Em encontro nacional sobre construção civil, nesta quinta, com o presidente interino da República, Michel Temer, o secretário de Habitação de Pernambuco, Marcos Baptista, aproveita para colocar em pauta, junto ao Ministério das Cidades, a segunda etapa da Via Metropolitana Norte, em Olinda. Orçada em R$ 123 milhões, essa fase precisa da liberação dos recursos para ter início. A primeira etapa (R$ 121 milhões) começou em março de 2013 e vem se arrastando desde então, sendo apontada como responsável por graves enchentes em bairros no entorno do Canal do Fragoso, tais como Casa Caiada, Bultrins e Jardim Atlântico.
A obra inicial prevê o alargamento e revestimento de 2,3 quilômetros do canal (1,1 quilômetro executado) e construção de oito pontes, das quais quatro faltam apenas o acabamento. Inspeção realizada em maio por engenheiros do Tribunal de Contas do Estado (TCE) constatou que, além de estar atrasada, a obra vem sendo tocada de forma inadequada, da parte de onde nasce o rio para a jusante, “na contramão do que rezam as boas práticas de engenharia referentes à execução de obras de macrodrenagem”.
“Moro há 80 anos em Olinda e nunca vi a água transbordar como na última enchente. Com certeza, foi por causa dessa obra”, avalia o aposentado Fausto Alves, 87. O biscateiro Geraldo Gomes, 40, diz que a vida dos moradores dos bairros em torno do canal só piorou após o início da urbanização. “Quando o rio era pequenininho tinha alagamento, mas não como as cheias que a gente tem enfrentado. Muita gente perdeu tudo e abandonou suas casas”, declara.
Uma comissão de moradores dos bairros alagados vem discutindo, quinzenalmente, o andamento da obra da Via Metropolitana com a Secretaria de Habitação e Prefeitura Municipal de Olinda. Integrante do grupo, Alexandre Miranda denunciou em seu perfil do Facebook que Estado e município fazem um jogo de empurra sobre a responsabilidade dos alagamentos.
“A Cehab (Companhia Estadual de Habitação e Obras) acusa a quantidade de chuva e a falta de manutenção/limpeza dos rios. E insiste em dizer que a obra não tem responsabilidade alguma sobre a enchente. Pelo contrário, ajudou”, escreveu. “Já a prefeitura segue acusando a obra, baseada no relatório do TCE, como se também não tivesse responsabilidades com o serviço, que acontece em seu território”.
Tanto a comissão quanto o TCE estão agendando visita ao local. Apesar de haver dois tratores operando na área, a própria Secretaria de Habitação admite que o ritmo dos trabalhos só vai ser acelerado em setembro, quando termina o período chuvoso. Um trator, inclusive, está abandonado há meses por trás do Corpo de Bombeiros, em Jardim Atlântico.
Grande quantidade de areia permanece à margem do Canal do Fragoso, podendo ser levada para o curso-d’água, em caso de uma chuva mais forte. Moradores reclamam que, com as desapropriações e retirada de cerca de 700 casas, a tubulação de água foi arrancada e eles permanecem sem abastecimento. Também se queixam de falta de iluminação e de placas de sinalização.
Se o secretário conseguir a liberação dos recursos para a segunda etapa, serão iniciados o alargamento e revestimento de mais 2,2 quilômetros do canal, construção de um viaduto sobre a PE-15 e de quatro pontes. Ainda serão implantados 6,1 quilômetros de extensão de vias marginais e construção de 840 unidades habitacionais. O projeto prevê a construção de duas pistas de 6,1 quilômetros e 10,5 metros de largura, entre a PE-15 e a Ponte do Janga, além de 5,5 quilômetros de ciclovia.