Obras de todas as formas, texturas e cores. Artistas de todos os sotaques e regiões. Os 800 espaços - que mais parecem retalhos de uma enorme colcha de memórias e identidades, tradições e inovações, e guardam histórias de amor e dedicação ao ofício, uma verdadeira #FéNaArte - fazem da Feira Nacional de Negócios do Artesanato (Fenearte) vitrine da arte popular brasileira e para os artistas pernambucanos, excelente oportunidade de vendas.
Mestre Zuza Batista, 57 anos, é de Tracunhaém, na Zona da Mata, um dos principais polos da arte do barro. Criador de peças figurativas da fé pernambucana, ele intensifica sua produção desde março, quatro meses antes do evento. "Artista é muito assim: à medida que suas obras vão sendo vendidas, passa a produzir mais."
Esta é a oitava Fenearte da qual Zuza participa - a terceira dele alçado à alameda nobre, dedicada aos mestres artesãos. Formado em história, ele preferiu o ofício da arte ao trabalho de professor - embora ainda dê aulas esporádicas em cursos de formação do artesanato oferecidos pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar). "Trabalho com artesanato desde os 14 anos."
No ano passado, Zuza faturou R$ 5 mil. Um ano fraco de vendas, segundo ele motivado pela Copa do Mundo no mesmo período da feira. Este ano, mesmo com um fantasma chamado "crise econômica", o ceramista se vale do otimismo: "Quero vender tudo".
As formas arredondadas e as expressões ingênuas das obras de Maria Amélia, Patrimônio Vivo de Pernambuco, chamam a atenção de quem entra na Fenearte. Embora tenha fama nacional, é essa feira a maior e mais vista vitrine do trabalho da artesã de 91 anos, também de Tracunhaém. Devido a idade, dona Maria Amélia não veio este ano, mas é representada pelo filho Ricardo, 47, seu braço direito.
Para o estande foram produzidas 50 peças, 20 vendidas antes da abertura do evento, na quinta. As outras 30 variam de R$ 250 a R$ 2 mil. "A Fenearte é a vitrine da gente, é uma das feiras mais importantes do Brasil", afirma Ricardo. Ele espera faturar em 2015 o mesmo valor do ano passado: de R$ 8 a R$ 10 mil. Arte näif, as obras de Maria Amélia traduzem a fé singular do povo nordestino, que desenha pelas próprias mãos as crenças e esperanças no divino.
Luísa Maria da Silva, 56, artesã de Belo Jardim, no Agreste, ficou encantada quando veio à Fenearte pela primeira vez, em 2011. "É a mais bonita de todas a que já fui. A melhor", enfatiza. Atendendo pela alcunha de Luísa dos Tatus, mamífero que predomina entre as produções de barro da artista, ela lembra que há quatro anos largou as peças com as amigas e saiu passeando pelos mais de 20 corredores da feira.
"Fui conhecer tudo, as coisas dos outros países e das outras cidades." Hoje ela se orgulha de fazer parte dessa vitrine. Trouxe mais de 200 obras e espera faturamento de R$ 2 mil. Luísa começou a trabalhar com barro há 40 anos, fazendo panelas. Há 11 passou a criar obras figurativas. Quando a Fenearte se aproxima, dobra a produção. "Em janeiro eu começo a fazer as peças. Por mês, são 115. Algumas são vendidas antes e as outras eu separo para a feira."
Essa dedicação é também algo que mexe com a produção de Oscarina Eugênia, rendeira de Poção, Agreste. Acaba uma edição do evento e a artesã já está criando para o ano seguinte. "É a maior venda. Esperamos o ano inteiro", conta ela que há 13 anos vem à Fenearte.