Uma quadrilha especializada em clonar cartões de crédito para realizar saques e compras em cidades dos Estados Unidos foi desarticulada na última sexta-feira (13). A Polícia Civil suspeita ainda que o grupo agia fraudando concursos. “Foram encontradas dezenas de pontos eletrônicos, carteiras receptoras de sinal e rádios comunicadores. Mas ainda não sabemos se eles vendiam o material ou se iriam utilizar para fazer com que os membros do grupo se infiltrassem em órgãos públicos”, explica o delegado, destacando que o material foi encontrado na casa de um policial militar. “O PM também é suspeito de fazer parte da quadrilha e foi expedido um mandado de condução coercitiva, quando a pessoa é obrigada a prestar depoimento, e o PM será ouvido nesta terça”, disse, explicando que o policial não foi preso por que não houve flagrante. O grupo, formado por pelo menos quatro recifenses e um português, era investigado há seis meses, com ajuda do consulado americano.
Os suspeitos Guilherme Augusto Moller, 28 anos, e José Ivanildo Alexandre Bezerra, 27 anos, foram presos no Aeroporto Internacional dos Guararapes, na Zona Sul do Recife quando desembarcavam de um voo vindo de Miami, nos Estados Unidos. Outros dois suspeitos, Fagner da Paixão Santos, 26 anos; e Nuno Filipe Tinoco Alves, que não teve a idade revelada, foram detidos em apartamentos no bairro de Boa Viagem, na Zona Sul do Recife. Um suspeito identificado como Márcio Luiz Ferreira da Silva permanece foragido. Com os suspeitos, a polícia encontrou U$ 9.500 e R$ 900, além de uma série de produtos, como roupas, perfumes, maquiagem, celulares e notebooks.
"Essa organização criminosa adulterava máquinas de pagamento com cartões de crédito e sequestrava dados financeiros e bancários de vítimas pernambucanas e também hackeavam os sistemas das operadoras de cartões de crédito internacionais para copiar as informações de pessoas de vários países, como Alemanha e Coréia”, conta o delegado João Gustavo Godoy, titular da delegacia do Cordeiro e responsável pela investigação. “Começamos a correr atrás do grupo após denúncias de uma pizzaria no bairro do Cordeiro, que contou que os clientes estavam tendo os cartões clonados”.
Com os dados em mãos, os suspeitos viajavam para Miami, nos Estados Unidos, e fabricavam os cartões clonados. “Não temos um número exato de cartões clonados, mas sabemos que foram milhares”. A partir de então, parte do grupo realizava compras principalmente em Miami, Los Angeles e Orlando e os produtos eram vendidos no Brasil através de uma loja virtual chamada ‘Helo Imports’. Outros membros, segundo a polícia, faziam saques em caixas eletrônicos e cassinos em Las Vegas. “Eles, que vieram do bairro do Ibura, hoje moravam em Boa Viagem e passavam meses nos Estados Unidos, bebendo das melhores bebidas, andando de helicóptero, iate e frequentando as melhores festas”, comenta.
A polícia não soube afirmar o valor exato do golpe, mas informou que a organização teria movimentado milhões em dólares e reais. "O português Nuno Filipe Tinoco Alves, por exemplo, confessou em depoimento ter sacado U$ 100 mil em apenas cinco dias em Las Vegas. E informações de uma instituição financeira norte-americana deram conta de que, em seis meses em Las Vegas, os cinco suspeitos que fazem parte da organização e mais outros 30 brasileiros foram responsáveis por roubar mais U$ 2 milhões e 100 mil dólares, lesando pelo menos 149 instituições bancárias do mundo todo”, disse João Gustavo.
Na operação desta sexta, foram cumpridos quatro mandados de prisão, cinco de condução coercitiva e sete de busca e apreensão no Recife e em Jaboatão dos Guararapes. Na ocasião, foram apreendidos documentos, dinheiro, carros, um revólver e objetos comprados com os cartões de crédito clonados, além de um revólver de brinquedo. "Essas investigações serão aprofundados e continuaremos apurando se mais pessoas estão envolvidas”, conta. Os suspeitos vão responder pelos crimes de associação criminosa, estelionato, furto mediante fraude e falsidade ideológica, o que, segundo o delegado, soma mais de dez anos de prisão.