Gildo da Silva Xavier, réu no caso Maria Alice Seabra, acusa a equipe da Polícia Civil, comandada pela delegada Gleide Ângelo, de ter alterado a cena em que se encontrava o corpo da vítima, sua enteada. Na manhã desta terça-feira (22), dia em que acontece o júri popular do caso, o homem ainda afirmou ter sido torturado e obrigado a prestar o depoimento em que confessa os crimes contra a jovem de 19 anos. "Eu estava com a polícia. Quando encontraram a menina, eles me levaram para o carro e voltaram para o local onde ela estava. Eles mexeram lá, em tudo...", relatou o réu.
No relato, que ele alega ter dado sob coação e foi gravado pela polícia, Gildo dava detalhes de como premeditou o crime na presença de dois delegados, incluindo Gleide Ângelo e mais uma escrivã. É neste depoimento que ele confessa o momento em que começou a sentir atração sexual pela menina e detalhes do crime.
O réu disse ainda que os peritos do Instituto de Medicina Legal não fizeram os exames de corpo delito da forma correta, já que sequer tiraram sua camisa para examiná-lo e ele usa isso como falha de investigação por parte dos agentes.
Numa nova versão dos fatos, contada em depoimento durante o julgamento desta terça-feira, Gildo disse que chamou Maria Alice para conversar, uma vez que a menina tinha saído de casa. Durante o encontro ele teria pedido para ela voltar ao lar e a situação acabou se tornando uma discussão. Maria Alice teria dado uma tapa em Gildo e ele revidou dando dois socos do rosto da garota.
Gildo Xavier relatou ainda que após os socos, a vítima teria batido a cabeça na fivela do cinto de segurança, o que teria causado um corte profundo. Segundo ele, essa hemorragia teria matado Maria Alice Seabra. Questionado sobre a jovem ter sido encontrando sem calça, ele justificou que usou a peça de roupa para estancar o sangramento.
O réu continuou dizendo que ficou desesperado ou perceber que a jovem tinha morrido e, apesar de pensar em levá-la para o Hospital Miguel Arraes, em Paulista, acabou ficando com medo e decidiu deixar o corpo da garota no canavial em Itapissuma, nas proximidades da BR-101 Norte.
"O pedido do Ministério Público vai ser certamente o de condenação em todos os crimes por ele praticados, que foram quatro. O crime de sequestro qualificado ara fins sexuais, o crime de estupro, de ocultação ao cadáver e o crime de homicídio quadruplamente qualificado", explicou o promotor de Justiça Alexandre Saraiva.
O promotor ainda explica que na época em que o crime foi julgado pela primeira vez, a ação não foi classificada como feminicídio, por isso não poderá enquadrada neste tipo de crime. "Não será possível o Ministério Público impugnar e nem o judiciário vai se quer apresentar esse quesito aos jurados. Nós ficamos presos ao que foi capitulado na sentença de pronúncia", contou. "Contudo, quero deixar claro que como ele cometeu o crime de homicídio quadruplamente qualificado, eu creio que isso não aumentaria a pena significativamente", acrescentou o promotor de Justiça.
Se condenado, Gildo Xavier, 36 anos, poderá pegar até 48 anos de detenção. Ele foi denunciado pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE) por quatro crimes: sequestro qualificado (para fins sexuais); estupro (com o agravante de ser padastro da vítima); homicídio quadruplamente qualificado (motivo torpe, tortura ou outro meio cruel, emprego de asfixia, sem chance de defesa) e ocultação de cadáver.
Em junho de 2015, Maria Alice Seabra, 19 anos, havia saído de casa após conflitos com o padrasto. Ela estava morando na casa da irmã mais velha, embora preferisse dizer a Gildo que estava passando um tempo com um tio.
Com a promessa de levá-la a uma entrevista de emprego, ele buscou a jovem em casa usando um carro alugado. No caminho do suposto compromisso, Gildo espancou, drogou, violentou e matou a enteada. O corpo da jovem foi encontrado cinco dias após o sequestro, num canavial em Itapissuma, na Região Metropolitana do Recife. Preso, Gildo confessou os crimes alegando um "desejo sexual" pela jovem como motivo do crime.
Perícias realizadas pelo Instituto Médico Legal (IML) comprovaram que a mão esquerda de Maria Alice Seabra foi decepada pelo padrasto com o auxílio de um instrumento contundente pesado, como um machado ou facão. Gildo nega ter sido autor da mutilação. A delegada Gleide Ângelo foi responsável pela investigação. O acusado aguarda julgamento no Presídio de Igarassu, também no Grande Recife.