No próximo sábado, 16 de junho, moradores de Casa Forte, bairro da Zona Norte do Recife, vão plantar cinco pés de ipê-rosa e três mudas de craibeira num terreno baldio no encontro da Rua Flor de Santana com a Rua da Harmonia. A ação, aparentemente singela, faz parte de um projeto mais amplo de resgate histórico do lugar e de recuperação de uma área degradada às margens do Riacho Parnamirim.
O trecho escolhido remonta ao período holandês no Nordeste brasileiro (1630-1654), no século 17. “Era pelo Riacho Parnamirim que os holandeses vinham para a região de Casa Forte e do Sítio Trindade, o antigo Arraial Velho do Bom Jesus”, afirma a designer Gisela Abad, voluntária do Movimento Casa Forte Mais Segura, criado em fevereiro do ano passado e que promove a ação com a Secretaria Executiva de Inovação Urbana do Recife.
A proposta do grupo é limpar a sujeira do riacho (conhecido como Canal Parnamirim-Santana) e transformar o terreno, frequentemente utilizado como depósito de lixo doméstico e de metralha, numa área de convivência. Uma das atividades programadas para o sábado é a pintura de calçadas. “Queremos deixar claro que o espaço tem dono e o dono é o povo e não o lixo”, destaca Gisela Abad.
A ação, das 8h até o fim da manhã, será realizada numa pequena área do terreno, no trecho mais próximo da rua. De acordo com a designer, esse local é citado no livro Assombrações do Recife Velho, do sociólogo pernambucano Gilberto Freyre (1900-1987). Na publicação, o escritor fala sobre fantasmas que apareciam naquela região e não seriam de escravos, mas de um general holandês morto nas batalhas que ali aconteceram, diz ela.
“Essa história será contada no sábado (16) para o público. Estamos recuperando um lugar degradado, apesar de a prefeitura limpá-lo todos os dias, que é uma das entradas do bairro e tem ligação com a Batalha de Casa Forte (17 de agosto de 1645)”, observa Yves Nogueira, empresário do setor de Tecnologia da Informação (TI) e fundador do coletivo Casa Forte Mais Segura.
Com apoio do vereador e morador do bairro Jaime Asfora, o grupo pretende batizar a área, oficialmente, de Largo do Holandês. A proposta será analisada na Câmara de Vereadores. “Pretendemos colocar uma placa no local com o desenho de um fantasma, para divulgar essa história”, diz Yves Nogueira.
O Inciti (Pesquisa e Inovação para as Cidades), grupo vinculado à Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), estará presente para entrevistar populares e identificar o tipo de ocupação que eles sugerem para o terreno. “É um evento em Casa forte, mas aberto a toda a cidade, convidamos moradores da comunidade Lemos Torres (às margens do riacho) para participar”, acrescenta o secretário-executivo de Inovação Urbana do Recife, Tullio Ponzi.
A organização não governamental Aguapé, que desenvolve trabalhos no riacho, também apoia o movimento.
O resgate do Largo do Holandês, em Casa Forte, faz parte do projeto Recife dos Encontros da Secretaria Executiva de Inovação Urbana. Pelo mesmo programa será realizada mais uma ação, no bairro da Soledade, Centro do Recife, também no próximo sábado (16). A atividade, entre a Praça Monsenhor Francisco Apolônio Sales – em frente à Igreja da Soledade – e um refúgio na Avenida Oliveira Lima com a Rua Corredor do Bispo, começa às 9h.
“Nossa proposta é trazer o cidadão para vivenciar mais a cidade e ativarmos, conjuntamente, os vazios urbanos”, declara o secretário-executivo de Inovação Urbana do Recife, Tullio Ponzi. A prefeitura vai pintar uma faixa de pedestre na Avenida Oliveira Lima, entre a Rua da Soledade e a Rua Nunes Machado, junto da Praça Monsenhor Francisco Apolônio Sales, conhecida como Praça da Soledade.
No refúgio da Avenida Oliveira Lima com a Rua Corredor do Bispo a proposta é uma pintura de piso e a instalação de mobiliário, numa ação mais efêmera, visando à ampliação da área de lazer e a apropriação do local pelos moradores.
Ao longo da semana serão realizadas entrevistas com transeuntes para saber de que forma eles gostariam que os espaços fossem ocupados. “O próximo passo é a obra estruturadora, com a Editora Imeph, que adotou a praça. Ali é um lugar de passagem e não de permanência. A intervenção será feita a partir da sugestão da população, num processo de construção conjunta”, diz o secretário Tullio Ponzi. A atividade tem apoio do Coletivo Massapê.