A arquitetura eclética nas ruas do Recife

O ecletismo na capital pernambucana teve início na segunda metade do século 19 e se prolongou até 1930
Cleide Alves
Publicado em 21/06/2015 às 8:08
Foto: Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem


Quem anda pelas ruas do Recife e gosta de observar a arquitetura das edificações já deve ter notado fachadas bem enfeitadas em imóveis residenciais, prédios públicos e estabelecimentos comerciais. São flores e laços barrocos decorando paredes, colunas clássicas e janelas pontudas góticas dividindo o mesmo espaço.

Essa mistura de estilos do passado, batizada arquitetura eclética, surgiu na segunda metade do século 19 e na capital pernambucana fez seu ninho no Bairro do Recife. Mais exatamente no trecho reformado na primeira década do século 20, que compreende as Avenidas Rio Branco e Marquês de Olinda, onde se vê o Edifício Chantecler e os prédios da Associação Comercial de Pernambuco e do antigo Santander Cultural.

“O Bairro do Recife é o único lugar do Brasil onde você tem uma visão integrada do ecletismo, com aquela dimensão”, afirma o arquiteto José Luiz Mota Menezes, presidente do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano. A arquitetura eclética, diz ele, nasce da luta entre a razão iluminista e a emoção romântica no movimento artístico.

O resultado da batalha foi uma maior liberdade para os arquitetos, observa a professora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Guilah Naslavsky. A liberdade casou com a facilidade de se conseguir novos materiais de construção, como o estuque, produzidos em massa pela indústria, acrescenta a pesquisadora.

Com um pé na linha da razão, mas comandados pela emoção típica do romantismo do século 19, arquitetos e mestres de obra deixaram para o Recife imóveis como o Chantecler, neobarroco em seus ornatos floridos, laçarotes e medalhões e neoclássico nas colunas e portais, ensina José Luiz. O nome do edifício é assim mesmo, sem a grafia francesa chanteclair.

PALACETE

Fernando Diniz, professor do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFPE, aponta como herança desse período o palacete inglês da Avenida Rui Barbosa, no bairro das Graças, defronte ao Colégio Damas. “É bem eclético, com arcos góticos, balcão românico e fachada central com um torreão que lembra os castelos medievais”, destaca o professor.

O sobrado do século 19 onde viveu Augusto Frederico de Oliveira, filho do Barão de Beberibe, e onde funciona o Museu do Estado – esquina da Rui Barbosa com a Rua Amélia – apresenta seu lado eclético nas janelas góticas da casa original, nas colunas românicas clássicas e nas musas gregas que decoram a varanda, declara José Luiz.

Ao lado de prédios que já nasceram ecléticos, como a Estação Central, o Gabinete Português de Leitura e o Diário de Pernambuco, todos no Centro, muitos outros tiveram as fachadas revestidas como aconteceu na Rua do Bom Jesus, no Bairro do Recife, comenta Fernando Diniz. E com o Palácio do Campo das Princesas, em Santo Antônio, emenda José Luiz.

Foto: Ashlley Melo/JC Imagem
O Edifício Chantecler, no Bairro do Recife, é um exemplo da arquitetura eclética da cidade - Foto: Ashlley Melo/JC Imagem
Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem
Palacete da Av. Rui Barbosa ( Recife) mistura os estilos gótico e românico numa arquitetura inglesa - Foto: Alexandre Gondim/JC Imagem
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O prédio do Museu do Estado, no Recife, com suas colunas da arquitetura clássica e janelas góticas - Foto: Ashlley Melo/JC Imagem
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O ecletismo na Praça do Marco Zero aparece no antigo Santander Cultural e na Associação Comercial - Foto: Ashlley Melo/JC Imagem
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O Conjunto Chantecler, formado por sete prédios conjugados, tem 733 ornatos decorando a fachada - Foto: Ashlley Melo/JC Imagem
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Localizado na Praça da República, o Palácio do Governo foi reformado para ganhar a fachada eclética - Foto: Ashlley Melo/JC Imagem
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Antiga residência do Conde da Boa Vista, a sede da Polícia Civil exibe o ecletismo na Rua da Aurora - Foto: Ashlley Melo/JC Imagem
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A fachada eclética da sede da URB, antigo Colégio Eucarístico, na Rua Oliveira Lima,no Recife - Foto: Ashlley Melo/JC Imagem
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Casa pitoresca, de influência germânica, na Rua José de Alencar, bairro da Boa Vista - Foto: Ashlley Melo/JC Imagem
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Casa eclética na Rua José de Alencar, no bairro da Boa Vista, Centro do Recife - Foto: Ashlley Melo/JC Imagem

 

É desse hábito de recobrir as fachadas que se origina a expressão “arquitetura de confeiteiros”, diz ele. “O ecletismo foi desprezado e muito criticado pelos modernistas, só nos anos 70 passa ser valorizado”, informa Guilah Naslavsky, lembrando que vem desse período o maior conforto nas construções, o uso do ladrilho hidráulico no piso e as tubulações de ferro.

“Os produtos industrializados tornaram acessíveis as fantasias da pessoas ao baratear o custo da obra, por isso o estilo se popularizou”, diz a professora. No Recife, o ecletismo é mais acentuado de 1890 até 1930. “Está ligado às transformações das cidades, ao crescimento da população urbana nos grandes centros”, diz.

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