Fã de Petrolina monta museu dedicado a Roberto Carlos

Adriano Thales Valdevino abre na cidade o Centro Cultural Emoções, com discos, objetos raros, fonogramas gravados no exterior, souvenires, documentos e revistas que contam a trajetória do Rei
Emanuel Andrade
Publicado em 02/01/2016 às 19:55
Foto: NE10


Que Petrolina é uma cidade eclética em relação à música, ninguém tem dúvidas, considerando também as influências do Estado vizinho Bahia. Mas se há fãs para todos os gêneros artísticos, quando se fala do Rei Roberto Carlos, ninguém supera Adriano Thales Valdevino, 44 anos, um dos maiores colecionadores de discos, objetos raros, fonogramas gravados no exterior, souvenires, documentos e revistas que contam a trajetória do ‘cabeça’ da Jovem Guarda. Até pouco tempo, todo seu acervo era guardado a sete chaves. Agora pode ser visto pelo público no Centro Cultural Emoções, aberto recentemente na Rua Castro Alves, centro da cidade sertaneja. 

Para surpresa do fã incondicional, ainda durante as obras aconteceu a visita de um assessor direto do artista junto com os integrantes da banda pop RC na Veia. O baterista e um dos vocalistas é Dudu Braga, filho de Roberto Carlos, que se emocionou.

A visita virou um evento do lado de fora, com direito a show pelo aniversário do rei, em abril. “Vieram conhecer o espaço e dar contribuições na organização do material. Foi um momento grandioso, com conversas e apresentação de músicas do Rei”, diz Adriano.

O acervo do colecionador é histórico e de uma contribuição imensurável à memória do artista. São várias vitrines expondo discos raros em vinil, CDs, fitas cassetes, filmes em VHS, DVD, revistas, pôsteres, entre outras peças que traduzem a história do menino de Cachoeiro do Itapemirim (ES).

Na ala principal do centro, uma das vitrines expõe fotos e documentos da infância e família. Nela estão cópias plastificadas da certidão de nascimento, comprovante do exame de admissão escolar, matrícula do conservatório de música... “Roberto começou fazendo piano, que era mais comum às mulheres na época, e depois estudou outros instrumentos”, comenta Adriano, que já mostrou parte de seu acervo no Globo Repórter. 

O visitante pode apreciar todo material distribuído de forma cronológica por décadas. Em duas delas, bem conservados, estão os discos em vinil mais raros feitos para o mercado estrangeiro, como títulos fora de catálogo e exclusivos para o Japão, Israel, Itália, França, EUA, Costa Rica e mais países latinos. Há um dos discos recolhidos no Brasil pelo regime militar. 

Há uma rica coleção de revistas raras e extintas com reportagens de capa sobre RC, a exemplo da Cruzeiro, Super Star, Contigo, Grande Hotel e Intervalo, que cobriu toda temporada da Jovem Guarda.

Na vitrine filmografia, o lado ator de Roberto Carlos junto com os amigos Erasmo e Wanderléia estão expostos em uma película original do cinema e nos VHSs dos filmes Ritmo de Aventura, Roberto e o Diamante Cor de Rosa e A 300 Km por Hora, todos dos anos 60 até 1971. “Os visitantes podem assistir na sala de imagem a algum filme. Dispomos de todos os especiais da TV Globo e outros programas do Brasil e exterior com a presença do cantor”, acrescenta o curador do espaço. Entre as raridades está um Roberto Carlos despojado e dançante no ritmo do samba e da bossa nova, em registro de um programa gravado na Itália.

De acordo com o curador, o centro já começou a receber caravanas de turistas que passam por Petrolina. A entrada custa um quilo de alimento não perecível, destinado a programas sociais da região, mas o voluntário pode doar uma cesta básica. A partir do próximo ano, para ajudar a manter os custos, acrescenta Adriano, a ideia é vender lembranças como camisas, botons, bonés, cartões postais, pen drives com seleção de músicas, entre outros produtos.

 

FANATISMO

Na infância, a paixão de Adriano por uma única música de Roberto Carlos acabou desenhando o fanatismo do garoto pela trajetória do Rei. Tudo começou no Recife depois da separação dos pais, quando ele ficou morando com a mãe e os irmãos. Era começo da década de 80, até que um dia a mãe ouvia um disco do cantor. A canção Meu Querido, Meu Velho, Meu Amigo impressionou o menino, então com 12 anos. Certo dia, com saudade do pai, que morava em Fortaleza, pegou o LP e ouviu incansavelmente a mesma faixa. “Ouvi tanto que o disco começou a enganchar. Aí eu usava o truque de colocar uma caixa de fósforo sobre o braço da antiga vitrola, para não pular”, conta.

Naquele mesmo ano, o pai esteve no Recife para lhe visitar e disse que queria dar um presente. Seria um brinquedo, mas o menino surpreendeu dizendo que queria ir a uma loja de discos da Avenida Conde da Boa Vista. Lá, pediu ao pai que comprasse um disco de Roberto. Acabou ganhando vários. 

Não parou mais e começou a mergulhar na obra do compositor. Nascia então um colecionador. “Lia constantemente o que saía, comprava mais discos, camisas, revistas e jornais que tinham reportagens. Era minha juventude, havia os relacionamentos, e aí sempre me espelhava nas canções românticas”, justifica. 

O colecionador já contabiliza 35 anos de garimpagem em sebos, lojas, bancas de revistas, com amigos, conhecidos e outros colecionadores.

E o primeiro encontrou com o ídolo? “Foi um show inesquecível em Campina Grande (PB), quando tive acesso ao palco e ao camarim, e fiz a primeira foto com ele”, lembra Adriano. 

Não parou mais. Assistiu a apresentações em várias cidades. Assim tornou-se amigo de músicos e assessores. Em uma dessas ocasiões, conseguiu provar ao Rei que ele havia gravado a canção Jesus Cristo em língua inglesa num compacto de 1971, lançado na Holanda. 

Roberto Carlos só acreditou quando teve uma cópia na mão dada por Adriano. Em 2012, o fã embarcou pela primeira vez no Cruzeiro. E foi no mar que recebeu o sinal de um empresário que o apoiou para abrir o Centro Cultural Emoções. “Meu ideal é compartilhar a trajetória de RC, que é a história da cultura e da música brasileira”, completa o fã.

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