Convento de São Francisco de Olinda: patrimônio do Brasil há 80 anos

A partir deste domingo (20/05), até o próximo dia 28, o JC e JCOnline publicam série de reportagens sobre os primeiros prédios de Olinda tombados individualmente como patrimônio do Brasil. Das dez edificações selecionadas pelo Iphan, 80 anos atrás, sete são igrejas, uma abrigou o Palácio Episcopal e duas eram moradia. Protegidos por lei federal, os imóveis não podem ser destruídos nem descaracterizados. Conheça hoje o primeiro convento franciscano do País, que remonta ao século 16
Cleide Alves
Publicado em 20/05/2018 às 8:08
Foto: Foto: Alexandre Gondim / JC Imagem


A história do Convento de São Francisco, na Cidade Alta de Olinda, começa em 1577 quando a pedido de Dona Maria da Rosa, uma benfeitora, é construído um pequeno prédio para receber os frades portugueses que viriam morar no Brasil. Eles só chegam em 1585, a edificação foi incendiada pelos holandeses em 1631 e os religiosos levaram 42 anos para refazer a nova casa.

É esse prédio, erguido aos poucos de 1712 a 1754 com a típica arquitetura franciscana barroca, que recebe o título de patrimônio brasileiro em 1938. “Tudo o que sobrou do antigo imóvel depois do incêndio foi a Capela do Capítulo, onde os frades rezavam e faziam as reuniões de planejamento”, informa frei Rogério Lopes, guardião do convento.

O grande atrativo da edificação secular são os azulejos portugueses, espalhados em vários ambientes, afirma o frade. No claustro, os painéis do século 18 contam passagens da vida de São Francisco. Os azulejos que forram a nave da Capela de Sant’Ana retratam o casamento dos avós de Cristo (São Joaquim e Santana, pais de Maria), entre outras imagens do casal, baseadas nos evangelhos apócrifos.

Um dos painéis de azulejo da Igreja de Nossa Senhora das Neves mostra a circuncisão de Jesus. “É uma cena rara e emociona o público”, destaca frei Rogério. Pela nave da igreja o visitante tem acesso à Capela de São Roque, da Ordem Terceira de São Francisco (associação de leigos católicos), separadas por um arco em talha.

A sacristia decorada com móveis de jacarandá, mesa de mármore, azulejos e pinturas a óleo sobre madeira no forro do teto retratando a devoção franciscana a Nossa Senhora é outra relíquia no Convento de São Francisco. “É um lugar de muito bom gosto e a vista para o mar é belíssima”, destaca frei José Milton de Azevedo Coelho. Segundo ele, Dona Maria da Rosa servia de intérprete na confissão de índios.

Visita

Os religiosos cobram R$ 2 pela visita e o dinheiro arrecadado ajuda na manutenção do Convento de São Francisco, onde moram seis frades. Como a taxa de acesso não sustenta a edificação, desde 2015 eles abriram as portas do convento para retiros de espiritualidade franciscana. “Afora isso, alugamos o auditório para palestras e cursos de capacitação e temos os recursos dos casamentos”, afirma frei Rogério.

Populares também colaboram com doações espontâneas. “Pintamos a área externa do prédio com verba doada pela comunidade. Nós promovemos momentos de encontro com a população, para as pessoas sentirem que esse monumento também é delas. É um patrimônio com mais de 400 anos de história que pertence a todos, não só aos franciscanos”, ressalta o guardião. A parceria com o Iphan permite obras de restauração, acrescenta.

No momento, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) está recuperando a torre, a pintura e a cantaria (pedra) que contorna portas e janelas da fachada do Convento de São Francisco, com recursos do PAC Cidades Históricas do governo federal. A obra também contempla intervenção no pátio defronte da igreja para reintegrá-lo ao cruzeiro, como antigamente.

“Em 1934, três anos antes da criação do Iphan, cortaram o adro para a circulação de veículos pela Ladeira de São Francisco e a igreja ficou separada do cruzeiro. Agora vamos recuperar essa paisagem, mas os carros continuarão passando na rua”, informa Frederico Almeida, engenheiro do Iphan-PE.

Serviço

Convento de São Francisco
Ladeira de São Francisco, 280, Carmo
Fone: (81) 3429-0517 e 3439-3320
Visitas: segunda a sexta das 8h às 11h30 e das 14h às 16h30; sábado das 8h às 12h

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