A última remessa de merenda entregue na creche vinculada à Escola Clodoaldo Gomes de Araújo, no bairro de Penedo, em São Lourenço da Mata, no Grande Recife, foi um saco de pão, 30 dias atrás. Há um mês, as aulas estão suspensas e sem previsão de retorno. A despensa, para armazenamento de alimentos, está vazia. A energia e a água foram cortadas por falta de pagamento e os 115 alunos da unidade estão entregues à própria sorte.
Na manhã de ontem, pais, alunos e funcionários realizaram um protesto contra a situação crítica do estabelecimento. Com apenas três salas, cozinha e uma área improvisada para recreação, a creche é a única da região voltada à educação infantil. Fora ela, só há instituições particulares cuja mensalidade não cabe no orçamento da maioria dos moradores do bairro. Carteiras quebradas, equipamentos enferrujados e buracos nas paredes e no chão evidenciam o descaso por parte da prefeitura local.
“O que mais me dói é ver crianças sem aula, sem merenda. Elas precisam de assistência, pois aqui é um bairro carente. Isso chega a ser desumano e a gente não sabe mais o que fazer”, desabafou Giselia Francelina, voluntária na instituição há 12 anos.
Em 37 anos de funcionamento, essa é a primeira vez que as aulas da creche são suspensas. Estudam lá crianças de 2 a 10 anos, algumas em tempo integral e com necessidades especiais. Além da incerteza sobre a conclusão do ano letivo, muitas mães deixaram de trabalhar para cuidar dos filhos. A dona de casa Joelma Soares, mãe de duas crianças de 7 e 6 anos, uma delas autista, lamenta a situação.
“Eles perguntam quando vão voltar à creche, querem saber dos amiguinhos, da professora, fazer atividades. A gente não tem como pagar escola particular e não há outra unidade pública aqui. Ficamos ao deus-dará”, desabafou Joelma. Amanda Brito, com dois filhos (2 e 7 anos) matriculados na creche, também cogita deixar o emprego para cuidar das crianças. “Não tenho como pagar a alguém para olhar meus filhos”, afirmou.
Lotada na creche, a professora Marlene Santos contou que foi à Secretaria Municipal de Educação, junto com outros funcionários, em busca de respostas sobre o futuro da instituição. Enquanto mostrava as folhas de frequência dos funcionários, ela relatou que os profissionais mantiveram o atendimento às crianças mesmo sem receber o salário, mas foram obrigados a encerrar as atividades depois do corte no fornecimento de energia e água. “A situação ficou insustentável”.
“É um quadro desesperador, tanto para os alunos e pais, como para nós, funcionários. Não recebemos salário e fomos informados de que não há previsão para pagamento”, lamentou Marlene.
A Prefeitura de São Lourenço informou, por meio de nota, que foi obrigada a efetuar cortes e a reduzir despesas para cumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal e que os alunos serão reconduzidos a outras instituições “sem nenhum prejuízo na prestação do serviço”. Informou, ainda, que a Secretaria de Educação “vai enviar uma equipe ao local para esclarecer a situação à comunidade e resolver os problemas”.