Prefeitura do Recife acusada de destruir jardim no Alto José do Pinho

Moradores do Alto José do Pinho, bairro da Zona Norte do Recife, acusam a prefeitura de ter destruído um jardim que a comunidade fez sábado passado (16/06) na Rua Cecília Reis. Os vasos de planta foram colocados na esquina com a Rua Itapicuru numa tentativa de eliminar um ponto irregular de descarte de lixo. Por volta das 12h de segunda-feira (18/06), um caminhão da Gerência de Operações do município estacionou nas proximidades e destroçou o jardim.

“A prefeitura devorou em 20 minutos o trabalho de um dia inteiro da comunidade, é revoltante”, declara a comerciante e moradora do bairro Maria da Paz Ferreira da Silva. Segundo ela, mais de cem pessoas participaram da limpeza da rua e da implantação do jardim, com vasos feitos de pneus. A ação é educativa e tem apoio do projeto Alto Sustentável, fundado em agosto de 2013 pelo biólogo Hamon Dennovan, residente no Alto José do Pinho.

Agente de saúde aposentado e morador da região, José Cordeiro do Nascimento também reprovou a destruição do jardim. “A prefeitura chegou aqui com a Guarda Municipal e a Polícia Militar e botou tudo abaixo. As plantas não estavam incomodando, deixaram espaço para pedestres e motos circularem na rua, a área ficou limpa e organizada. Era mais um jardim no bairro, no lugar de lixo e bicho morto”, lamenta José Cordeiro do Nascimento.

O biólogo Hamon Dennovan informa que o Alto José do Pinho é carente de atividades de educação ambiental, não é contemplado com coleta seletiva e sofre com irregularidade no recolhimento de entulhos. “Esse trecho da Rua Cecília Reis é usado como descarte de lixo doméstico, metralha e móveis há uns 20 anos. Nossa ação é paliativa, mas serve para chamar a atenção das pessoas para o problema”, observa Hamon.

DESCARTE

Em quase cinco anos de atividades, o projeto Alto Sustentável implantou mais de 12 jardins em pontos irregulares de descarte de lixo no bairro, tirando de ruas do Alto José do Pinho 10 toneladas de lixo comum, 20 toneladas de metralha e mais de 10 mil garrafas PET, reaproveitadas nas áreas ajardinadas. “Nós ajudamos a prefeitura com esse trabalho, não entendemos a arbitrariedade”, destaca o biólogo.

Edvaldo Ferreira da Silva, marceneiro autônomo, acrescenta que a prefeitura agiu sem comunicação prévia com os moradores. “Chegaram de repente, sem nenhum aviso e sem diálogo, para destruir tudo”, afirma. O depósito de lixo substituído sábado (18) pelo jardim fica ao lado do muro da casa dele. De acordo com a comunidade, uma ex-moradora da Rua Cecília Reis acionou a prefeitura e pediu a demolição do jardim, alegando que os vasos impediam a mobilidade.

GARAGEM

"A casa dela tem garagem, mas a pessoa que mora lá não tem carro. Tivemos o cuidado de reservar 1,20 metro para a passagem de motos e circulação de um cadeirante e um deficiente visual que moram na rua”, diz Edvaldo Ferreira. “O jardim não é uma obra permanente e pode ser retirado para o carro, nossa briga não é com a ex-moradora nem com a prefeitura, mas com o lixo”, completa Hamon. Moradores vão se reunir esta semana para discutir o assunto e encontrar uma solução que atenda a todos.

Procurada para falar sobre o assunto, a Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano disse que não havia técnico disponível para explicar a derrubada do jardim no Alto José do Pinho. Em nota enviada pela assessoria de imprensa, a secretaria limitou-se a dizer que, “depois de receber denúncia de moradores no fim de semana, fiscais da pasta foram ao local e confirmaram o prejuízo a mobilidade de cadeirantes e veículos, que ficaram impedidos de passar depois da implantação das mudas.”