Psiquiatras denunciam deficiência na rede de saúde mental no Estado

Superlotação, falta de medicamentos e de estrutura estão entre os problemas apontados
Cidades
Publicado em 08/11/2017 às 7:14
Superlotação, falta de medicamentos e de estrutura estão entre os problemas apontados Foto: Divulgação/SPP


A Sociedade Pernambucana de Psiquiatria (SPP) entrega hoje ao Ministério Público de Pernambuco (MPPE) denúncia sobre a desassistência à saúde mental no Estado. A acusação é embasada em informações, fotos e vídeos que mostram questões como superlotação, deficiência estrutural e falta de medicamentos no Hospital Ulysses Pernambucano, conhecido como Hospital da Tamarineira, única emergência psiquiátrica no Estado, na Zona Norte do Recife, onde pacientes atearam fogo e quebraram pias do banheiro, durante a madrugada.

“Estive no local e me deparei com uma mãe que desde a quarta-feira passada está com o filho de 19 anos aguardando uma vaga em uma cadeira. O doente chega em crise, é amarrado na cadeira e fica lá até ceder a cadeira para outro”, declara a presidente da SPP, Kátia Petribu. “A superlotação acontece porque a rede não funciona. Os leitos disponíveis não dão conta. E não se termina doença por decreto, como querem fazer”.

A psiquiatra diz que concorda com a política de desospitalizar o doente, quando possível. “Muitas pessoas não têm a menor condição de conviver em família, precisam de hospital até se equilibrarem”, pondera.

Há 17 anos trabalhando na Tamarineira, a psiquiatra Milena França pensa do mesmo jeito. “A reforma psiquiátrica é muito bonita no papel, mas na prática não funciona. Fecharam hospitais e não conseguem garantir o atendimento necessário”, diz. “No Ulysses, reduziram 25 leitos, a estrutura é precária, a média de espera é de dois a três dias e faltam medicamentos. E a agressividade dos doentes é maior pois muitos usam drogas. Talvez tenha sido essa situação que os levou a se rebelar”.

RESPOSTA

Por meio de nota, a direção do Ulysses (que atende mais de mil pessoas ao mês) alega que a lotação dos últimos dias foi motivada pela demanda reprimida do feriado prolongado, já que os Centros de Atenção Psicossocial (CAPs) não funcionaram. Afirma que a unidade não recusa usuários e dá prioridade aos mais graves, não havendo falta de medicamentos ou profissionais.

O gerente de atenção à saúde mental da Secretaria Estadual de Saúde (SES), João Marcelo Ferreira, afirma que dos 16 hospitais que haviam no Estado 11 foram fechados com a nova política de saúde mental, mas que a rede está sendo estruturada e já conta com 134 CAPs nos municípios. Com 161 leitos disponíveis em hospitais, ele admite que o número pode melhorar, embora não reconheça demanda reprimida. “Nossa cobertura é de 1,04,ou seja, para cada 100 mil habitantes temos um CAP, algo bastante significativo junto aos indicadores do Ministério da Saúde”.

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