Morro da Conceição: santuário espera receber 2 milhões de devotos

Essa é a expectativa de público para os 12 dias da Festa do Morro da Conceição, na Zona Norte do Recife
Cleide Alves
Publicado em 07/12/2019 às 20:20
Essa é a expectativa de público para os 12 dias da Festa do Morro da Conceição, na Zona Norte do Recife Foto: Foto: Brenda Alcântara/JC Imagem


Desde 1904, uma mulher de pé sobre o globo terrestre, com as mãos unidas em oração e esmagando uma cobra com os pés atrai uma legião de pessoas sem teto, sem emprego, doente e sofrida para um morro na Zona Norte do Recife. Seu nome é Maria. Mas ali ela é a Senhora da Conceição, a mãe que acolhe os angustiados e aflitos. Hoje, 8 de dezembro, é o dia de Maria, e mais uma vez ela espera pelos filhos para celebrar a 115ª Festa do Morro da Conceição.

A expectativa dos padres missionários redentoristas, administradores do Santuário Nossa Senhora da Conceição nos últimos quatro anos, é receber dois milhões de pessoas nos 12 dias da festa, que traz o tema Maria, mãe de um povo ferido. “Uma mulher que sofreu as dores da pobreza, viu o filho passar por um julgamento cruel e padecer sem ter merecido, sente o que o povo sente, as pessoas se identificam com ela”, diz o reitor do santuário, padre Mailson Régis de Queirós Costa.

É essa identificação que faz Ângela Freitas, 59 anos, subir o Morro da Conceição todos os anos, desde 1997. Nessa época, por dificuldades financeiras na família, ela e o marido perderam o apartamento que haviam comprado e estava com 50% das prestações pagas. “No mesmo dia eu subi o Morro e clamei a Nossa Senhora, agora eu venho para agradecer a compra desse mesmo apartamento”, relata Ângela Freitas, residente em Candeias, no município de Jaboatão dos Guararapes.

 Ângela Freitas. Foto: Brenda Alcântara/JC Imagem

“Pedi com tanta fé para não perder minha casa, que minhas preces foram atendidas. De 1997 para cá, o apartamento foi a leilão e ninguém comprou. Só no ano passado, quando o Ministério Público liberou a recompra do imóvel pelo ex-mutuário, conseguimos recuperá-lo. Casa própria é o alicerce para tudo na vida”, afirma. “A vida nos colocou numa situação de sacrifício, mas com fé a gente passou por cima desse sobe-desce”, comenta Clóvis Freitas, 62, marido de Ângela e devoto de Nossa Senhora da Conceição.

Emprego

Funcionária numa firma particular havia cinco anos, a administradora de empresas Alice César, 36, perdeu o trabalho num processo de redução de custos e de quadro de pessoal, três meses atrás. “Hoje (quarta-feira, 4) Deus abriu uma porta e participei de uma seleção, estou aguardando o resultado e vim ao Morro da Conceição falar com a mãe, pedir para ela botar a mão na minha cabeça. Só a fé sustenta a gente numa hora dessa (demissão), acreditar que tudo vai mudar é o que nos move”, declara Alice César.

Com um terço nas mãos, ela define Maria, a mãe de Cristo, como exemplo de um ser humano inspirador. “Ela nunca deixou de acreditar na vida, mesmo vivendo com poucos recursos, viu o filho passar por tudo o que passou e continuou acreditando que ali havia um propósito, qualquer mãe sabe que isso é inexplicável, nossa fé diante dela é tão pequena”, declara Alice César, moradora do bairro de Rio Doce, na cidade de Olinda.

 Alice César. Foto: Brenda Alcântara/JC Imagem

É a fé na Maria que acolhe o povo ferido, no corpo e na alma, que leva Aparecida da Conceição Gomes ao santuário no Morro da Conceição, há 11 anos. Paulista radicada no Recife há 25 anos, ela descobriu a devoção após um acidente de trânsito, em 2008. “Bati o carro num poste e a pessoa que me socorrei disse para eu rezar para Nossa Senhora porque ela havia me salvado. Tive apenas um corte na testa. Desde então, venho ao Morro para agradecer”, diz Aparecida, 62.

Num País onde a pobreza aumenta porque a população enfrenta desemprego e redução de salário, Nossa Senhora é o refúgio do povo, destaca Aparecida, moradora do Rosarinho, bairro da Zona Norte do Recife. Ela trocou São Paulo pelo Recife quando o marido abriu na capital pernambucana uma representação da empresa na qual trabalhava. “Há dez anos, as vendas começaram a cair e há cinco anos a situação piorou muito. No cenário econômico atual, não largaria São Paulo, não valeria a pena”, ressalta.

Homenagens

“Em tempos de crise, as pessoas procuram apoio espiritual, cada um vem com a suas dores e as suas feridas em busca de alento, a igreja ficou cheia em todas as celebrações”, observa padre Mailson Régis. Iniciada em 28 de novembro com a Procissão da Bandeira, a 115ª Festa do Morro da Conceição termina amanhã, com missa às 6h para as pessoas que atuaram na organização da festa religiosa católica.

 Aparecida da Conceição. Foto: Brenda Alcântara/JC Imagem

Neste domingo (8), dia de Nossa Senhora da Conceição, haverá missa no santuário de hora em hora, da 0h até as 12h, na igreja e no palco. A procissão em homenagem à santa sairá da frente do Forte do Brum, no Bairro do Recife, Centro da cidade, às 15h (concentração a partir das 14h), em direção ao Morro. Na chegada, haverá missa celebrada pelo arcebispo de Olinda e Recife, dom Fernando Saburido. Pela primeira vez, o andor com a imagem da imaculada será conduzido num carrinho empurrado pelas mãos do povo.

 

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