Um grito por Justiça. Após mais de um ano sem respostas para a morte trágica de uma menina de 2 anos e 4 meses, assassinada em 2016 em Garanhuns, no Agreste de Pernambuco, a família da garotinha organiza um protesto para o dia 16 deste mês, numa tentativa de pedir empenho às autoridades policiais para a resolução deste caso. Segundo a mãe, a criança tinha lesões em várias partes do corpo, um trauma no crânio e sofreu até abuso sexual. A principal suspeita de ser responsável pelo crime: uma tia que cuidava da menina, enquanto a mãe estudava. A família critica o trabalho da Polícia Civil e denuncia que o Ministério Público já rejeitou duas vezes o inquérito enviado pela Delegacia da cidade, solicitando mais informações dos investigadores.
Ísis Mariah Melo Salvador Meira morava com uma tia no bairro de Indiano. A mãe da menina, Dayane Salvador, de 27 anos, disse que pagava cerca de R$ 350 para que a esposa de seu irmão cuidasse de sua filha enquanto ela passava a semana morando em Caruaru, também no Agreste, para participar de um estágio supervisionado em enfermagem. O tio da menina trabalha como caminhoneiro e, segundo a família, passava a semana fora e tinha pouco contato com a criança.
No dia 25 de outubro de 2016, Dayane recebeu uma das piores notícias de sua vida. A filha havia dado entrada no Hospital Dom Moura, em Garanhuns, e, segundo os médicos de plantão, já não havia mais nada a se fazer. "Todos acreditamos na versão da tia da minha filha de que havia acontecido um acidente. Ela disse que o filho dela, um menino de 1 ano e 9 meses, tinha derrubado o ferro de passar na cabeça da Mariah. Ela diz isso até hoje e nós acreditávamos. Até que as perícias começaram a ser concluídas e a gente viu que, na verdade, minha filha havia sido assassinada", disse Dayane em entrevista ao JC Online.
Os laudos, segundo a mãe da menina, apontam que, além de um trauma na cabeça - que poderia ser explicado pelo suposto acidente com o ferro que teria sido causado pelo primo pequeno - Mariah havia sido estuprada cerca de dois dias antes de morrer. A cronologia entre o horário que a tia da menina afirma ter encontrado a sobrinha passando mal e a hora que, segundo a família, Mariah deu entrada no hospital também não são compatíveis.
"A tia da menina disse que o acidente aconteceu às 16h, mas que Mariah só começou a convulsionar à noite. Uma vizinha que ajudou a socorrer a minha filha calculou que, da hora que minha cunhada pediu socorro dizendo que a menina havia acabado de começar a passar mal, até a hora em que elas chegaram ao hospital, se passou apenas meia hora. A vizinha disse que, quando viu a menina, já achava que ela estava morta, e isso se confirma porque a médica constatou que, ao dar entrada no hospital, minha filha já estava morta há cerca de duas horas", conta a mãe.
Isís Mariah foi sepultada, um ano e quatro meses se passaram e, até agora, ninguém foi responsabilizado pela morte cruel da filha de Dayane. "A Polícia Civil está investigando errado. Tem muitas perguntas sem respostas. Já mandaram o inquérito duas vezes para o Ministério Público, mas o promotor sempre devolve pedindo mais diligências, mais depoimentos, porque o caso não está claro, a Polícia sempre entrega a história com brechas", reclama a mãe da vítima.
O advogado da família, Luiz Jardim, contratado para auxiliar na acusação, confirmou que, no último inquérito enviado ao Ministério Público de Pernambuco (MPPE) a delegada Graça Canuto, da delegacia de Garanhuns, fez o pedido de prisão da tia da menina. O MPPE, no entanto, devolveu o documento pedindo novas informações como a localização de ligações feitas pela suspeita no dia do crime, novos esclarecimentos sobre o laudo realizado pelo instituto de Medicina Legal (IML), além da reinquirição de familiares e da suspeita.
Pela lei brasileira, a tia da menina pode ser investigada pela Polícia Civil, mas só é processada e vira ré, se o ministério público receber o inquérito, concordar com o entendimento da autoridade policial e a Justiça acatar a denúncia feita pelo MP.
Perguntas como o horário exato em que a menina foi morta, por quem e quando ela foi estuprada e o que causou o ferimento encontrado na cabeça da criança, ainda rondam a cabeça da família. Ainda não se sabe também se mais alguém estava na casa da tia da menina, no dia em que Mariah foi assassinada. Segundo a mãe da menina, seu irmão, que se separou da suspeita depois da morte da sobrinha, estava trabalhando na cidade de Belo Jardim naquele dia.
A reportagem do JC Online entrou em contato com a Polícia Civil de Pernambuco para ter informações sobre as investigações do assassinado de Ísis Mariah desde o último dia 2 deste mês. Enviamos questões como "Por qual razão, depois de 1 ano e 4 meses, a Polícia Civil ainda não concluiu o inquérito?", "Quais diligências já foram feitas e quais faltam ser feitas?", "Houve falhas nas investigações?", "Por que a suspeita não está presa?" e "Quando a Polícia Civil vai enviar o inquérito novamente para o MPPE?", mas até este domingo (11), não obtivemos nenhuma resposta.
A reportagem também procurou a Assessoria de Imprensa do Ministério Público de Pernambuco para pedir uma entrevista ao promotor da 4ª Promotoria de Justiça Criminal de Garanhuns, Itapuan Vasconcelos, sobre as dúvidas que permanecem no MPPE sobre o caso, mas foi indormada que o profissional está de férias. Segundo a assessoria, o promotor de Justiça que acumulará as funções "prefere não se pronunciar sobre o caso, visto que os procedimentos instaurados e solicitações de novas diligências do caso foram realizadas pelo promotor titular que no momento, como informado, está de férias".
Agora, tudo o que Dayane quer é respostas. "É muito tempo sem saber o que aconteceu. Quero que a Polícia Civil trabalhe e encontre quem fez isso com Mariah e que a Justiça seja feita", afirmou. A concentração da caminhada em protesto contra a demora no fim das investigações está sendo marcada pela família para acontecer no dia 16 deste mês, a partir das 8h em frente ao fórum da cidade de Garanhuns.