Museu irá contar história da comunidade da Ilha de Deus

Estrutura terá conceito inovador, com a participação dos moradores locais, reunindo mais de cinco mil documentos
Luiza Freitas
Publicado em 05/08/2017 às 17:33
Foto: Foto: Diego Nigro/JC Imagem


Nos próximos três anos a comunidade da Ilha de Deus, na Zona Sul do Recife, irá escrever um novo capítulo da própria história. Durante esse período será estruturado o Museu Digital Frei Beda, erguido para reunir mais de cinco mil documentos que contam as transformações vividas pelos pescadores e catadores de marisco que ali vivem. Criado sob o conceito de “museu aberto”, pioneiro na cidade, o equipamento vai contar com a colaboração dos moradores desde a concepção do projeto até o seu funcionamento, além de fortalecer as iniciativas sociais e ambientais já existentes.

O lançamento da pedra fundamental para a construção do museu será no próximo dia 19. A estrutura funcionará em um prédio já existente, em frente ao Marco Zero da Ilha. “Esse era um espaço muito excludente, de uma realidade social muito cruel. Até que o Frei Beda chegou aqui (na década de 1980) e começou a transformar isso junto com a comunidade. As pessoas são memória viva dessa história e elas são parte determinante para a criação do museu”, afirma a museóloga responsável pela implementação da estrutura, Regina Batista.

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O nome que batizará o espaço é uma lembrança ao frei franciscano alemão que chegou ao Recife em 1983, quando a localidade era conhecida como Ilha Sem Deus, em função da realidade de violência e miséria. “Até que ele fez a primeira missa no local, que passou a se chamar Ilha de Deus, e, junto com a comunidade, foi mudando as coisas. Mas ele nunca impôs nada, nunca disse como deveria ser. Ele encontrou um caminho com a participação da comunidade”, afirma a presidente da ONG Saber Viver – uma das heranças do frei –, Nalvinha da Ilha.

Desde a década de 1980 até sua morte, em 2015, o religioso retornou periodicamente à comunidade e ajudou a manter ações sociais através do financiamento de entidades católicas da Alemanha. Durante esse tempo a realidade local mudou bastante. O trabalho da Igreja e de entidades não governamentais muniu os moradores de consciência política e afastou os forasteiros que iam para a ilha se esconder depois de praticar crimes. A comunidade composta quase que totalmente por palafitas começou a ser urbanizada em 2007, em uma ação do governo do Estado. No lugar do chão de lama e cascas de sururu foram construídas vias exclusivas para pedestres com a intenção de preservar a característica de um vilarejo pesqueiro e casas de alvenaria. Em 2009, a ponte de tábuas que ligava a ilha ao bairro da Imbiribeira deu lugar a uma estrutura de concreto batizada de Vitória das Mulheres, uma homenagem ao papel determinante das catadoras de marisco para a transformação do local.

Foto: Diego Nigro/JC Imagem
- Foto: Diego Nigro/JC Imagem
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Foto: Diego Nigro/JC Imagem
- Foto: Diego Nigro/JC Imagem
Foto: Diego Nigro/JC Imagem
- Foto: Diego Nigro/JC Imagem

Essa transformação foi registrada por Frei Beda e sua equipe, que ao longo dos anos reuniu um acervo de quase cinco mil fotos e vídeos do lugar e de seus habitantes. “Não tinha nenhum registro ou acervo conosco. Tudo estava na Alemanha e fomos lá buscar, enquanto ele ainda estava vivo”, conta o coordenador de projetos sociais da ilha, Edy Rocha. Junto a Nalvinha, ele peregrinou por várias cidades da Alemanha e Holanda para reunir o material e trazer de volta ao Brasil, já com a ideia de criar o museu.

As fotografias datam principalmente das décadas de 1980 e 1990, registros de quando a maior parte das moradias era composta por palafitas e os moradores precisavam usar pequenos barcos para carregar os móveis para as casas. “No começo, o museu ia ser instalado em um cômodo da Saber Viver, mas o material que encontramos foi tão rico e tão grande que aumentamos a ideia”, explica Edy.

APOIO

Ao ampliar o projeto, os líderes da comunidade procuraram apoio do Porto Digital através do Laboratório de Objetos Urbanos Conectados (Louco), iniciativa que visa encontrar na tecnologia soluções para a cidade. A Ilha de Deus acabou se tornando o tema de dois importantes eventos do laboratório, o workshop de férias – que reúne estudantes de escolas públicas e privadas – e o hackathon, onde foram desenvolvidos projetos para a comunidade. “Quando me procuraram eu expliquei que, apesar de o objetivo deles ser o museu, nós deixaríamos livre para identificar o que é mais relevante para a comunidade. E os próprios participantes abraçaram a ideia de que a ilha toda fosse o museu”, explica a coordenadora do Louco, Tarciana Andrade. Além de ideias para o funcionamento do novo espaço, dos eventos surgiram soluções sociais e ambientais, como a transformação da casca do sururu – um dos maiores e mais antigos problemas da comunidade – em produto para a produção de materiais de construção.

A fase inicial de criação do museu, referente à pesquisa e levantamento do inventário, foi orçada em R$ 400 mil, recursos que já estão garantidos. No dia do lançamento da pedra fundamental será divulgada uma vaquinha virtual para a compra de equipamentos e desenvolvimento de ações educativas.

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