Cerca de cem famílias que vivem às margens do Canal de Guarulhos – em obras há quatro anos – em Jardim São Paulo, Zona Oeste do Recife, tiveram suas casas invadidas pela água. Muitos perderam móveis, roupas e objetos pessoais, tendo de se abrigar na casa de vizinhos. Outros não encontraram opção e ficaram, literalmente, dentro da água, com crianças de colo, cadeirantes e idosos.
O casal de idosos Valdir Francisco Santana, 76 anos, e Maria Luíza Santana, 78, passaram o dia sobre a cama. “Minha mãe tem o fêmur quebrado e um monte de doenças. Meu pai está operado da próstata. Nem ao banheiro eu deixei eles irem. Ia fazer como?”, diz a dona de casa Débora Raquel Santana, 30. Ela e dois irmãos também tiveram os imóveis alagados.
“Eu perdi tudo. Eu e meu marido fomos trabalhar e quando voltei até as roupas estavam boiando”, lamenta a doméstica Maria do Carmo Silva, 44. “Não aguentamos mais tanto descaso. Todo ano é um prejuízo, piorou tudo depois que começaram essa obra do canal e não terminaram. Disseram que iam indenizar a gente e nada. É todo mundo doente, tem lixo por toda parte”, critica a dona de casa Rosângela Castro, 45.
A água do canal atingiu várias ruas urbanizadas do entorno. A autônoma Geisa Lima, 35, teve de passar com água na altura do tórax, com a ajuda do vizinho José Ferreira, 45. “Vou buscar minha filha na escola, tenho carro mas não posso usar. Só arriscamos porque conhecemos a área, há cinco bueiros abertos aqui”, diz.
Conforme a Prefeitura do Recife, a obra do canal está em andamento, com 30 operários atuando, e tem previsão para ser concluída no final de 2017. O serviço de limpeza deve começar este mês. A Empresa de Urbanização do Recife (URB) diz que “todas as casas atingidas serão retiradas de acordo com o desenvolvimento da obra”.
Em várias ruas dos bairros vizinhos, a água também ficou acumulada, invadindo imóveis e dificultando a mobilidade. Foi o caso da Avenida General San Martin, no bairro homônimo, e na Avenida Recife, que corta San Martin e Jardim São Paulo. Algumas ruas dos bairros da Mustardinha, Estância e Areias ficaram intransitáveis. Em muitos pontos via-se veículos quebrados e trânsito parado.