Mobilizados desde o dia 4 de maio, reivindicando melhorias de condições de trabalho e salariais e uso de arma, centenas de guardas municipais do Recife foram surpreendidos, nesta quinta, com desconto completo dos dias parados nos contracheques. Houve caso de um agente com salário de R$ 3,1 mil receber apenas R$ 0,95. O município informa ter considerado que muitos funcionários abandonaram o serviço, pois não foi informado estado de greve. Por isso, cerca de 10% dos 1,7 mil guardas devem responder a processo administrativo e podem vir a ser demitidos, segundo o secretário de administração, Carlos Muniz.
Com cinco anos de serviço, o guarda Luiz Neto, 32 anos, conta que teve um desconto de R$ 1,8 mil, tendo recebido R$ 960,00. “Tenho uma filha de 5 anos, não vou conseguir pagar as contas, estou tomando calmante para dormir, isso é desumano”, protesta. “E houve desconto de pessoas com licença, de férias, doentes. Foi retaliação”.
O colega Adailson José, 33, há três anos na função, diz que a categoria até estava se preparando para ter descontos, mas nos próximos meses. “Meu último plantão seria hoje (ontem) e já foi descontado. Como pode? Tenho dois filhos, um de 14 anos e uma menina de três meses, não sei o que vou fazer com apenas R$ 590”.
O guarda que recebeu R$ 0,95 prefere não se identificar. “Eu não tenho nem palavras para isso. Tratar um pai de família como um nada? Como pagar o aluguel, comprar comida?”, diz ele que tem cinco anos de trabalho e uma filha de 9 anos. “Quando a gente não tem resposta faz movimento. Só que prefeitura está se mostrando indiferente. Outros municípios estão armando a guarda, por que a capital não pode? Somos agentes de segurança trabalhando sem segurança”.
Os guardas afirmam que o estatuto do servidor do município proíbe descontos maiores que um salário mínimo. Mas Carlos Muniz diz que a medida é legal e que os descontos foram computados sobre as faltas. “O que aconteceu foi abandono de serviço. Eles tiveram o livre-arbítrio”, afirma.
Segundo ele, os maiores descontos foram para cerca de 10% da categoria. “Esses praticamente ficaram sem salário e vão responder a processo administrativo, podendo ser demitidos, claro que com direito ao contraditório e ampla defesa”. Ele diz que pode haver licenças em avaliação, resultando em ressarcimento ou mais descontos.
A categoria pede carteira funcional, aumento do valor do risco de vida, melhoria dos postos de serviço, fardamentos novos e uso de arma, sendo este o ponto mais polêmico.