Já imaginou ir ao Mercado da Encruzilhada comer uma porção de Codfish Cakes? Ou pedir uma Cows Hand? Os nomes podem até causar estranhamento, mas os pratos são os tradicionais e bem conhecidos pelo público: bolinhos de bacalhau e mão de vaca, respectivamente. A grande novidade é que agora alguns restaurantes do Mercado estão com cardápio bilíngue para atender melhor o público que vem do exterior. Além da tradução para o inglês, restaurantes também receberam versões de cardápios em braile.
O material foi produzido pela Secretaria de Mobilidade e Urbanismo, por meio da Autarquia de Serviços Urbanos (Csurb), em parceria com o Sebrae. Além dos novos cardápios, os sete estabelecimentos participantes do projeto também receberam consultoria e até selo de qualidade. “O primeiro passo foi a elaboração de fichas técnicas, que proporcionam, por meio da avaliação da receita e dos ingredientes, a analise do preço do prato com relação ao custo de produção. Outro passo foi a aplicação da metodologia de engenharia do cardápio, onde sugerimos e reformulamos alguns pontos junto com os empresários”, explica Diego Souza, consultor credenciado ao Sebrae.
Segundo Berenice Andrade, presidente da Csurb, o intuito é trabalhar na uniformização do serviço para garantir qualidade aos clientes. “Os mercados não são só pontos de abastecimento, são locais de socialização. Quem vem ao Mercado precisa saber que vai ter sempre aquele prato especial, com o mesmo gosto e o mesmo tamanho à sua espera. Isso faz com que as pessoas fiquem com gostinho de quero mais e voltem sempre”.
O português Manuel José Alves vive no Brasil há 54 anos, dos quais 28 deles como proprietário de um dos restaurantes participantes. Com a novidade, ele espera que o movimento cresça nos estabelecimentos. “Eles fizeram todo o levantamento de preço, nos ajudaram a calcular e ainda criaram esse cardápio que é mais acessível. Sempre ficamos muito empolgados com ações desse tipo porque a divulgação é essencial para a procura”, diz. Para o garçom Leonardo Gomes, o novo material pode ajudar na hora de atender turistas. “As pessoas se sentem mais à vontade, o cliente não se sente mal atendido por ser deficiente visual ou não tem dificuldade em escolher um prato por falar outra língua. Como já estamos há 28 anos no Mercado, muitos clientes indicam o restaurante para amigos estrangeiros que vêm ao Recife. Agora eles vão se sentir ainda mais bem atendidos”, frisa.
Alguns pratos específicos da nossa cultura, como macaxeira, feijoada, tapioca ou sarapatel, por exemplo, foram difíceis de serem traduzidos. Além disso, tem local que dá nome especial para suas receitas. Um dos cardápios traduzidos, por exemplo, tem pratos que nem em português é fácil de descobrir o que leva a receita. Mas, isso não também não é mais um problema. Todos os cardápios possuem explicações, em inglês ou em braile, de quais são os componentes de cada prato. Ou seja, quem quiser pedir um “Azuretado”, “Arengueiro” ou “Enferrujado”, saberá exatamente qual delícia está prestes a saborear.
Cliente do Mercado há duas décadas, o aposentado Arnaldo Paiva, 85 anos, adorou a ideia dos cardápios inclusivos. Agora, segundo ele, o local não sairá mais da lista de recomendações aos amigos estrangeiros que visitam o Recife. “Agora posso indicar o Mercado com ainda mais orgulho porque sei que vão ter uma boa experiência. Quem é deficiente visual ou de fora do país se sente incluído e, para quem é daqui, já é uma oportunidade para aprender o inglês enquanto come uns petiscos e toma uma cervejinha”, brinca o aposentado.
O cardápio em braile foi implementado em setembro do ano passado. Apesar de ainda não ter sido muito usado, os proprietários aproveitam o lançamento das versões bilíngue para chamar o público. “Venham porque estaremos preparados para lhes atender da melhor forma. Nosso Mercado tem comida de qualidade e é inclusivo”, pontua Marcos Fernandes, que há oito anos administra um dos restaurantes do local.