A misticidade que envolve o Homem da Meia Noite, símbolo do Carnaval de Olinda

Conheça a história e o legado do calunga pernambucano
Cleide Alves
Publicado em 07/02/2020 às 11:53
Bloco do Homem da Meia-Noite, que abre o carnaval de Olinda Foto: BOBBY FABISAK/JC IMAGEM


Não é toda criatura do sexo masculino que tem a proeza de chegar aos 88 anos de idade arrancando suspiros da mulherada. E antes que vocês me acusem de preconceito, ou de estar puxando a brasa para minha sardinha, vou logo revelar a identidade do sujeito: O Homem da Meia Noite. Sim, ele mesmo, o famoso calunga do Carnaval de Olinda. Quem já viu um desfile do gigante sabe exatamente do que estou falando. Elegante em seus quase quatro metros de altura, ele tem um encantamento que nenhum outro tem.

A bem da verdade, o Homem da Meia Noite fascina a todos, sem distinção. Para as mulheres, ele é um sedutor irresistível, cercado de mistérios. “Nunca vi um homem com tanta mulher e nenhuma ter ciúme”, brinca Ana Maria de Luna, 71 anos, fã assumida do calunga. Para os homens, ele é a identidade da festa. “Se a pessoa mora aqui e não viu a saída do Homem da Meia Noite, não houve Carnaval”, resume Alberto Batista, 52, filho de João Marcelino Batista, que fazia as alegorias da agremiação, sediada no Sítio Histórico.

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Nascimento

Vamos, então, contar a história desse ser mágico, místico, enigmático e indecifrável. Para começar, ele tem duas possíveis datas de nascimento, 7 de janeiro ou 2 de fevereiro de 1932, e várias versões para explicar sua origem. O Clube de Alegoria e Crítica O Homem da Meia Noite, quase todo mundo sabe, foi criado a partir de uma dissidência política de seis integrantes da Troça Cariri. Mas por que o desfile à meia-noite?

“Uns dizem que a escolha da meia-noite do Sábado de Zé Pereira era para o clube sair antes de Cariri, havia muita rivalidade na época”, explica Luiz Adolpho Alves da Silva, presidente da agremiação carnavalesca há 17 anos. “Outros dizem que meia-noite é um horário carregado de mistérios para o povo brasileiro, é a hora do medo, do lobisomem, por isso o clube sai a essa hora”, acrescenta. Seja lá o que for, a brincadeira deu mais do que certo.

Filha do ex-presidente Isnard Colombo, Ana Maria de Luna desfilava no clube no tempo das alegorias e da cavalaria à frente do calunga. “Fui dama e colombina, meu irmão mais velho ia no cavalo. Depois de casada, meu marido não queria que eu viesse nem olhar, pois eu deixava ele em casa e vinha ver o desfile, é uma emoção tão grande quando esse boneco sai que eu me arrepio só de falar”, diz Ana Maria, moradora de Bairro Novo.

“A saída do boneco é bonita e o retorno é lindo, ele volta com a mesma elegância, depois de desfilar por quatro horas, esse homem é o homem da gente”, comenta Josefa Xavier de Menezes, 88, moradora da Estrada do Bonsucesso e vizinha da sede do Homem da Meia Noite. “No dia do desfile as pessoas se penduram na grade da minha casa, eu deixo e fico feliz em ver tanta gente querendo admirá-lo.”

José Xavier de Menezes Bezerra, 65, filho de Josefa, preserva o mesmo carinho pelo boneco. “O que ele tem para atrair a todos, não sei explicar, só sei que um olindense de verdade não perde o Homem da Meia Noite no Carnaval”, sublinha. Nem deixa de ver o calunga, com seu relógio que marca a saída pontual à meia-noite, entregar a chave da cidade à troça Cariri e, juntos, decretarem a abertura do Carnaval da cidade.

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