“Ter e não ter água é o mesmo que nada.” A frase é dita com um misto de constrangimento e revolta pelo aposentado Manoel Antônio dos Santos, 72 anos, enquanto tenta, mais uma vez em vão, abrir a torneira em busca de água na sua humilde casa em Jataúba, no Agreste do Estado, a 229 quilômetros do Recife. A indignação dele tem a ver com o fato de que a poucos quilômetros dali a barragem do Sítio Luiza, que abastece (ou deveria abastecer) a cidade de 17 mil moradores, está completamente cheia há mais de um mês. Depois de sete anos de seca, o reservatório voltou a encher e sangrou no dia 4 de março após as chuvas no Agreste, mas não está distribuindo água devido a problemas na rede.
“É um absurdo, né? Quando não tinha água tudo bem, mas agora com a barragem derramando lá e você sem água em casa, tendo que comprar. Isso tá errado, né não, seu moço?”, questionou, com razão, Manoel. A situação dele é a mesma de moradores de outras localidades próximas, como a do distrito de Poço Fundo, em Santa Cruz do Capibaribe, que em pleno período de estiagem comemoraram ao ver sua barragem voltar a acumular água com as chuvas após cinco anos completamente seca, mas ainda não a receberam em casa.
Enquanto a aguardada água não chega na casa de seu Manoel, em Jataúba, ele continua gastando R$ 140 no carro-pipa. Cabe a sua esposa Severina da Soledade, 71 anos, o desafio de fazer o “investimento” render ao máximo. “A gente faz de tudo pra ver se a água dura pelo menos um mês e 15 dias. Mas é um sufoco, viu? Tem que economizar cada gota. É lavar roupa com um balde embaixo pra aproveitar no banheiro”, contou Severina, mostrando a engenharia que faz no tanque da residência para não deixar o precioso líquido escapar.