Depois de anos sem ver a cor de uma vassoura, a casa-grande do antigo Engenho Guerra, no Cabo de Santo Agostinho, município do Grande Recife, passou por uma limpeza geral. O mato que quase engolia a edificação foi cortado e o atual proprietário tem planos para restaurar as fachadas ou consolidar as paredes tal como estão, evitando, assim, um possível desabamento.
“Contratamos dois especialistas em restauração de prédios históricos, os arquitetos Jorge Passos e Vera Menelau, para avaliar a situação do imóvel. Eles vão dizer qual a melhor forma de intervenção, se a restauração ou a conservação das ruínas”, afirma Arménio Ferreira, diretor de Desenvolvimento da Cone S/A, empresa que adquiriu a área.
O casarão, construído no fim do século 19 ou início do 20, não é tombado e está desocupado há mais de uma década. “Mesmo não sendo um imóvel protegido por lei, trata-se de um patrimônio e não vamos desprezá-lo. É importante preservar a história e não perder esse padrão arquitetônico, característico da época”, declara Arménio Ferreira.
A empresa ainda não definiu o novo uso que dará ao prédio, mas adianta que pretende abrir o local à visitação pública, depois de recuperado. Uma proposta seria instalar, na edificação, um museu para contar a história da cana-de-açúcar na região, comenta o empresário. Ele não estabeleceu prazos, diante da instabilidade econômica do País.
Toda a movimentação feita no imóvel é comunicada à Prefeitura do Cabo e ao Ministério Público, informa Arménio Ferreira. A primeira ação, diz ele, foi a limpeza num raio de 150 metros em volta da casa-grande, que ficou mais visível para quem trafega pela BR-101. O antigo engenho fica nas imediações do Hospital Dom Helder Camara, do lado oposto da rodovia.
Sem o matagal, quem anda pelo lugar pode contemplar as três escadarias de acesso ao casarão: uma na fachada principal e duas nas laterais, com formatos diferentes. Entulhos também foram tirados de dentro da edificação. A limpeza deixou evidente as divisões de cômodos na parte de trás da antiga moradia, que estava tomada pelo mato. Havia até árvores crescendo na parede.
A edificação preserva adornos florais nas paredes externas e peças decorativas na coberta. Janelas e portas, de madeira, encontram-se quebradas. Algumas nem existem mais. A casa, toda de tijolos maciços (sem furos) está destelhada, rachada e pichada. A escada de acesso ao pavimento superior sumiu, assim como o piso do primeiro andar.
De acordo com Reinaldo Carneiro Leão, pesquisador do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, o Engenho Guerra produzia cana-de-açúcar e foi fundado antes da ocupação holandesa no Nordeste brasileiro (1630-1654). O casarão no alto de uma colina, porém, é mais novo.
A Cone S/A não sabe como vai ocupar as terras, de acordo com Arménio Ferreira. “Por enquanto, a Usina Bom Jesus continua plantando cana na área”, afirma. A empresa trabalha com soluções logísticas (armazenagem e pátio de contêiner) e atua na região do Porto de Suape, localizado no Cabo de Santo Agostinho.