Iphan quer transformar o mamulengo em Patrimônio Imaterial da Humanidade

Brincadeira é característica do Nordeste brasileiro e resiste há mais de 200 anos
Da Editoria Cidades
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Publicado em 18/08/2015 às 8:08
Brincadeira é característica do Nordeste brasileiro e resiste há mais de 200 anos Foto: Foto: Guga Matos/JC Imagem


O mamulengo, reconhecido em março de 2015 como Patrimônio Imaterial do Brasil, vai concorrer ao título de Patrimônio da Humanidade. Ainda não há uma data oficial para se fazer o pedido, mas a brincadeira, típica da região nordestina, já cumpre as exigências da Unesco.

Para candidatar-se ao registro internacional é preciso o reconhecimento no País e um plano de salvaguarda do folguedo. “Temos as duas coisas, agora só falta elaborar o dossiê”, diz Natália Brayner, da diretoria de Patrimônio Imaterial do Iphan em Brasília.

O anúncio foi feito segunda-feira, 17 de agosto, Dia do Patrimônio Histórico Nacional, em oficina para discutir formas de preservação do Teatro de Bonecos Popular do Nordeste, realizada em Igarassu, município do Grande Recife. A atividade faz parte da 8ª Semana do Patrimônio Cultural de Pernambuco.

A solicitação será encaminhada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e Associação Brasileira de Teatro de Bonecos (ABTB), a entidade que requisitou o registro do mamulengo como Patrimônio Imaterial do Brasil, em 2004.

No mesmo evento, que se estende até sexta-feira próxima (21), o diretor do Departamento de Patrimônio Imaterial do Iphan, Tetê Catalão, divulgou o Prêmio Teatro de Bonecos Popular do Nordeste, com lançamento previsto para 2015. A ideia é fortalecer os mestres bonequeiros.

“Cada mestre que morre é uma biblioteca enterrada, são tesouros debaixo da terra. Precisamos salvar e guardar esse conhecimento para as novas gerações”, diz Tetê Catalão. Serão concedidos 40 prêmios no valor de R$ 20 mil para mamulengueiros vivos e outros cinco para a família dos artistas falecidos.

Natália Brayner acrescenta que podem participar mestre bonequeiros – Mamulengo, Babau, João Redondo e Cassimiro Coco – com mais de 20 anos de atuação, idade mínima de 55 anos e que tenham contribuído para a preservação dessa expressão cultural.

“Dos 37 patrimônios imateriais brasileiros, oito registros são de Pernambuco, é o Estado com mais representação. A salvaguarda do mamulengo é importante, porque muitos mestres estão morrendo”, destaca o engenheiro Frederico Almeida, superintendente do Iphan em Pernambuco.

O mamulengo é vida para toda vida

Mestre Miro de Carpina

A professora de teoria da arte e expressão artística da Universidade Federal de Pernambuco, Isabel Concessa, confirma a preocupação do instituto. Em pesquisa para subsidiar o pedido de Patrimônio Imaterial do Brasil, junto ao Iphan, ela encontrou apenas 18 mamulengueiros no Estado.

“Esse número pode ser maior, mas é difícil localizá-los, principalmente fora da Zona da Mata”, informa Isabel Concessa. Mamulengueiro há 20 anos, Ermírio José da Silva (Miro de Carpina) confecciona bonecos desde os 7 anos e se sustenta da arte. “O mamulengo é vida para toda vida”, define o mestre, no evento em Igarassu.

Mestre Tonho de Palmares também participa da oficina e faz um alerta. “Sem mamulengueiro não tem mamulengo. É preciso cuidar do ser humano que empresta sua alma ao boneco”, diz ele. O encontro é realizado no Sobrado do Imperador, no Centro Histórico da cidade, onde funciona a Casa do Patrimônio de Igarassu, mantida pelo Iphan.

O sobrado oferece, até 17 de agosto de 2016, a exposição Preservar Igarassu, inaugurada sábado passado (15). A mostra é composta de painéis contando a história da cidade e fica aberta ao público de segunda a sexta-feira (exceto esta semana), das 9h às 12h e das 13h às 17h.

“Temos também o Jogo do Patrimônio, de tabuleiro, com 4 metros por 5 metros, que mede atitudes positivas e negativas na preservação da cultura. O pino é o próprio visitante”, diz a historiadora Juliana Cunha, coordenadora de atividades de Educação Patrimonial do Sobrado do Imperador.

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