Um prédio que estava caindo aos pedaços na esquina da Avenida Marquês de Olinda com a Rua Mariz e Barros entrou em contagem regressiva para sair da lista de imóveis com risco de desabamento no Bairro do Recife. A edificação de quatro pavimentos (térreo, primeiro andar, segundo piso e mezanino está sendo restaurada e em meados de 2017 terá novo visual nas paredes.
“Iniciamos com a recuperação das fachadas, incluindo janelas e esquadrias de ferro, e a limpeza interna do edifício, que se encontra muito deteriorado. Essa etapa deve demorar pouco mais de seis meses”, informa o engenheiro Ed Pinto, responsável pela obra. Segundo ele, a intervenção foi liberada pela prefeitura em 22 de novembro último e o projeto passou um ano e meio em tramitação.
A reforma interna, diz Ed Pinto, poderá ser feita paralelamente à restauração das fachadas ou após a conclusão do serviço. “Vamos avaliar.” A ideia do proprietário, a empresa Excelsior Seguros, é preservar a forma original do prédio, mantendo a divisão de quatro pavimentos. A ocupação que será dada ao imóvel ainda não está definida. Sabe-se, apenas, que não será uso habitacional.
“A situação é muito ruim, de modo geral, mas o prédio é recuperável”, afirma o engenheiro. Ele fez o mapeamento dos danos nas fachadas e contratou operários especializados em restauração para recuperar os adornos. “É um trabalho artesanal, numa intervenção dessa não se fala em produção, não se pode ter pressa.”
De janeiro a dezembro de 2016, a Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano do Recife autorizou a restauração de 56 imóveis do bairro. “Recuperar um prédio histórico é gratificante, toda a população sai ganhando”, diz o engenheiro. “Falta o poder público melhorar a infraestrutura, principalmente esgoto, e a segurança.”
No Bairro do Recife, há prédios passando por obra de restauração na Rua Vigário Tenório, Rua da Guia, Rua do Apolo, Rua do Bom Jesus e Avenida Barbosa Lima. A sede da Excelsior Seguros, na Avenida Marquês de Olinda, teve a pintura das fachadas renovada.
“É ótimo a iniciativa privada estar recuperando os prédios”, avalia o sociólogo José Arlindo Soares, secretário de Planejamento do Recife na gestão de Jarbas Vasconcelos, quando teve início o processo de resgate do bairro, no começo da década de 1990. Naquela época, recorda, a prefeitura desapropriou imóveis da Rua do Bom Jesus, para vender ou alugar a empreendedores, como uma demonstração de que era possível revitalizar o lugar.
Era uma tentativa de estimular a iniciativa privada, pelo valor histórico e cultural do bairro, destaca José Arlindo. “Num segundo momento, o setor público novamente se faz presente, com o Porto Digital, mas desta vez agregando valor econômico ao juntar o polo de informática ao charme do lugar”, diz. “O processo de resgate é contínuo, mas falhou na questão social, pois não avançou no ordenamento da comunidade do Pilar.”
Para o atual secretário de Planejamento Urbano do Recife, Antônio Alexandre, a recuperação de imóveis no Bairro do Recife é um processo que vem consolidando ao longo dos anos. “Começou como um polo institucional e agora está atraindo o interesse do mercado imobiliário.” Segundo ele, a prefeitura pretende regulamentar instrumentos urbanísticos em 2017 para exigir de proprietários de imóveis abandonados a recuperação e um uso para a edificação.
O último estágio, avisa, é o município fazer a desapropriação do edifício com títulos da dívida pública e para uso público. “Vamos começar a fazer experimentos na cidade”, diz Antônio Alexandre. Hoje, a prefeitura pode recorrer à Justiça para obrigar o proprietário a recuperar o imóvel deteriorado – e pode chegar à desapropriação – com base no Código Civil.
A desapropriação de imóveis em situação de risco é defendida por populares nas ruas do bairro. “Seria o ideal, para esses prédios não ficarem abandonados”, diz o guardador de carros Ed Carlos Gomes da Silva. Ele mora há sete anos no térreo de um edifício interditado e cercado por tapumes na esquina da Rua da Guia com a Avenida Barbosa Lima. “Lá dentro é seguro”, crê o flanelinha. “Só caem mesmo as pastilhas e o reboco das fachadas.”
Há 400 imóveis em risco no Centro da cidade, segundo a Defesa Civil. Parte deles fica no Bairro do Recife, caracterizado por edificações de arquitetura eclética.