Cerca isola moradores vizinhos do Parque Histórico dos Guararapes

Bloqueio no Parque Histórico dos Guararapes foi colocado pelo Exército para delimitar a área considerada de preservação nacional
Da Editoria Cidades
Publicado em 11/10/2016 às 10:30
Bloqueio no Parque Histórico dos Guararapes foi colocado pelo Exército para delimitar a área considerada de preservação nacional Foto: Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem


Há três meses, o Comando da 7ª Região Militar fechou com cerca áreas de acesso ao Parque Histórico Nacional dos Guararapes, em Jaboatão. Desde então, moradores da 5ª Travessa Gonçalves Dias, em Jardim Jordão, não conseguem entrar e sair de casa quando estão de carro.

A comunidade cresceu em volta dos Montes Guararapes e para chegar à Estrada da Batalha ou à BR-101, de carro, o único caminho é pelo parque. Com os bloqueios do Exército, a rua ficou isolada. “A cerca prejudicou muita casa. Eu tenho garagem, mas meus filhos agora botam os carros na rua”, diz Marlene Maria Ribeiro, 62 anos.

Segundo ela, os filhos deixam os veículos na parte baixa do bairro e sobem a ladeira a pé. “Quem pode está usando garagem particular, mas cobram de R$ 50 a R$ 100 por mês. Eu não tenho como pagar”, afirma. Nos dias de feira, a família carrega as sacolas ou desembolsa R$ 15 pelo frete.

Além de colocar a cerca, estacas e contêineres cheios de areia para fechar as passagens, o Exército lacrou o portão da garagem que fazia a comunicação da casa de Marlene com o Parque Histórico dos Guararapes. “Nessas condições, nem vender esse imóvel a gente consegue mais”, destaca. Ela vive na 5ª Travessa Gonçalves Dias há mais de 30 anos.

Estamos totalmente presos”, observa Regina Maria Ribeiro, acrescentando que a cerca já existia, mas toda casa tinha portão. “O Exército fechou tudo, fiquei sem portão.” Para entrar e sair de casa ela cruza o quintal da vizinha.

Regina está fazendo uma reforma na casa e relata a dificuldade para transportar o material de construção. “A gente traz de moto ou em sacos na cabeça. Moro aqui há 30 anos e nunca tinha acontecido isso. A única forma de chegar de carro é dizer na guarita que somos visitantes do parque”, ressalta.

Para Risolene Oliveira da Silva Cândido, 39, a situação é mais delicada. Ela perdeu uma perna em acidente de motocicleta há um ano e quatro meses e se locomove em cadeira de rodas. Sem o carro na porta de casa, ela depende da ajuda de quatro homens para carregar a cadeira.

“Eu morava na parte mais alta da rua e me mudei para a casa do meu pai, que fica mais embaixo. Mesmo assim, só saio para ir ao médico e à fisioterapia. Isso é horrível”, diz Risolene. Ela perdeu duas sessões de fisioterapia e está ameaçada de ser desligada do programa.

EXÉRCITO

O Comando da 7ª Região Militar, responsável pelo Parque Histórico dos Guararapes, informa que restaurou a cerca após a 5ª Vara Federal conceder reintegração de posse ao Exército. Numa primeira ação, iniciada em 13 de junho, os militares avisaram à população sobre o mandado judicial. A cerca foi instalada de 27 de junho a 1º de julho. No momento está sendo feito patrulhamento na área e depois, as cercas serão substituídas por alambrados.

De acordo com o general José Luiz Jaborandy, comandante da 7ª Região Militar, foram preservados acessos de pedestres ao longo do cercamento para facilitar a circulação e o ingresso ao parque. Sobre a circulação de veículos, ele esclarece que o acesso continua permitido, apenas pela Estrada da Batalha, para garantir o controle e a segurança no local.

A área do parque foi tombada em 1955 e sofreu invasões e depredações com o passar dos anos, diz ele. Moradores de áreas limítrofes, afirma o general, construíram garagens e cômodos com acessos voltados para o monumento tombado, “caracterizando violações ao cercamento e às regras de utilização do parque”.

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