Seus 189 anos - uns mais cuidados, outros nem tanto - são perceptíveis na estrutura. Parte de suas paredes originais não foram rebocadas e ainda podem ser apreciadas por quem visita o espaço. O estilo, típico de um casarão do século XIX, dá à Biblioteca Pública Municipal de Olinda ar colonial, apesar de também expor problemas que há tempos parecem não receber atenção, como goteiras que molham todo o chão do salão principal nos dias de chuva. Um projeto de requalificação foi assinado pela Prefeitura de Olinda em março com o prazo de três meses. Enquanto Junho não chega, um grupo intitulado Amigos da Biblioteca fiscalizam o andamento das melhorias.
A biblioteca fica no número 100 da Avenida Liberdade, em frente à Praça do Carmo. Em meio aos Patrimônios do Sítio Histórico, acaba passando despercebida por quem não a conhece. Dentro, o movimento é contínuo, mas a maior parte é de turistas que a visitam em suas excursões. O público que frequenta o espaço para leitura ainda é pequeno, diz o coordenador da biblioteca.
O número de livros do acervo é desconhecido. Quão antigos eles são também não se sabe. Segundo Marcelo Barros, coordenador do equipamento, todo o inventário da biblioteca foi perdido pelas antigas administrações. “Quando chegamos, ela estava em estado deplorável. Não havia nada que nos desse subsídio para trabalhar com a informação, que é o intuito de uma biblioteca. Estamos aqui como um depósito de livros. Não temos nem um computador para pesquisarmos o que temos no acervo”, conta.
O espaço é gerido pela Secretaria de Patrimônio, Cultura, Turismo e Desenvolvimento Econômico, mas a partir de um convênio assinado em março pelo prefeito de Olinda, Lupércio Nascimento, passará a receber recursos da Secretaria de Educação, Esportes e Juventude. A parceria, firmada com o intuito de requalificar o equipamento, renovou a esperança de um grupo de amigos que há mais de quatro anos batalhava pela preservação da biblioteca.
Estruturalmente, alguns problemas desanimam os usuários na hora de usar o espaço para leitura ou estudo. Nos banheiros, a falta d’água é comum. A iluminação também não é das melhores e a umidade dificulta a visita. Quando chove, a situação só piora. “Frequento essa biblioteca há 12 anos e parece que ela está ficando cada vez mais abandonada. As mesas e cadeiras, todas reutilizadas de outras secretarias, ficam no terraço porque dentro a iluminação não é boa para ler. Quando chove, precisamos sair porque não há proteção. E dentro, além de ser escuro tem goteiras por todo o espaço. Fica tudo alagado”, conta o servidor público Tiago Lourenço da Cunha. Segundo ele, o horário de funcionamento do equipamento nos dias chuvosos também é irregular. “Tem dias que fecha às 17h, outros até o meio-dia. As vezes nem abre e a gente só descobre quando chega aqui. Nesses casos, só me resta ter que ir até alguma biblioteca do Recife”, diz.
Outro problema relatado pelos integrantes do grupo é a falta de tranquilidade do espaço. “Além do barulho da rua, que incomoda já que as mesas ficam no terraço todo aberto, a gente se desconcentra o tempo todo com a entrada dos turistas. Espaço não falta para usarmos. Lá embaixo tem salas que estão servindo apenas de depósito para os livros, que deveriam estar expostos ao público no andar de cima, registra o músico Paulo Maciel.
O convênio entre as secretarias prevê a requalificação estrutural, hidráulica e mobiliária do espaço. “Também vamos ter computadores para o uso dos visitantes e internet”, ressaltou o prefeito de Olinda. Novo responsável pela Biblioteca, o secretário de Educação, Paulo Roberto Souza, reconheceu que o espaço é subutilizado. “Nossos alunos da rede municipal nunca vieram aqui, por exemplo. Sabemos que os recursos para patrimônios são escassos, mas pretendemos unir forças para resgatar a biblioteca. Esse precisa ser um espaço para o uso comum de todos os alunos e da população”. O prazo dado pela prefeitura para o final das melhorias foi de três meses.
Enquanto isso, cabe aos Amigos da Biblioteca e aos moradores fiscalizar o processo. “O que nós queremos é que esse discurso se transforme em ação, porque já estamos cansados de ver essas mazelas administrativas e patrimoniais. Várias melhorias foram prometidas e vamos fiscalizar. Esta biblioteca é um patrimônio, nela há livros de valor inestimável para a cultura ”, frisa o artista plástico Kako Marcos.