Considerado o coração da agremiação, o estandarte merece respeito e saudações. Por isso, uma tradicional troça da Cidade Patrimônio da Humanidade, a Mista Cariri Olindense, que abre o Domingo de Carnaval, comemora hoje seus 93 anos batizando sua nova bandeira. A cerimônia vai acontecer às 20h, na Rua Joaquim Nabuco, 1131, no Varadouro.
“Precisamos manter viva a tradição. Por isso, o batismo do novo estandarte”, explica o artista plástico Fernando Oliveira, 54 anos, diretor de patrimônio de Cariri e responsável pela confecção da peça. Ontem ele fazia o acabamento do estandarte, que mede 2,10m de altura por 1,20m de largura. Hoje, pronta, a bandeira de veludo azul bordada com fios dourados será colocada na porta do ateliê, envolto num lençol, esperando o cortejo.
A orquestra de Cariri e um grupo de passistas vão acompanhar o velho estandarte até a casa de Fernando. Lá chegando, ao som da queima de fogos, haverá, então, o batizado. Os padrinhos serão os olindenses Antonio Moreyra Neto, publicitário e radialista, e Leônidas da Silva Andrade, colaborador e fã da agremiação. Após a cerimônia, aberta ao público, os estandartes serão levados às ruas para uma volta com os foliões no Sítio Histórico. Daí o mais velho será recolhido à sede, no Guadalupe.
“O último estandarte oficial foi confeccionado em 1958. Desde então, reformas deram novo aspecto a ele. O novo é o primeiro com strass e joias”, conta o artista, com 44 anos de dedicação a essa arte e mais de 60 trabalhos.
O estandarte tem estrutura de madeira (chassi), coberto por morim. O veludo, o tecido principal, recebeu os bordados e outros adereços. Defensor das tradições carnavalescas, Fernando Oliveira diz que é preciso resgatar ainda a figura do porta-estandarte. “Hoje vemos nas ruas apenas os carregadores de bandeira, que não cumprem com as regras, como a de não levar o estandarte ao chão”, afirma.
A troça foi fundada por Miguel Canuto para abrir o Carnaval no domingo, no tempo em que a brincadeira só começava neste dia. De 1921 até hoje, a agremiação sai sempre às 4h da madrugada. Presta homenagem a uma figura folclórica de Olinda, mascate que andava pelas ruas vendendo ervas medicinais. “Ele era da região do Cariri, mas não se sabe ao certo de que Estado nordestino”, comenta Fernando Oliveira, que mostra até a cópia de uma fotografia que seria do personagem real. Mas o hino do bloco faz referência mesmo à lenda que ganhou fama na cidade, a de que o velho Cariri pegava crianças desobedientes: “Lá vem Cariri ali/ Com saco de pegar criança/ Pegando menino e moça/ Pegando tudo o que a vista alcança”.
O Homem da Meia Noite, fruto de uma dissidência de Cariri, devolve a chave da cidade à troça, depois do seu desfile a partir da meia noite do sábado.