Igarassu, na Região Metropolitana do Recife, é quase sempre lembrada pela Igreja dos Santos Cosme e Damião, uma das mais antigas do Brasil, construída em 1535. Mas, a cidade oferece outras opções de passeios na área de 0,4 quilômetro quadrado tombada como patrimônio nacional desde 1972. O Museu Histórico, por exemplo, com seu acervo que vai do fim do século 17 ao início do 20, mantém as portas abertas ao público de domingo a domingo.
Fundado em 24 de janeiro de 1954, o Museu Histórico de Igarassu está instalado em três casas conjugadas do século 18, ao lado da famosa Igreja dos Santos Cosme e Damião. Para conhecer as 266 peças em exposição, é só subir os degraus de acesso aos imóveis, pagar uma taxa de R$ 2 e explorar as salas, revestidas com piso de tijoleira.
Cadeiras de palhinha de antigos moradores do município, decoram a recepção do museu. Parte delas servia à família de João Felipe de Barros Dias, prefeito de Igarassu na década de 50, conta o secretário-executivo de Patrimônio Histórico do município, Jorge Barreto. “Ele herdou dos pais, são móveis do século 19”, avaliza. As outras cadeiras foram cedidas pelo idealizador do museu, José Eduardo da Silva Brito, diz.
O corredor central da casa separa um espaço dedicado às artes sacras e outro que reproduz a sala de estar de uma residência, batizada Barão de Vera Cruz, numa homenagem a Manoel Joaquim Carneiro da Cunha (o nome do barão), proprietário do Engenho Monjope. Mesinhas, armário, estante, escarradeira e quadros compõem o ambiente, com janelas voltadas para o Sítio Histórico.
Um jarro de porcelana francesa, apoiado numa das mesas, pertencia ao Engenho Monjope. “Foi usado na recepção oferecida pelo barão ao imperador dom Pedro II, que pernoitou em Monjope”, diz Jorge Barreto, ao explicar a importância da peça. Pedro II visitou Igarassu em 5 de dezembro de 1859, numa viagem pelo Nordeste brasileiro.
A sala da arte sacra exibe imagens de Jesus Cristo, São Benedito, São José de Botas, Santo Antônio, Nossa Senhora e dos Santos Cosme e Damião, festejados dia 27 de setembro. Completam a decoração oratórios dos séculos 18 e 19, de famílias tradicionais do município, e a lápide da sepultura do coronel João César Falcão, de 1758. “Era o líder político da povoação de Pasmado (distante 14 quilômetros da sede de Igarassu). Nesse lugar havia mais de 200 casas, hoje só resta a Igreja de Nossa Senhora de Boa Viagem, no meio do canavial”, relata Jorge Barreto.
O desmonte do povoado começou na década de 50, quando uma usina comprou a área, e se prolongou por cerca de 30 anos, acrescenta. No momento, o oratório mais velho está exposto, mas a capela doméstica do século 19 passa em obras de restauração, porque apresenta avarias. As duas peças são de cedro, policromado. O oratório mais antigo também será recuperado, até o fim deste ano, informa Jorge Barreto.
Em outra sala, o museu presta homenagem aos negros, com objetos de uso de escravos. Há jarra de água com cuia para colher o líquido, pilão, cadeiras, a Calunga do Maracatu Estrela do Norte (1894), um fuso da casa de farinha do Engenho Araripe do Meio (do engenho só sobrou a capela) e uma cana de leme de uma embarcação espano-portuguesa do fim do século 17.
O museu foi criado pelo Instituto Histórico municipal que, sem condições de manter o local, doou o prédio e o acervo à prefeitura, em 1972. “Temos armas, mobiliário, mapoteca, uma pequena pinacoteca, achados arqueológicos e documentos”, resume Jorge Barreto. “O Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano fez a microfilmagem dos inventários”, declara. Por enquanto, os 18 metros lineares de documentos não estão disponíveis para consulta.
Visitas em grupo (escolas) devem ser agendas com antecedência, pelo telefone 3543-0435, avisa o secretário-executivo. Estudantes de escolas públicas não pagam e aos alunos de colégios particulares é cobrada meia-entrada. O Museu Histórico de Igarassu abre de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h, e aos sábados e domingos, das 9h às 12h, de acordo com o diretor do espaço cultural, Fernando Melo.