Por um futuro mais verde

No último dia da série de reportagens sobre o verde urbano do Recife, o JC mostra os ensaios feitos pela PCR, a partir da discussão de novos parâmetros de edificação. A ideia da prefeitura é abrir espaço para uma maior arborização nas áreas públicas da cidade
Ciara Carvalho
Publicado em 20/03/2012 às 10:02
No último dia da série de reportagens sobre o verde urbano do Recife, o JC mostra os ensaios feitos pela PCR, a partir da discussão de novos parâmetros de edificação. A ideia da prefeitura é abrir espaço para uma maior arborização nas áreas públicas da cidade Foto: Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem


Como aumentar a mancha verde do Recife, sobretudo nas áreas mais adensadas do município? O mapeamento da cobertura vegetal, realizado pela Prefeitura do Recife (PCR), apontou um caminho. Com base nas imagens aéreas retratadas no mapa, os técnicos descobriram que a exigência, prevista na lei, de deixar 25% da área edificada com solo natural, na prática, costuma ser descumprida. A área que deveria ser arborizada termina sendo pavimentada para virar mais vagas de estacionamento dentro do prédio.

A partir dessa constatação, o Instituto Pelópidas Silveira, órgão vinculado à PCR e responsável pelo planejamento do Recife do futuro, começou a desenvolver ensaios que defendem a transferência dos atuais 25% de solo natural do espaço privado para o domínio público. Seria uma forma de garantir o cumprimento da lei e presentear a cidade com mais verde e qualidade de vida.

Não existe nenhuma proposta definida, apenas ensaios com simulações e sugestões que, após uma ampla discussão com os vários segmentos da sociedade, poderão ajudar a definir novos parâmetros de edificação para a cidade. O coordenador-geral do instituto, o arquiteto Milton Botler, explica que uma das principais conclusões do estudo do verde urbano foi a de que a arborização, ao longo dos anos, só tem se consolidado no espaço público.

"No espaço privado não há uma garantia de que isso vai acontecer. O mapa mostrou que, na realidade, os 25% de solo natural terminam reduzidos à metade, o que traz consequências perversas não só na diminuição do verde, como na drenagem da cidade, já que a água da chuva que deveria ser absorvida pelo solo, termina indo parar nas ruas do município", analisa.

O arquiteto afirma que a ideia de transferir parte do verde privado para melhorar a qualidade do espaço público seria aplicada apenas nas quadras onde metade dos lotes ainda estão vazios ou possuem construções de até dois pavimentos. "Fizemos uma simulação em Boa Viagem (Zona Sul) e constatamos que a mudança representaria um ganho de área verde no bairro correspondente à área de seis parques da Jaqueira (localizado na Zona Norte)", informa Milton Botler.

O estudo da cobertura vegetal do Recife foi feito justamente para subsidiar a revisão da Lei de Uso e Ocupação do Solo da cidade, que está em andamento. "Queríamos ter dados concretos para basear possíveis mudanças na legislação. O verde urbano é um princípio de sustentabilidade importante para orientar o planejamento da cidade do futuro", afirma Botler.

Dentro dos ensaios que estão sendo formulados pelos arquitetos e urbanistas do instituto, estão sugestões também de construir prédios com pavimentos vazados, para facilitar a circulação do vento, e criar coberturas vegetais no topo dos edifícios, o que ajudaria a reduzir a concentração de calor.

O professor Ruskin Freitas, do Departamento de Arquitetura da Universidade Federal de Pernambuco, avalia que o mapeamento do verde urbano é um alerta para a cidade. Ele enxerga nos ensaios propostos pela prefeitura boas soluções para melhorar a qualidade do espaço público. "Os ensaios podem ajudar a criar novos parâmetros urbanos. As mudanças na legislação precisam ser rápidas para acompanhar a supervalorização imobiliária que acontece hoje no Recife", pontua.

Ruskin diz que, apesar do grande adensamento que existe em vários bairros, o Recife ainda é uma cidade viável. O raciocínio do professor é simples: a construção dos atuais prédios seguem a lei. Diante do desafio de construir uma cidade mais verde e menos quente, ele diz que não há outro caminho: "O que precisamos é mudar a lei".

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