Roberto Burle Marx, o paisagista que definia o jardim como um alimento para o espírito, quase sempre é lembrado como o homem que projetou a Praça de Casa Forte, na Zona Norte do Recife. Nascido em 4 de agosto de 1909 e falecido em 4 de junho de 1994, ele fez muito mais do que uma praça na cidade. São 19 jardins públicos – 15 deles considerados históricos pela prefeitura – e 14 privados com obra executada e catalogada.
“Infelizmente, as pessoas não conhecem a história das praças e por desconhecer a importância desses espaços, acabam não dando o valor que elas merecem”, declara o servidor público, músico e produtor cultural Maurício Cavalcanti, ao apresentar a publicação Burle Marx e o Recife: Um Passeio pelos Jardins Históricos da Cidade. O livro será lançado às 19h desta terça-feira (27) no Pátio Café & Cozinha, no bairro das Graças.
Localizado num casarão antigo (Avenida Rui Barbosa, 141), o Pátio Café fica defronte da Praça do Entroncamento, que teve o jardim reformado por Burle Marx em 1936, quando ele trabalhava na cidade. O paisagista propôs, para a área de lazer inaugurada em 1925, o desenho de uma fonte com referências à cultura local: três lavadeiras e uma bacia de onde brotaria água cercada de palmeiras imperiais, como descreve a página 93 do livro.
Praça Ministro Salgado Filho. Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
Com 168 páginas coloridas e tendo como linha condutora as fotografias de Sérgio Lobo, a publicação é lançada pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe) no mês em que são comemorados os 110 anos de nascimento do paisagista que dedicou a vida a transformar conhecimentos botânicos em arte. “Burle Marx observava demais a natureza, em 1935, ainda muito jovem, ele dizia que jardins eram obra de arte”, afirma a arquiteta Ana Rita Sá Carneiro, coordenadora do Laboratório da Paisagem da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Ana Rita, Maurício Cavalcanti e a arquiteta Lúcia Veras são os organizadores do livro, que resgata a história das 15 praças denominadas jardins históricos do Recife e protegidas pela Lei Municipal nº 89.777/2016. Seis delas têm tombamento do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) desde 2015. “Queremos divulgar a obra de Burle Marx para a população”, ressalta Maurício Cavalcanti.
Praça Dezessete. Foto: Leo Motta/JC Imagem
A ideia do livro, recorda Maurício Cavalcanti, nasceu quando ele fez o levantamento de 100 praças para alimentar o sistema de manutenção das áreas verdes da cidade na Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana (Emlurb). “Comecei como um registro de trabalho e percebi que a gente tem muita praça bonita, mas a população desconhece e não valoriza esses lugares.” Depois de anos amadurecendo o projeto, ele decidiu focar o livro nos jardins históricos de Burle Marx e levou a proposta para Ana Rita.
Os textos são assinados pela equipe do Laboratório da Paisagem – Ana Rita, Joelmir Silva, Lúcia Veras e Onilda Bezerra – e trazem informações sobre vegetação, bancos, esculturas, fontes e entorno das praças. “Nos baseamos nos materiais produzidos pelo laboratório, como o Inventário dos Jardins de Burle Marx no Recife”, informa Ana Rita Sá Carneiro.
Compõem o livro as Praças de Casa Forte (primeiro projeto de jardim público feito por Burle Marx, em 1935), Euclides da Cunha (cactário da Madalena), Artur Oscar (Arsenal), Chora Menino, Largo da Paz (Afogados), Maciel Pinheiro, da República com o Jardim do Palácio do Campo das Princesas, do Entroncamento, Pinto Damaso, do Derby, Dezessete, Ministro Salgado Filho (Aeroporto), Faria Neves (Dois Irmãos), Largo das Cinco Pontas e Jardim da Capela do Parque da Jaqueira.
Praça do Arsenal: Foto: Edmar Melo/Acervo JC Imagem
“Jardim é uma filosofia de vida, mas os recifenses e os brasileiros ainda não entenderam a importância desses espaços”, lamenta Ana Rita. Nem todas as praças do paisagista Burle Marx encontram-se em bom estado de conservação. Algumas, como a Dezessete (Rua do Imperador, no Centro) e a Salgado Filho são abrigos de pedintes. A Artur Oscar (Bairro do Recife) e a Pinto Damaso (Várzea) estão descaracterizadas. “A obrigação de cuidar das praças não é só da prefeitura, a população também pode colaborar e para isso é preciso conhecê-las”, completa Maurício Cavalcanti.
Ele vai apresentar, na noite de hoje (27/08), o frevo de bloco Vitória Régia, composição feita com Marcelo Varela. A música (inédita, mas não uma criação recente) pode ser acessada na versão digital do livro (o e-book) que custa R$ 15. A publicação impressa está à venda nas livrarias da Cepe em Santo Amaro (Rua Coelho Leite), Museu do Estado, Museu Cais do Sertão, Museu Eufrásio Barbosa (Olinda) e na loja virtual (cepe.com.br/lojavirtual) ao preço de R$ 50.
“O livro é um convite ao recifense para ele turistar na sua cidade”, diz Maurício Cavalcanti. E desbravar o legado do paisagista que, antes de tudo, era um jardineiro, como ele mesmo dizia.