O Cemitério dos Ingleses, possivelmente o mais antigo em atividade no Recife, completa dois séculos este ano e planeja mudanças, para ficar mais visível na cidade. Localizado no encontro das Avenidas Cruz Cabugá e Norte, em Santo Amaro, na área central, o British Cemetery foi inaugurado em 1814 e é tombado como patrimônio de Pernambuco desde 1984.
Uma das propostas sugeridas pela Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) para estimular a interação do cemitério com a rua é rebaixar o muro na fachada voltada para a Cruz Cabugá, e completar com gradil. “Provavelmente, esse gradil existia no século 19 e perdeu-se quando o cemitério teve de ser recuado para o alargamento da avenida (anos 60)”, comenta o arquiteto Adauto Mota.
Ele está desenvolvendo o projeto de recuperação do lugar, a pedido da administração da necrópole, em parceria com o também arquiteto Ronaldo Câmara. “Incorporamos a ideia do gradil, para dar mais visibilidade à capela do cemitério”, diz Ronaldo. Avaliada em R$ 410 mil, a obra contempla a restauração da igrejinha, dos passeios e dos muros, que correspondem às áreas comuns.
O conserto dos túmulos avariados depende do interesse de cada família que tem parentes enterrados no local. “Há sepulturas belíssimas, são obras de arte feitas de mármore, ferro fundido e cantaria, com um rico acervo artístico e histórico, numa escala menor que o Cemitério de Santo Amaro”, destaca Ronaldo. O portão de ferro é uma produção da Fundição Aurora, de 1852.
“Os proprietários da fundição eram ingleses e estão sepultados aqui”, comenta o administrador do Cemitério dos Ingleses, Esmeraldo Veloso Marinho. Segundo ele, a necrópole foi construída para atender a comunidade britânica residente no Recife, no século 19. “Sendo anglicanos e não havendo cemitério público, eles não podiam ser enterrados nas igrejas católicas”, explica.
Há, também, túmulos de franceses, holandeses e suíços no terreno, além de brasileiros, como o general José Inácio de Abreu e Lima (1794-1869). Militar, político e historiador, ele foi enterrado entre os ingleses porque o bispo Cardoso Ayres (1821-1870) não permitiu seu sepultamento no cemitério público.
Algumas lápides indicam a febre amarela, nos anos 1850, como a causa da morte de crianças. Outras trazem informações sobre a profissão que a pessoa exercia. “É um cemitério importante, ligado à história do Recife”, declara a arquiteta Neide Fernandes, coordenadora de Patrimônio da Diretoria de Preservação Cultural da Fundarpe.
Segundo ela, a fundação apresentou apenas propostas para a recuperação da área, com tratamento paisagístico. “Como se trata de um cemitério particular, cabe ao administrador conseguir recursos para executar os serviços”, esclarece. O lugar precisa de drenagem, limpeza, iluminação e plantio de mais árvores, diz ela.
Esmeraldo Veloso informa que está em busca de apoio para fazer o trabalho. “Esperamos contar com a colaboração das famílias, se cada uma recuperar seu túmulo, o cemitério ficará mais bonito”, observa. A intenção é transformar o local num ponto de visitação turística, expondo as obras de arte tumular do século 19.
A necrópole sobrevive da contribuição de sócios e parentes dos mortos. “Se conseguirmos os recursos, a obra fica pronta em 2015.” O Cemitério dos Ingleses realiza uma média de dez enterros por ano e está de portas abertas hoje, Dia de Finados.