O historiador Carlos Bezerra Cavalcanti questiona as obras de paisagismo que estão sendo executadas no Parque Histórico Nacional dos Guararapes, em Jaboatão, município do Grande Recife. Segundo ele, a implantação de trilhas e ciclovia estaria provocando erosão nos montes onde ocorreram duas das batalhas entre holandeses e luso-brasileiros, em 1648 e 1649, no século 17.
Realizada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a intervenção nos Montes Guararapes também prevê abertura de vias, passeios, áreas para lazer, esportes e convivência, pista de bicicross, campos de futebol, quadras, brinquedos, equipamentos de ginástica e bancos. A obra está avaliada em R$ 20 milhões e será implementada por etapas.
“É só observar e ver que a erosão está destruindo o acostamento e o caminho destinado às bicicletas (às margens da via de acesso ao parque), inclusive os trechos asfaltados”, diz Carlos Bezerra. “Antes desse serviço não havia o problema porque a água descia normalmente pela canaleta”, afirma o historiador.
Carlos Bezerra apontou erosão em praticamente toda a extensão do acostamento e da ciclovia. Também criticou os locais escolhidos para receber os bancos de contemplação da paisagem. “Botaram os bancos em áreas aleatórias, sem atrativo, no meio do mato e debaixo do sol. Ninguém vai sentar neles”, avisa.
Superintendente do Iphan em Pernambuco, o engenheiro Frederico Almeida admite que houve erosão nos acostamentos, onde está sendo implantada a ciclovia. “Estamos corrigindo o problema nas áreas inclinadas. A ideia era deixar o chão de terra batida, mas para combater a erosão vamos colocar bloquete permeável”, diz o engenheiro.
A primeira fase do trabalho começou há quase um ano, em 2014, custa R$ 3,17 milhões (recursos do Iphan) e contempla a faixa para ciclistas, criação e complementação de trilhas para pedestres, bancos de concreto pré-moldado, campos de futebol e praças de convivência. Estava prevista para terminar em maio de 2015, mas houve atraso.
“Tivemos dificuldades operacionais, por causa do tráfego de caminhões pesados no parque. Pretendemos encerrar a obra no fim de 2015”, informa Frederico Almeida. A circulação de caminhões e ônibus no local está suspensa desde 19 de março de 2015. Durante a Festa de Nossa Senhora dos Prazeres, a popular Festa da Pitomba, que termina nesta segunda-feira (13), o estacionamento de veículos dos romeiros ficou restrito à Praça dos Canhões.
Antes desse serviço não havia o problema porque a água descia normalmente pela canaleta
afirma o historiador Carlos Bezerra Cavalcanti
O projeto completo prevê a efetivação do Parque Histórico Nacional dos Guararapes, incluindo a estabilização das encostas e a recomposição da cerca de delimitação da área de lazer. Tudo com acompanhamento arqueológico, afirma o engenheiro.
“É uma ação que envolve a prefeitura; a Secretaria de Patrimônio da União (SPU), com o cadastro da população residente no local para fins de regularização fundiária; e a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), com projetos urbanísticos para os Córregos do Balaio e da Batalha. A população é superior a 30 mil pessoas”, diz ele.
Tombado como monumento nacional, o parque foi projetado pelo arquiteto Armando Holanda Cavalcanti (1940-1979). O lugar é formado por três morros, Outeiro, Oitizeiro e Telégrafo (antigo Morro das Barreiras), conhecidos como Montes Guararapes. “A denominação Guararapes, em tupi, significa zoada de chuva”, diz o historiador.