As aulas na Escola Municipal Antônio Benedito da Rocha, localizada no bairro de Cidade Garapu, no Cabo de Santo Agostinho, Região Metropolitana do Recife, só serão retomadas sexta-feira (24). As atividades foram suspensas desde a noite de segunda-feira (20), depois que um aluno foi baleado dentro do banheiro da unidade de ensino. Emerson Felisberto da Silva, 16 anos, cursava o 4º ano de uma turma de Educação de Jovens e Adultos (anos finais do ensino fundamental). Levou um único tiro na cabeça, por volta das 19h, e morreu quando chegou na UPA do Cabo. Extraoficialmente, o JC confirmou que a polícia já tem um suspeito de haver cometido o crime. Uma das linhas de investigação seria o suposto envolvimento da vítima com drogas.
Nesta quarta-feira (22), a Secretaria Municipal de Educação vai montar uma ação para desenvolver na Antônio Benedito, amanhã, com professores e funcionários. A ideia é organizar atividades para acolher os alunos e suas famílias na sexta-feira, quando a unidade voltará a ter aulas. Alunos e pais de estudantes estão preocupados com a segurança no colégio. No momento do disparo, a maioria dos estudantes – a escola tem 1.060 discentes, dos quais 196 são do turno noturno – estava no pátio, ao lado do banheiro onde Emerson foi baleado. Haviam acabado de lanchar, pois a merenda é servida antes de as aulas começarem, e estavam se dirigindo para as salas.
“Foi um desespero. Teve gente que passou mal. Eu estava chegando na calçada, não tinha nem entrado na escola. Só vi o povo correndo e dizendo que haviam atirado num aluno no banheiro”, relatou um estudante da mesma idade e do mesmo turno de Emerson. Por ser menor de idade, a reportagem optou por não identificá-lo. “Não temos segurança. Só há um porteiro que fica na entrada, mas entra e sai quem quer. Há estudantes que à noite consomem drogas dentro da escola”, contou o adolescente.
No Cabo, a Escola Antônio Benedito da Rocha tem o melhor Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), indicador de qualidade aferido a cada dois anos pelo Ministério da Educação (MEC). Na última edição, em 2017, tirou a média 5,1 nas séries dos anos finais do ensino fundamental. A meta do MEC é chegar a 6 em 2022.
A estrutura física do colégio chama a atenção, com uma piscina e uma quadra. “Escola é pra ser um lugar seguro. Não pode acontecer uma tragédia dessa. Todas as mães estão com medo de mandar os filhos depois desse assassinato”, comentou a dona de casa Rita de Cássia Silva, 42 anos, mãe de um aluno do 8º ano.
Câmeras serão instaladas nas escolas municipais do Cabo de Santo Agostinho. A previsão da Secretaria de Educação da cidade é dispor dos equipamentos, ainda este semestre, em 27 colégios. A rede tem, ao todo, 95 unidades de ensino, onde estudam cerca de 35 mil alunos.
A Escola Municipal Antônio Benedito da Rocha será uma das contempladas. “Foi uma fatalidade. Não é comum acontecer crime em escolas. Estamos consternados e dando todo apoio à comunidade escolar e à família do estudante”, comentou a secretária municipal de Educação, Sueli Nunes.
Ela disse que há projetos para diminuir a violência escolar e o bullying, além de parceria com a Patrulha Escolar. “A escola tem porteiro nos três turnos. Para melhorar a segurança, haverá câmeras. Inicialmente em 27 escolas, mas depois esperamos equipar toda a rede”, explicou Sueli.
A família de Emerson Felisberto diz que a escola falhou no processo de educação do adolescente. Também acusa a unidade de negligência na segurança. Criado desde os 6 anos pelo irmão mais velho e a esposa dele, quando ficou órfão, o rapaz começou o ano letivo no turno da tarde, numa turma regular do 9º ano do ensino fundamental. Em abril, pediu para ser transferido para a noite, turno em que estudam jovens e adultos.
“Ano passado, fui chamada pela direção. Reclamaram que Emerson estava bebendo na escola. Pedi que fizessem um laudo ou outro documento para que eu pudesse buscar ajuda. Nunca mandaram. Ele estudava à tarde e decidiu mudar para a noite. A escola transferiu sem consultar a família, mesmo ele sendo menor de idade. Participava do Mais Educação no horário que não havia aula. A gente acreditava que a escola era um lugar seguro”, ressalta a cunhada do adolescente, que preferiu não ser identificada.
Segundo ela, o jovem nunca assumiu consumir drogas. “Estranhamos algumas amizades dele nos últimos meses. Mas era um rapaz tranquilo. Não esperávamos que entrasse para as estatísticas da violência. Eu o tinha como um filho, pois eu e meu marido o criamos há 10 anos. É uma dor sem tamanho”, comentou.
O corpo de Emerson foi enterrado hoje, em São Benedito do Sul, na Zona da Mata, cidade em que mora parte da sua família.
A Secretaria de Educação informou que a transferência de turno teve a anuência de um dos irmãos dele e negou omissão de auxílio psicológico.
A Polícia Civil limitou-se a informar, oficialmente, que foi instaurado inquérito para apurar autoria e motivação do homicídio. O caso está sendo investigado pelo delegado Caio Wagner. Um dos irmãos de Emerson, o diretor da escola e a mãe de um dos suspeitos prestaram depoimento na manhã de terça-feira na delegacia que fica na Cidade Garapu.