Estudantes de Belo Jardim refazem passos de povos que deram origem ao Brasil

Participando do projeto "Era uma vez... Brasil", estudantes visitaram índios Xukurus e o Quilombo Barro Branco. Em novembro, 20 deles visitarão Portugal
Cidades
Publicado em 28/07/2019 às 8:15
Participando do projeto "Era uma vez... Brasil", estudantes visitaram índios Xukurus e o Quilombo Barro Branco. Em novembro, 20 deles visitarão Portugal Foto: Foto: Divulgação/ Era Uma Vez... Brasil


Um projeto para descobrir origens e reverenciar as culturas que formaram o povo brasileiro proporcionou a 100 estudantes de Belo Jardim, no Agreste pernambucano, uma experiência que eles, sem dúvidas, não vão esquecer. Durante uma semana, alunos do 8º ano de 14 escolas da rede pública da cidade participaram de um acampamento diferente, na Escola Técnica Estadual Edson Mororó Moura, onde puderam imergir nas culturas indígena e africana que tanto contribuíram para a formação cultural do Brasil. Após alguns desafios, 20 desses alunos ganharão uma viagem a Portugal para refazer os caminhos percorridos pela colônia portuguesa até a chegada ao nosso país. 

“Só agora eu pude perceber o quanto a nossa cultura veio dos negros e dos indígenas. A cultura desses dois povos está em tudo, mesmo que com algumas mudanças ao longo dos séculos, muitos costumes se apresentam na nossa vida. Agora aprendi a reconhecê-los para trilhar as nossas raízes”, pontua a estudante Eva Larissa Chaves, de 14 anos. Uma das participantes do projeto “Era uma vez… Brasil”, promovido pela Origem Produções, a jovem teve oportunidade de conhecer mais sobre sua história enquanto vivenciava esse resgate cultural. “Uma das atividades solicitadas era entender um pouco mais sobre nossa origem. Fui pesquisando com minha família e descobri que meus bisavós eram índios. Isso explicou o porquê das minhas feições serem tão semelhantes às de indígenas. Agora sei mais sobre quem sou”, conta. 

Eva estuda na Escola Municipal Professor José Vieira da Costa, em Belo Jardim, de onde foram selecionados 30 alunos para participar do projeto. Este não é o primeiro ano que a instituição participa e, se depender da animação dos alunos e professores, não será a última. “Para nós é muito exitoso conciliar o que é dado em sala de aula com iniciativas tão interessantes que valorizam a educação e despertam a cidadania a partir dos valores locais. Só com vivências deste tipo conseguimos despertar neles o respeito às diferenças e a valorização dos negros e indígenas na formação de quem somos hoje”, frisa a professora de história Quitéria Feitosa. 

Enquanto visitava a aldeia dos índios Xukurus de Ororubá, em Pesqueira, e a Comunidade Quilombola Barro Branco, em Belo Jardim, a estudante Aurhea Araújo, 13, vivenciou momentos que livro nenhum poderia proporcionar. Agora, ela e os colegas também serão multiplicadores de conhecimentos de valor inestimável. “Ninguém melhor que essas pessoas para nos ensinar sobre seus costumes, sobre sua história. A gente sabe que o brasileiro é fruto de uma mistura de raças, mas pouco se sabe sobre cada uma delas e, com o passar dos anos, muita coisa vem se perdendo. Agora também seremos guardiões dessas culturas”, diz. 

Além de conhecer mais de perto a história destes dois povos, os participantes ainda desenvolveram estratégias, com ajuda do audiovisual, para analisar quanto do que somos e fazemos hoje tem influência da história da colonização do Brasil. Depois das visitas, a missão dada a eles foi a produção de um curta-metragem, que será utilizado como parte do critério para a seleção do intercâmbio. 

O projeto surgiu em 2011 com a proposta de desenvolver diferentes linguagens para se reforçar o ensino da história nas salas de aula. Em 2016, as culturas indígena e afro-brasileira foram incorporadas e as vivências passaram a ser parte essencial no processo de aprendizagem dos alunos e capacitação dos professores. Segundo a coordenadora do “Era Uma Vez… Brasil”, Maricí Vila, experiências como esta ajudam a recontar a formação do Brasil a partir de outros pontos de vista. “Os livros contam as histórias a partir da percepção de um único autor e, muitas vezes, só é beneficiado o ponto de vista europeu. Quando estes alunos têm a oportunidade de ouvir a outra versão dos fatos, é muito rico. São histórias que os livros não contam e que impactam diretamente no senso crítico deles. Passamos a perceber quanto de nós foi construído por eles e o quanto precisamos desconstruir para que essas culturas sejam valorizadas e perpetuadas”, explica. 

Para Roseli Souza, professora de história da Escola Municipal Luiza Leopoldina Lopes, localizada no distrito de Xucuru, também em Belo Jardim, as vivências começaram antes mesmo do acampamento cultural. “Para nós que somos da Zona Rural, esta é uma iniciativa inovadora. As capacitações fizeram com que eu mudasse totalmente minha prática pedagógica e incorporasse novas formas de ensinar. O interesse dos alunos cresceu e a satisfação em ensinar também”, conta a professora, que já participa há três anos do projeto. 

Viagem

Os alunos serão avaliados e 20 deles ganharão a viagem a Portugal. Lá, além de conhecer pontos turísticos importantes, eles terão a oportunidade de compartilhar experiências com jovens de escolas portuguesas. O resultado da seleção sai em agosto e o intercâmbio acontece em novembro. O “Era Uma Vez… Brasil” também acontece nas cidades de Salvador, na Bahia, e Lençóis Paulista, em São Paulo. Ao todo, 60 jovens brasileiros vão refazer os passos da Coroa Portuguesa. Um professor de cada cidade também viaja com o grupo.

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