hoje, a situação piorou e temos mais moradores em palafitas”, afirmou o arquiteto e ex-presidente da URB César Barros. 

Não é preciso procurar muito para concordar com César. Na comunidade Vila Brasil, no bairro de São José, Centro do Recife. O cenário é de desordem e lama e em nada lembra moradia digna. “Vivo com medo aqui, porque é tudo de papel e madeira. Se riscar um fósforo, queima todas as casas”, comentou a dona de casa Lucineide Soares Oliveira, 48 anos, moradora da localidade há 22 anos. “Nós moramos na sarjeta, no meio dos ratos e baratas. Todo mundo faz cadastramento e promete tirar a gente daqui, mas ninguém faz nada”, complementou.

A situação é bem parecida na comunidade vizinha, Papelão. “Tudo o que eu mais queria era uma casinha, mas muitos outros já fizeram esse cadastro. O que sobra é viver aqui com medo de chuvas e incêndios”, lamentou a dona de casa Luciene Gerônimo da Silva, 45, que vive há 18 anos no local.

Bem perto de onde aconteceu a tragédia do Campinho, os moradores de Roque Santeiro 1 , no bairro dos Coelhos, aguardam ansiosos por dias melhores. “Quero muito sair daqui e ganhar uma casinha. Sei bem o que é passar por num incêndio. Perdi tudo no fogo, em janeiro de 2000. Só fiquei com a roupa do corpo”, lembrou a dona de casa Lúcia Maria Lagos, 58, moradora de Roque Santeiro 1 há 23 anos.

Foto: Diego Nigro/JC Imagem
Recife ainda possui várias áreas em que a população mora em palafitas, em condições precárias - Foto: Diego Nigro/JC Imagem
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Recife ainda possui várias áreas em que a população mora em palafitas, em condições precárias - Foto: Diego Nigro/JC Imagem
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Recife ainda possui várias áreas em que a população mora em palafitas, em condições precárias - Foto: Diego Nigro/JC Imagem
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Recife ainda possui várias áreas em que a população mora em palafitas, em condições precárias - Foto: Diego Nigro/JC Imagem
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Recife ainda possui várias áreas em que a população mora em palafitas, em condições precárias - Foto: Diego Nigro/JC Imagem
Foto: Diego Nigro/JC Imagem
Recife ainda possui várias áreas em que a população mora em palafitas, em condições precárias - Foto: Diego Nigro/JC Imagem
Foto: Diego Nigro/JC Imagem
Recife ainda possui várias áreas em que a população mora em palafitas, em condições precárias - Foto: Diego Nigro/JC Imagem

Ainda no Recife, o estoquista Fábio César Lopes, morador da Favela do Detran, na Iputinga, Zona Oeste do Recife, alimenta a esperança de ter uma moradia digna. “Moramos num lugar sem saneamento básico, eletricidade regularizada e nem temos endereço de verdade. Mas eu tenho fé que um dia isso vai mudar”, declarou.

A saída dessas famílias de barracos e palafitas pode ser acelerada com o projeto que pretende garantir a navegabilidade do Rio Capibaribe. O programa Rios da Gente, lançado pelo governo do Estado em julho do ano passado, já foi iniciado com dragagem no curso d’água e vai obrigar o poder público a retirar todas as famílias da rota. Em nota, a Secretaria das Cidades informou que “dentro do convênio assinado em janeiro deste ano, coube à prefeitura a responsabilidade pela remoção das famílias que vivem às margens do Rio”.

O secretário de Habitação do Recife, Eduardo Granja, garante que a cidade está preparada para o desafio. “Quando soubemos do projeto já estávamos atentos ao tema e trabalhando para garantir a retirada das famílias das margens do rio”, afirmou. Segundo o secretário, as comunidades da Vila Brasil e do Papelão serão beneficiadas com a finalização de um habitacional, cujas obras estão paralidas. “Quatro blocos estão quase prontos lançaremos licitação até o próximo sábado para conclusão desta etapa com recursos próprios e, até o fim de outubro, será realizada uma chamada pública para a construção dos 10 blocos restantes por meio do Minha Casa Minha Vida”, explicou. O conjunto contará com 448 unidades e deve ter a primeira parte entregue em seis meses e a segunda em 15.

Ainda segundo o secretário, a comunidade Roque Santeiro 1 também será contemplada com moradias do Minha Casa Minha Vida. “Estamos fazendo um estudo do terreno da antiga Fábrica Souza Luna, em Afogados, para 72 famílias. As outras, cerca de 120, também terão novas moradias. Estamos em busca de terrenos para a aquisição”, afirmou. 

Já os moradores da Favela do Detran devem ser beneficiados com unidades habitacionais do Casarão do Barbalho, a cerca de 100 metros da comunidade. O habitacional terá 384 moradias e deve ficar pronto em maio de 2014. “Não temos um número exato de pessoas que moram em palafitas na cidade, mas sabemos que temos um déficit habitacional de 70 a 80 mil moradias. Em 2013, o investimento total em obras habitacionais será de cerca de R$ 25 milhões”, afirmou o secretário.

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