Um grupo de arquitetos, designers e comunicadores criaram um projeto para provar que os mais 300 camelôs podem fazer parte, de forma organizada e proveitosa, da Nova Conde da Boa Vista. A ocupação de espaços público-privados subutilizados e a redistribuição do comércio informal ao longo dos 1,7 km da avenida, na área central do Recife, estão entre as alternativas propostas para garantir a permanência do comércio informal na área. Material produzido por especialistas e alunos da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), foi apresentado à Prefeitura do Recife durante audiência pública sobre o assunto na Câmara Municipal do Recife.
A proposta tem como fundamento o conceito de Gentileza Urbana, que defende que obras ou imóveis privados que possuam seu pavimento térreo de uso público agreguem intervenções que favoreçam a cidade não apenas urbanisticamente, mas também com relação às pessoas. “É muito importante que o que chamamos de equipamentos público-privados, como shoppings, hospitais, universidades e estabelecimentos, por exemplo, sejam encarados de outra maneira e que as responsabilidades na forma de projetar seus térreos seja outra, incluindo a visão do comércio popular, que inevitavelmente ocupa esses espaços”, explica a professora de arquitetura e urbanismo da Unicap, Clarissa Duarte.
As alternativas tiveram como base o projeto da Nova Conde da Boa Vista, que já está sendo executado pela Prefeitura do Recife (PCR), e as demandas dos próprios camelôs. A ideia é que térreos de prédios com recuo na entrada possam servir como ponto de funcionamento do comércio informal de forma organizada. “Já existem ambulantes nestas áreas, o que propomos é a utilização do recuo frontal destes equipamentos sem prejudicar a visibilidade das vitrines e os acessos principais, agregando, ao mesmo tempo, segurança, porque o comércio popular é um vigilante social por excelência”, acrescenta Clarissa. Lotes privados não utilizados também entram na proposta. Neles, o projeto sugere que sejam criados shoppings populares onde diversos ambulantes ficariam dispostos. Para garantir a circulação de pessoas na área, o terreno também abrigaria equipamentos âncoras, como lojas ou pontos de serviço, à exemplo do Expresso Cidadão.
Todo o projeto foi pensado ao lado do Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras do Comércio Informal (Sintraci), de forma que características desse tipo de trabalho e demandas dos ambulantes fossem contempladas na proposta. Para Edvaldo Gomes, presidente do sindicato, o material apresentado à PCR deu mais esperanças aos camelôs. “O projeto não altera o que já está sendo feito e mostra que é possível manter todos os 324 ambulantes trabalhando na Conde da Boa Vista sem nenhum problema. Vai ser bom para a prefeitura, que se dispôs a analisar, e para nós. A proposta da prefeitura, com apenas 50 fiteiros na avenida, não era justa”.
Nessa quarta-feira (17), em audiência de pública convocada pelo vereador Ivan Moraes (PSOL), com a presença de representantes da Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana (Emlurb), da PCR, da Unicap e do Sintraci, foi definido que o material será analisado pela PCR e que novas reuniões serão marcadas para discutir esta e outras propostas que viabilizem a continuação do comércio informal na Conde da Boa Vista.
O secretário de Mobilidade e Controle Urbano do Recife, João Braga, também presente na audiência, se mostrou favorável à análise do material. “Gostei muito do que foi apresentado, vamos aproveitar isso. Nós solicitamos que a Emlurb destacasse espaços próximos às paradas para os ambulantes e isso será resolvido. Estamos participando de um estudo com o Consórcio Grande Recife para verificar a questão dos ônibus e, no final, vamos analisar como ficarão as paradas. Depois disso, começaremos a pensar onde ficarão os camelôs, que precisam estar em pontos movimentados da avenida”, explica.
Para o vereador Ivan Moraes, a discussão é importante devido à crescente de pessoas sobrevivendo do comércio popular. “O estudo preliminar mostra que é tecnicamente, economicamente e esteticamente viável que haja espaço para 300 pessoas, ou até mais, na Conde da Boa Vista. É uma perspectiva muito importante tendo em vista o cenário atual em que a tendência é que, com o desemprego, mais pessoas caiam no comércio informal”, pontua.