As armadilhas do Dr. Google

Análise, feita este ano no Brasil, de 1.152 vídeos sobre doenças reprovou 95% deles por causa de informação errada
Veronica Almeida
Publicado em 09/06/2013 às 3:29
Análise, feita este ano no Brasil, de 1.152 vídeos sobre doenças reprovou 95% deles por causa de informação errada Foto: NE10


Na era da vida online e de infinitas amizades virtuais, muita gente anda se arriscando em busca de diagnóstico e tratamento indicados na web. As consultas ao Dr. Google podem vir acompanhadas de efeitos adversos, que vão desde uma dor de cabeça causada por preocupação exagerada a um agravamento da doença deixada de lado ou tratada erradamente por confiança absoluta no palpite informal. Uma análise de 1.152 vídeos sobre hipertensão, arritmias e insuficiência cardíaca postados na internet, feita este ano no Brasil, reprovou 95% deles por causa de informações erradas. Por isso, médicos alertam: só pesquise em sites de instituições confiáveis, como o Ministério da Saúde e de sociedades médicas. Se quiser algo mais, peça sugestão ao profissional que cuida de você.

“Estudando tecnologia e informação médica, acatamos sugestão de um cardiologista e ficamos surpresos com a avaliação dos vídeos disponíveis no YouTube”, conta Nathália Monerat. O trabalho dela, do colega Walter Nóbrega Júnior e dos médicos Camila Leijoto e Jader Azevedo, do Centro Universitário de Volta Redonda, foi destaque em congresso de cardiologia no Rio de Janeiro.

Em Pernambuco, médicos que cresceram na profissão ao mesmo tempo em que a rede mundial se estabeleceu já encontraram uma forma de conviver e concorrer com a web. Uns participam de grupos de discussão com os doentes pelas redes sociais, outros criam blogs ou ao menos se oferecem para pesquisar e indicar o site mais confiável para o perfil de informação que o internauta deseja.

Digo aos meus pacientes que o médico faz a diferença na hora de individualizar as opções terapêuticas disponíveis para aquele caso em particular”, afirma o hepatologista Fábio Marinho, do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco e do Real Hospital Português. Ele acredita que a internet deu um freio no poder médico e ajudou a aprimorar a relação. “O paciente pesquisa na internet e deve esclarecer as dúvidas com seu médico.” No consultório, ele está sempre com a internet funcionando, e quando sai, usa o smartfone. “Respondo dez a 15 e-mails por dia.” Aos doentes, indica sites de sociedades médicas e de organizações de pacientes, como o do grupo Otimismo, sobre hepatites virais.

O paciente pesquisa na internet e deve esclarecer as dúvidas com seu médico

hepatologista Fábio Marinho, do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco e do Real Hospital Português

O professor da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Pernambuco e infectologista do Hospital Universitário Oswaldo Cruz Vicente Vaz também faz uma avaliação equilibrada: “Tem muita baboseira, mas tem muita coisa boa”. Ele geralmente pede um tempinho ao doente para indicar algo mais específico na web.

Assinante de sites internacionais, que o ajudam na atualização diária sobre doenças, Vaz encontrou benefícios. Consulta o Uptodate, hoje oferecido no Portal da Saúde para médicos de todo o País, o da Organização Mundial de Saúde e o do Centro Americano de Controle de Doenças (CDC), que considera fundamentais para infectologistas.

Consultar a fonte certa faz diferença. A universitária Rosana Souza, que não é da área de saúde, mas lê sobre o tema, diz que foi salva pela internet: “Fiz um exame de mamografia e achei estranho o resultado, mandando prosseguir a investigação diagnóstica. Como não consegui marcar a volta com a ginecologista, que viajava, procurei um especialista em mamas quando descobri na internet que o resultado do exame era suspeita de câncer. O mastologista confirmou e fizemos a cirurgia logo em seguida.”

Assinante de sites internacionais, que o ajudam na atualização diária sobre doenças, o professor da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Pernambuco e infectologista do Hospital Universitário Oswaldo Cruz Vicente Vaz encontrou benefícios

Mas nem sempre é assim. “Passei uma semana sem dormir pensando que estava com doença grave no coração porque andava tonto, só porque alguém me disse isso numa rede social”, conta Juarez da Silva.

O estudante do 8º período de medicina da UPE Elton Pedrosa faz uma síntese perfeita da funcionalidade da rede de computadores: “As informações estão na internet a título de orientação, mas infelizmente são mal utilizadas e isso vem gerando mais problemas de saúde. Como a rede não possui filtro, barrando o que está errado, só um profissional capacitado pode esclarecer e informar de maneira coerente”.

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